Pe. Claudio Pighin

O mal será derrotado


Quantos desesperos e gritos de dor se elevam todos os dias na vida das pessoas! O mal circunda o ser humano e o deixa ainda mais fragilizado na sua existência. Por que a maldade domina a vida? O salmo 38, das Sagradas Escrituras, fala-nos a respeito:

“Disse comigo mesmo: Velarei sobre os meus atos, para não mais pecar com a língua. Porei um freio em meus lábios, enquanto o ímpio estiver diante de mim. Fiquei mudo, mas sem resultado, porque minha dor recrudesceu.Meu coração se abrasava dentro de mim, meu pensamento se acendia como um fogo, então eu me pus a falar: Fazei-me conhecer, Senhor, o meu fim, e o número de meus dias, para que eu veja como sou efêmero.A largura da mão: eis a medida de meus dias, diante de vós minha vida é como um nada; todo homem não é mais que um sopro. De fato, o homem passa como uma sombra, é em vão que ele se agita; amontoa, sem saber quem recolherá.E agora, Senhor, que posso esperar? Minha confiança está em vós. Livrai-me de todas as faltas, não me abandoneis ao riso dos insensatos.Calei-me, já não abro a boca, porque sois vós que operais. Afastai de mim esse flagelo, pois sucumbo ao rigor de vossa mão.Quando punis o homem, fazendo-lhe sentir a sua culpa, consumis, como o faria a traça, o que ele tem de mais caro. Verdadeiramente, apenas um sopro é o homem. Ouvi, Senhor, a minha oração, escutai os meus clamores, não fiqueis insensível às minhas lágrimas. Diante de vós não sou mais que um viajor, um peregrino, como foram os meus pais.Afastai de mim a vossa ira para que eu tome alento, antes que me vá para não mais voltar.”

Surge inevitável a questão de querermos compreender de onde vem todo o mal, sofrimento e dor que fazem parte da vida da humanidade. Se tudo o que Deus fez é bom, como então? Para isso, remontamos à Bíblia. Seus vários livros se preocupam com o mal. Neles se encontra uma multiplicidade de imagens para falar do tema. Não se encontra neles uma resposta simples, racional, mas uma resposta de fé. Razão e fé (confiança) estão presentes nesse salmo. Por isso a Bíblia é diferente de outros livros. E esse salmo nos ajuda a fazer essa profissão de fé.

Deus não criou o mal. Ele se preocupa em libertar os seres humanos do mal. Para combater o mal, é preciso confiar em Deus. Resgatar nossa ligação direta com Deus, pela qual fomos criados, e que desfrutávamos no Jardim do Éden. Lembremos o prólogo do Evangelho de João, que nos chama filhas e filhos de Deus, para acentuar nossa dependência a Deus. E a dependência a Deus, a confiança em Deus, é uma liberdade total, para os seres humanos, pois também significa sua liberdade perante os esquemas do mundo, com sua lógica limitada, opressora, que reproduz muitas vezes o mal, que afasta Deus. Significa viver mirando as “coisas do alto”, o que tem consequências muito profundas em nosso mundo, em nosso modo de viver e conviver com os demais filhos e filhas.

Nós, seres humanos, não somos geradores do mal, mas aderimos a ele. Porém, procuramos dar uma razão a toda essa desgraça que vivemos no dia a dia, no mundo todo, com violências, guerras, fomes, injustiças, desigualdades brutais. Muitos se fazem a pergunta ou justificam sua falta de fé assim: por que Deus permite tudo isso? Quem tem de responder a essa questão somos nós. O problema não é Deus. Ele não criou o mal!

A Bíblia trata do problema do mal. Tenta compreender a relação entre Deus e o mal. Qual é a ligação entre Deus e o mal? A fonte do conhecimento é conhecer Deus. Já na origem, havia a preocupação sobre o mal. O ser humano, por si só não era capaz. Ele se apega a Javé, que vai lhe explicar, como nos mostra o fiel desse salmo. Deus é o ator principal. Não é a humanidade. A fonte do conhecimento é, portanto, Deus. Se não queremos fazer a experiência de Deus, ficamos com nossos conhecimentos limitados, pois restritos ao conhecimento da criatura.

Sabemos que os seres humanos são vítimas do mal e, também, aderem ao mal. Mas, temos a certeza de que Deus reverte essa situação. Na medida em que nos deixamos conduzir por Deus, conseguimos vencer o mal. Deus respeita sua criatura, seu livre arbítrio, mas não a abandona. Então, a realidade que o profeta Isaías descreve é a que vai triunfar.

Onde há intimidade com Deus, tudo é possível, o mal não prolifera. Temos uma relação com a terra que, de hostil e penosa, torna-se na nova criação, uma relação de reconciliação: “… serão plantadas vinhas cujos frutos comerão” (Is 65, 21). O trabalho se torna resposta à graça de Deus e instrumento para uma vida feliz: “não trabalharão mais em vão, não darão mais à luz filhos voltados a uma morte repentina” (Is 65, 23). Quantas promessas! Que destino de plenitude nos é reservado na aposta no nosso Deus! E o último mal a ser derrotado é a morte.