Pe. Claudio Pighin

Bendirei o senhor em todo tempo!


A experiência da vida humana nos leva a refletir bastante sobre a precariedade e instabilidade da nossa vida nesse pequeno planeta. Somos, ao final, pobres. Não somos os donos da nossa vida, por quanto possamos nos desdobrar e nos comprometer com ela. Toda a labuta cotidiana nos revela a nossa finitude. A limitação da nossa vida nos leva a nos questionar com toda a nossa profundidade e seriedade: quem nos pode ajudar a superar essa limitada vida humana? De onde pode nos vir uma esperança que supere essa nossa caducidade, contrariedades? Essa vida, que acreditamos nela, não pode se limitar a fugacidade, aos nossos sofrimentos, dores e angústias. Não pode se reduzir a um simples tempo cronológico que é determinado pela morte. O salmo 33 das Sagradas Escrituras pode nos iluminar a respeito. Leia atentamente:

“Quando simulou alienação na presença de Abimelec e, despedido por ele, partiu. Bendirei continuamente ao Senhor, seu louvor não deixará meus lábios. Glorie-se a minha alma no Senhor; ouçam-me os humildes, e se alegrem. Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o seu nome. Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores. Olhai para ele a fim de vos alegrardes, e não se cobrir de vergonha o vosso rosto. Vede, este miserável clamou e o Senhor o ouviu, de todas as angústias o livrou. O anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem, e os salva. Provai e vede como o Senhor é bom, feliz o homem que se refugia junto dele. Reverenciai o Senhor, vós, seus fiéis, porque nada falta àqueles que o temem. Os poderosos empobrecem e passam fome, mas aos que buscam o Senhor nada lhes falta. Vinde, meus filhos, ouvi-me: eu vos ensinarei o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida, e deseja longos dias para gozar de felicidade? Guarda tua língua do mal, e teus lábios das palavras enganosas. Aparta-te do mal e faze o bem, busca a paz e vai ao seu encalço. Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores. O Senhor volta a sua face irritada contra os que fazem o mal, para apagar da terra a lembrança deles. Apenas clamaram os justos, o Senhor os atendeu e os livrou de todas as suas angústias. O Senhor está perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido. São numerosas as tribulações do justo, mas de todas o livra o Senhor. Ele protege cada um de seus ossos, nem um só deles será quebrado. A malícia do ímpio o leva à morte, e os que odeiam o justo serão castigados. O Senhor livra a alma de seus servos; não será punido quem a ele se acolhe.”

A narração do salmo sobre a experiência próxima de Deus é vivida por aqueles que temem a Deus. Esses que temem a Deus confiam totalmente a Ele, colocam a própria vida nas mãos de Deus, sem precisar buscar estratégias de violências ou de astúcias. Efetivamente, o anjo do Senhor, biblicamente, quer dizer a presença de Deus mesmo, acampa ao redor do seu fiel e o salva. Porém, a parte mais forte da confissão do autor desse salmo encontra-se nessas palavras resumidas: “Este pobre grita e o Senhor o escuta”. Essa confiança permite-lhe de encarar a vida de maneira esperançosa e corajosa.

E o justo aqui é representado como uma cidade que está por ser atacada por um exército poderoso. Porém, Deus envia em sua ajuda uma milícia celeste que garante a sua segurança, a sua proteção. Essa ajuda de Deus, diz o salmo que “Os poderosos empobrecem e passam fome, mas aos que buscam o Senhor nada lhes falta”. Perante a ação de Deus, o mal não consegue prevalecer, é derrotado. A ação de Deus na vida do ‘justo’ é um triunfo, garantia de defesa de todos os ataques dos inimigos. Livra-o de toda angústia. A justiça divina está acima de qualquer projeto humano ou estratégias humanas de poder.

A segunda parte do salmo é exaltação da sabedoria. É um pai que recomenda ao filho uma aula de vida com valores universais: “Vinde, meus filhos, ouvi-me: eu vos ensinarei o temor do Senhor”. O temor bíblico aqui tem uma série de sentimentos, inclusive o amor. Interessante o apelo que segue: ‘buscar a paz e persegui-la’. Este é o desejo fundamental de Deus e que faz parte da sua natureza. O Senhor tem ternura para as pessoas da paz. Perante a violência iníqua dos poderosos, Deus intervém e se torna próximo e salva os humilhados e os que temem o Senhor.
E concluindo o papa Francisco afirmou: “Muitas vezes, o Senhor deve fazer o mesmo conosco, através das provações, muitas provações. Ele obriga aquele coração, aquela alma a crer que existe gratuidade nele, que o seu dom é grátis, que a salvação não se compra: é um grande presente. Com efeito, o amor de Deus é ‘o maior dom’”.