Cidades

Jornalista selecionado pelo Itaú Cultural lança revista/catálogo de Mazagão Velho

O calendário cultural e religioso de Mazagão Velho, cidade “transplantada” do continente africano para a Amazônia, no Amapá, é retratada em revista-catálogo


Gabriel Penha. Jornalista registra as manifestações religiosas de Mazagão Velho.

Contemplado pelo Rumos Itaú Cultural (2015-2016) e de autoria do jornalista Gabriel Penha, aborda, por meio de fotos e textos curtos, a fundação e herança culturais da Vila de Mazagão Velho – localizada no município de Mazagão, no Amapá – que abastece um intenso calendário de festas tradicionais, como a de São Tiago, Divino Espírito Santo e o Cordão das Pastorinhas; o projeto ainda conta, em uma outra fase, com exposição e mini palestras em escolas do Estado.

O calendário cultural e religioso de Mazagão Velho, cidade “transplantada” do continente africano para a Amazônia, no Amapá, é retratado em revista-catálogo a ser lançada na segunda-feira (23), dentro do projeto Povo de Cultura e Fé, do jornalista Gabriel Penha, contemplado pelo Rumos Itaú Cultural (2015-2016). O lançamento é realizado durante a festa de comemoração dos 247 anos da vila de Mazagão Velho, em frente ao Mausoléu. Em seguida, o público é convidado a participar de uma conversa com Penha sobre os desdobramentos do projeto, no Barraco de São Tiago.

Segundo o jornalista, fazer o lançamento da revista-catálogo no aniversário do próprio local, cuja cultura é ali retratada, é uma forma de dar uma resposta à comunidade. “Os moradores sempre reclamaram que muitos iam até à vila, faziam fotos, vídeos e entrevistas, mas nunca trouxeram o resultado disso. O projeto já vai começar justamente com essa resposta a quem, de fato, faz a cultura do lugar. ”

De forma concisa e didática, por meio de fotografias e textos curtos, Povo de Cultura e Fé retrata a identidade e o patrimônio cultural mazaganense, preservado há séculos. Na revista e na exposição itinerante – que faz parte da segunda fase do projeto e inicia em março, passando por cinco municípios do Estado – o público encontra fotos que mostram festas como a de São Tiago, São Gonçalo e do Divino Espírito Santo, Iluminação de Finados e o auto de Natal Cordão das Pastorinhas.

Junto à exposição, Gabriel Penha ministra, em cada cidade, mini palestras para estudantes dos ensinos fundamental e médio de escolas públicas e particulares, pois, de acordo com ele, grande parte da juventude desconhece as tradições da própria terra. O plano é levar o trabalho para Vitória e Laranjal do Jari, Oiapoque, Santana e Macapá.

Uma cidade transplantada do Marrocos

Um 23 de janeiro de 1770, o rei de Portugal, Dom José I, fundou a vila de Nova Mazagão, hoje Mazagão Velho, no estado do Amapá. A imigração se deu por conta da guerra entre mouros e cristãos, durante a implantação do cristianismo português no continente africano. Cerca de 160 famílias – aproximadamente 1022 pessoas, entre brancos e escravos negros – vieram do Marrocos, em uma longa jornada de barco até chegarem às margens do rio Mutuacá, na região sul do Amapá, depois de uma breve passagem por Belém (PA). Foi a desativação de uma colônia portuguesa e a sua transferida para a Amazônia brasileira.

Com eles, os primeiros colonizadores trouxeram, do outro lado do Oceano Atlântico, uma herança cultural e religiosa muito forte. Ainda hoje, Mazagão apresenta um extenso calendário anual de festas religiosas, culturais e tradicionais, algumas preservadas desde a época de sua fundação.

A mais conhecida, a Festa de São Tiago, mistura sincretismo religioso, teatro e cavalhada e acontece anualmente em julho, desde 1777. Já o aniversário da vila é regado por Marabaixo, Batuque e Sairé – ritmos musicais preservados por gerações. Em agosto, a Festa do Divino Espírito Santo celebra o culto ao Espírito Santo, fazendo alusão à Princesa Isabel, no momento em que uma menina da comunidade é coroada, para simbolizar a soberana signatária da Lei Áurea e sua Corte.

Um outro exemplo de manifestação é o auto de Natal Cordão das Pastorinhas, que retrata o nascimento de Jesus Cristo. Peça agraciada com o Prêmio Culturas Populares 2009, do Ministério da Cultura (MinC), tem como atores os próprios moradores.“Difundir essas tradições, entre muitas outras, que mesmo tão antigas, são paradoxalmente pouco conhecidas dentro e fora do Estado, é o que pretendemos”, afirma.

Edital incentiva produção e difusão de trabalhos culturais

O Itaú Cultural mantém o programa Rumos desde 1997. Este que é um dos primeiros editais públicos do Brasil para a produção e a difusão de trabalhos de artistas, produtores e pesquisadores brasileiros, já ultrapassou os 52 mil projetos inscritos vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,3 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.

Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 6 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.

Na última edição (2015-2016), as propostas inscritas foram examinadas, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 30 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país.

Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 22 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição.

 

 


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