Pe. Claudio Pighin

Não de se deixem iludir


As vezes, as pessoas são tão atraídas pelos bens materiais que não conseguem enxergar mais nada além disso. Então, a pessoa constrói toda a sua trajetória de vida pensando e agindo exclusivamente concentrado nos seus bens materiais. No dinheiro! A vida para alguns é impulsionada pelo poder de ‘ter’ cada vez mais. A sua maneira de raciocinar e enxergar a realidade é somente isso. A sua felicidade é só isso. Conforme a conta que possui no banco é medida a sua alegria. A riqueza manda no ser humano. A inteligência é escrava dos bens materiais. Mas isto não acontece somente com as pessoas em si, mas também com os governos. Parece-me que os governos sejam mais servidores do dinheiro que dos povos. O salmo 48 das Sagradas Escrituras nos ajuda a discernir os verdadeiros valores da vida que nos permitem acessar à verdadeira alegria. E, assim, ele nos convida a discernir:

“Escutai, povos todos; atendei, todos vós que habitais a terra, humildes e poderosos, tanto ricos como pobres.

Dirão os meus lábios palavras de sabedoria, e o meu coração meditará pensamentos profundos.

Ouvirei, atento, as sentenças inspiradas por Deus; depois, ao som da lira, explicarei meu oráculo.

Por que ter medo nos dias de infortúnio, quando me cerca a malícia dos meus inimigos?

Eles confiam em seus bens, e se vangloriam das grandes riquezas.

Mas nenhum homem a si mesmo pode salvar-se, nem pagar a Deus o seu resgate.

Caríssimo é o preço da sua alma, jamais conseguirá prolongar indefinidamente a vida e escapar da morte,porque ele verá morrer o sábio, assim como o néscio e o insensato, deixando a outrem os seus bens.

O túmulo será sua eterna morada, sua perpétua habitação, ainda que tenha dado a regiões inteiras o seu nome, pois não permanecerá o homem que vive na opulência: ele é semelhante ao gado que se abate.

Este é o destino dos que estultamente em si confiam, tal é o fim dos que só vivem em delícias.

Como um rebanho serão postos no lugar dos mortos; a morte é seu pastor e os justos dominarão sobre eles. Depressa desaparecerão suas figuras, a região dos mortos será sua morada.

Deus, porém, livrará minha alma da habitação dos mortos, tomando-me consigo.

Não temas quando alguém se torna rico, quando aumenta o luxo de sua casa.

Em morrendo, nada levará consigo, nem sua fortuna descerá com ele aos infernos.

Ainda que em vida a si se felicitasse: Hão de te aplaudir pelos bens que granjeaste.

Ele irá para a companhia de seus pais, que nunca mais verão a luz.

O homem que vive na opulência e não reflete é semelhante ao gado que se abate.”

O salmo nos mostra uma meditação sábia dos verdadeiros valores da vida. A vida está na nossa frente, mas precisa discerni-la, fazer opções, escolhas para compreendê-la e vivê-la. Aquela da riqueza de fato é uma ilusão, porque não ajuda a viver o sentido da vida e o seu destino final. É como um animal que se deixa levar pelos instintos e não consegue mais enxergar nada. É um hino sobre a riqueza e a morte introduzido por um solene prelúdio sapiencial. Na primeira parte é a descrição do rico que busca comprar a morte, tentando corrompê-la com a sua grande riqueza. Ele, o rico, não tem poder de resgatar, comprar a vida: “pagar a Deus o seu resgate … jamais conseguirá prolongar indefinidamente a vida e escapar da morte.”

O tolo, cego pela sua riqueza, é demais convencido de pagar um ‘seguro extraordinário de vida’ que lhe garante combater a morte, afasta-la da sua vida. Mas, por qualquer quantia, até a mais infinita possível, não pode evitar essa realidade que todo mundo tem que enfrentar. Lembra-se de quando Jesus falou “Não há nada que poderá pagar para ter de volta essa vida” (Mt 16,26). Com isso, confirma-se que o ser humano não é dono de nada. Infelizmente, assistimos essa idolatria econômica que toma conta da nossa sociedade como um todo, criando um profundo vazio humanitário. Em seguida, o salmo insiste nessa morte que ninguém pode se opor; os ricos são representados como um rebanho que tem por pastor a morte, e os ínferos hebraicos, Sheol, os acolherá.

Os justos, no entanto, pobres humilhados da história, chegam de mãos vazias à fronteiras da morte. Eles não têm nada para dar como ‘resgate’ pela morte deles. Mas aqui está a grande verdade: Deus mesmo paga o resgate da morte porque é Ele o único que tem poder sobre ela. Assim sendo, não se preocupe se vê alguém enriquecer, ter mais que você porque nada pode fazer com essa sua riqueza; ela chega a um fim e não é garantia de domínio. Importante é enriquecer e abastecer no ‘banco de Deus’.