Nilson Montoril

Referências ao rio Aporema


Quando estive no rio Aporema, pela primeira vez, há cerca de 55 ano,seu ainda integrava o movimento escoteiro. Sob o comando do chefe Humberto Santos, um grupo de discípulos de Baden Powell foi participar de um acampamento na propriedade do senhor Lauro Lobo, membro de uma tradicional família da região do Lago Duas Bocas. Alojamos-nos sob o assoalho da residência do nosso anfitrião, que era bem elevado devido à água que o inverno fazia jorrar na região formando um grande lago. Como estávamos no período da estiagem o aguaceiro do inverno havia escoado e apenas o rio retinha o precioso liquido. O Seu Lauro era um figuraço. Contador de causos fantásticos deixava os mais novos bem temerosos quando a noite caia. Somente agora retornei à região cortada pelo rio Aporema, ali ficando entre os dias 19 e 22 de abril, na fazendola do compadre Raimundo Magalhães, instalada na Vila do Bonito, que os populares chamam Vila dos Crentes, onde há uma igreja evangélica, escola e as casas dos moradores. Neste período do ano as chuvas são fortes e freqüentes.

As margens do rio estão cobertas pela água pluvial e, em determinados pontos, a profundidade passa de dois metros. Há outras residências na margem direita do Aporema e sobre os tesos ou ilhas, onde o aguaceiro não prontifica. Percorremos cerca de 210 km, partindo de Macapá, até alcançarmos a entrada do ramal de 38 km, que dá acesso ao Distrito de São Benedito. A partir desta vila a viagem ocorreu a bordo da voadeira do Magalhães. Fiquei fascinado com a paisagem. Na margem esquerda do Aporema foi fincada uma cerca de arame, que delimita uma área permanente de proteção ambiental. As vilas do Bonito e de São Benedito, juntamente com Floresta, Fazenda Modelo, Livramento, Meraúba, Nazaré, Conceição, Assentamento São Benedito, Campina Grande, Santa Maria do Lago Duas Bocas, Tabaco, Las Palmas, Santa Rosa do Araguary, Guanabara do Araguary, Mangueira, Tartarugal Grande, Assentamento do Mutum, Limão, Terra Firme (Uapezal), Ponta do Socorro, Vareiro, Lago Novo e Andiroba fazem parte do Distrito do Aporema e integram o Município de Tartarugalzinho, criado no dia 17 de dezembro de 1987.

O rio Aporema nasce na colina das Colônias, correndo em direção NO-SE e depois SE-NO, estendendo-se por 75 km até atingir o rio Araguari, do qual é tributário. O nome do importante caudal deriva do vocábulo indígena “apo”, que é designativo de raiz e “rema”, que quer dizer fedorenta. É provável, que os índios conheceram alguma árvore ou planta aquática cuja raiz fosse fedida. Algumas pessoas usam o termo apurema, mas isso não é correto. O inicio da criação de gado no distrito de Aporema data de 1847, quando Procópio Rôla e Lira Lobato introduziram as primeiras rezes bovinas. Isso ocorreu após a instalação da “Colônia Militar Dom Pedro II” e sua ocupação por soldados, colonos, índios e negros. O contingente armado passou a impedir que os franceses penetrassem em território paraense e dele retirassem produtos de valor comercial. Por volta de 1946, mesmo havendo uma criação de gado ao Deus-dará, um inventário de rebanhos do Território Federal do Amapá indicou que existiam 49.974 rezes na nova unidade federada, Macapá revelou a existência de 26.815 cabeças de gado; Amapá com 22.254 e Mazagão com 903 animais.

O maior produtor de gado bubalino no Amapá é Cutias do Araguary. Dados divulgados pelo Ministério da Pecuária e Agricultura revelam que o Brasil possui 1,15 milhões de búfalos e 150 milhões de cabeças de gado bovino. Dentro de 30 anos, o rebanho bubalino deve elevar-se a 50 milhões de rezes. No Norte do Brasil, o Estado do Pará desponta com 720 mil búfalos, dos quais, 461.275 estão no Marajó. No Nordeste são 135 mil rezes e no Sudeste 104 mil, O restante está espalhado por outras regiões. Além do Marajó, que beira o Atlântico (Soure e Salvaterra), merecem destaque Chaves e Cutias do Araguary. Ainda preso à Região Norte, revelamos que, em termos percentuais, o Pará tem 38% do rebanho bubalino; Amapá 18; Maranhão 6,5%. Na região dos lagos, Amapá, a criação poderia ser mais expressiva,mas ela exige investimentos elevados, entre eles a plantação de capim e assistência veterinária, coisa que poucos pecuaristas levam em conta.