Dom Pedro Conti

Para aonde foi a estrela?


Sabemos que a página do evangelho de Mateus é muito mais do que a reportagem de um acontecimento. É um verdadeiro anúncio de fé, porque o Menino que nasceu veio ao encontro da humanidade toda. Quando Deus, no Filho, assumiu a natureza humana tornou-se irmão de todos. A criação toda também foi “visitada” e a certeza de uma vida nova, liberta do mal e da morte, é oferecida a todos e vale para sempre. Essa esperança brota no coração de todas as pessoas de boa vontade, de todos aqueles e aquelas que não se conformam com a violência, a injustiça, a indiferença e a exclusão. No entanto, reler a página do evangelho dos magos sempre dá asas para a nossa imaginaç&ati lde;o.
Conta uma história que, depois que partiram de Belém, os Magos voltaram para as suas casas. Não viram mais a estrela. Ficaram tristes e se perguntaram: “Para aonde foi a estrela? Era tão bonita, grande, luminosa!”.  Continuaram andando. Já estavam cansados quando chegaram a uma encruzilhada sem saber com certeza por aonde ir. Estava ali um jovem pastor que logo se prontificou na explicação do caminho e lhes ofereceu, generosamente, pão e queijo do leite das suas ovelhas. Antes de deixá-lo, os Magos viram que na fronte dele tinha aparecido uma luz inconfundível. Seguiram a viagem. Depois de algum tempo, chegaram a um vilarejo. Viram uma mãe que cuidava com ternura e carinho do seu filhinho recém-nascido. Sorria fel iz para ele. Também viram na fronte dela a mesma luz. Estavam começando a entender. Mais na frente, encontraram um tropeiro do deserto que estava com a carga toda esparramada no chão, porque um dos seus dromedários tinha tropeçado e caído. Um homem que passava por lá começou a ajudá-lo a recompor a carga. Na fronte dele apareceu, também, uma luz. Os Magos não tiveram mais dúvidas. Um deles disse aos outros:
– Agora sabemos para aonde a estrela foi. Ela explodiu e os seus fragmentos se espalharam por onde existem corações bons e generosos!
Outro Mago falou:
– A nossa estrela continua a indicar o caminho de Belém e leva a todos a mensagem do Menino Jesus: o que vale mesmo é o amor!
O terceiro Mago também concluiu:
– Todos os gestos concretos de amor e compaixão iluminam a vida das pessoas. É assim que a estrela continua a brilhar!
Todos ficaram muito alegres e viram que na fronte de cada um que estava na caravana também resplandecia aquela luz. Bateram palmas de felicidade!  Com o domingo da Epifania, concluímos o tempo do Natal. Muitas luzes serão apagadas. O importante é que não se apaguem os bons sentimentos e propósitos que esses dias nos trouxeram. Não podemos ter dúvidas e nem incertezas. As nossas famílias pedem mais carinho, dedicação, diálogo, paciência. Os nossos colegas de trabalho pedem para sermos amigos visíveis todos os dias, assim como eles e elas o são: alguns dias simpáticos, outros dias nem tanto. Nós igualmente. Nem por isso devemos desistir da fraternidade e do companheirismo. E os pobres, os desempregados, os migrantes? Eles não vão desaparecer com o novo ano…Todo dia podemos cumprir ge stos de solidariedade, de escuta, de acolhida. Tantos irmãos e irmãs – nós também – precisam de algo mais que o dinheiro para sobreviver. Todos queremos saber se podemos servir para alguma coisa ou se estamos sobrando nesta sociedade do consumo, da idolatria do dinheiro, da privatização do bem-estar.  A inutilidade, ser esquecidos, é triste para todos.
Grande é a responsabilidade de nós cristãos que nos dizemos seguidores de Jesus. Cabe a nós continuar a iluminar o mundo com a luz da estrela de Belém. Somos pequenas luzes, alguns mesmo “mechas fumegantes”, mas o Natal deve nos ter animado, deve ter renovado a nossa esperança. Se Deus, no seu amor infinito, não desistiu da humanidade, ao ponto de tornar-se um de nós, nós também não podemos desistir de acreditar que podemos ser melhores porque a luz do bem nunca se apaga. Brilhará conosco, se fizermos o bem.