Preso do Iapen extorquiu mais de 400 mulheres com ‘nudes’ no Amapá, diz polícia

Reportagem e fotos: Jair Zemberg

Texto: Elden Carlos

A Delegacia Especializada em Crimes Contra o Patrimônio (DECCP), com apoio da Divisão de Capturas, deflagrou na manhã desta sexta-feira (24) a ‘Operação Servus’, para desarticular uma quadrilha especializada em aplicar golpes pela internet. Os alvos preferidos da quadrilha eram mulheres casadas [em sua maioria], bem relacionadas na sociedade amapaense e em outros estados e com poder aquisitivo abastado.

A quadrilha vinha sendo investigada há um ano e meio. De acordo com o delegado Leonardo Brito, que comandou as investigações, o líder do bando é José Augusto Miranda dos Santos, condenado a mais de 70 anos de prisão principalmente, por crimes de estupro.

Ainda segundo o delegado, José Augusto comandava o esquema de dentro do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen). Para isso, ele contava com a ajuda de ‘soldados do crime’ do lado de fora da cadeia, responsáveis pelo recebimento de valores dos golpes aplicados.

Na manhã desta sexta-feira foram presos Emanuel Tobias de Lima do Nascimento, de 25 anos, e a mãe dele, Juracy da Silva de lima. Nas investigações foi detectado que Emanuel era responsável pela coleta de dinheiro de vítimas que eram extorquidas de dentro da cadeia. Já a mãe dele, Juracy Lima, atuava com a contabilidade do grupo. Um outro elemento que era procurado não foi localizado.

Na casa onde mãe e filho foram presos, no bairro Infraero II, zona norte de Macapá, os policiais ainda apreenderam um colete balístico e munições. No imóvel também havia um homem que acabou detido para interrogatório.

“Esse cidadão foi detido para averiguação. Descobrimos que ele trabalha naquela empresa de vigilância que foi alvo de bandidos essa semana, e cuja ação resultou na morte de três suspeitos, alvejados pelo Bope durante confronto armado. Vamos investigar se esse homem detido hoje tinha alguma relação com aqueles criminosos mortos”, detalhou o delegado.

O esquema

As investigações revelaram que o presidiário José Augusto Miranda criava perfis falsos na rede social Facebook. Em um desses perfis ele se apresentava como o médico André Dias, que supostamente morava em Brasília (DF) e tinha um alto padrão de vida.

“Ele [detento] criava esses perfis e passava a seduzir mulheres casadas – em sua grande maioria – para posteriormente aplicar os golpes. É bom lembrar que toda essa ação criminosa era executada de dentro do Iapen. Por isso defendemos a instalação imediata de bloqueadores de sinal de celular”, declarou.

O falso médico mantinha diálogos com as vítimas, e, após ganhar suas confianças, passava a pedir fotos e vídeos de ‘nudes’.

“O líder da quadrilha era muito bem articulado, tinha uma boa lábia e acaba convencendo essas mulheres a enviarem vídeos e fotos íntimas. Após conseguir isso, ele mantinha contato com essas pessoas, dizendo quem realmente era, e iniciando o processo de chantagem e extorsão. Para não divulgar o material ele exigia pagamentos que chegaram a até R$ 30 mil”, revelou o delegado.

Cada membro da quadrilha tinha uma função específica. Emanuel Tobias – preso nesta sexta-feira – agia como ‘coletor’ do dinheiro extorquido.  A mãe dele, Juracy da Silva, era responsável pela contabilidade da quadrilha.

Ainda conforme as investigações, além de pagamentos em espécie, muitas dessas mulheres eram obrigadas a ingressar no crime, levando cestas básicas para o presídio, ou guardando drogas e armas em suas próprias casas. Esse dinheiro coletado servia para fomentar outros crimes como roubos e tráfico de drogas.

“As mulheres viviam em regime de servidão – por isso o nome Servus – e pelo que já foi apurado, são mais de 400 vítimas. Esse número é surpreendente e preocupante. Por isso, as pessoas precisam estar sempre alertas nas redes sociais. Vamos aprofundar ainda mais as investigações a partir de agora”, disse.

 

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