Osmar Júnior

Oh rio, nada mais tenho pra cantar


Agora vai aparecer um monte de gente chorando sobre o leite derramado. Os rios Araguari e o Piratuba perderam suas forças; suas rotas migratórias de peixes, sua água doce e propriedades fantásticas como a pororoca. Nada mais a música pode avisar, nada mais tenho pra cantar sobre esses santuários profanados.

Todo esse prejuízo passou sob os narizes empinados de nossos pobres políticos que podiam exigir do governo federal, pelo ao menos mais cuidados técnicos, mais eficiência no trato com o meio ambiente e mais benefícios para a população do Amapá.

O estado do Pará caiu nas mesmas historinhas de impacto ambiental, e agora suas populações tradicionais sofrem. Aqui, os técnicos deram um parecer a favor desses projetos que serão energia para o país, ao qual parece que não pertencemos. Sempre cantei isso também.

Os fazendeiros não querem pagar pela cerca que pode salvar o Piratuba, para o gado já descontrolado, não arrasar com tudo. Sejamos francos: o governo federal e essas empresas poderiam resolver essa sacanagem que fizeram com a gente, como forma de aliviar nossas dores. E que seja a última. Tenho falado aos povos indígenas que vamos precisar pegar em armas se quiserem um dia exterminar nossos rios e reservas. O Araguari é o Cristo, e que não venha acontecer com outros rios, como o Calçoene, por exemplo. Precisamos crescer sim, mais com inteligência.

Pra mim, o Amapá sempre foi roubado, injustiçado, e projetado para o Brasil com os mais ridículos resultados de pesquisas e imagens, como se o pais não tivesse seus podres. Existe uma conspiração voluntária ou involuntária que quer manter o povo dependente de currais políticos. O que vamos fazer com nossos filhos depois que saírem das faculdades? Empregá-los no estado ou município? Como podemos ter tanta esperança através de nossas canções, que acreditam em um estado a partir do turismo ecológico e da cultura para viver bem, para ser mais bonito?

O maior dos emblemas de nossa incompetência politica é o que acontece com o rio Amazonas, que é agredido por nossos dejetos o tempo todo. Salvem o grande rio! Essa é nossa maior responsabilidade com água e com nós mesmos, pois a natureza é o espirito de Deus.

Peço ao povo que nasceu aqui, e ao povo que abraçou o Amapá como terra sua e de seus filhos: pelo amor de Deus, não deixem que nos vendam, que nos destruam, pois nada mais tenho pra cantar.

Bom domingo