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A História que precisa ser contada (II)

Mesmo antes de viajar para Macapá, Luiz Mendes da Silva recebera farta documentação, contendo denúncias de supostas participações em esquema de corrupção, envolvendo ocupantes de cargos, do governo anterior.


Ruy Guarany – Jornalista
Articulista

Na composição de seu governo, Luiz Mendes da Silva optou por funcionários de carreira do quadro territorial, inclusive, a chefia do gabinete foi ocupada pelo servidor Aristeu Acioly Ramos. O mesmo procedimento foi adotado em relação às prefeituras de Amapá, Calçoene, Oiapoque e Mazagão. Apenas a Prefeitura de Macapá, divisões de saúde, educação, segurança pública, Guarda Territorial, Sertta Navegação, Chefia do Material, representação no Rio de Janeiro foram ocupadas por pessoas não pertencentes ao quadro de servidores.

Mesmo antes de viajar para Macapá, Luiz Mendes da Silva recebera farta documentação, contendo denúncias de supostas participações em esquema de corrupção, envolvendo ocupantes de cargos, do governo anterior. Essas denúncias partiram de opositores ao governo Terencio Porto e também ao deputado Janary Gentil Nunes. Coube ao secretário geral, Roberto Rocha Souza, na condição de homem forte do novo governo, assumir as investigações. Começavam as prisões e recolhimento à Fortaleza de São José, atingindo servidores que ocuparam o primeiro escalão do governo anterior. Não houve tortura física a qualquer preso e, sem muita demora, as prisões foram relaxadas por determinação do próprio governador. Os inquéritos instaurados foram encaminhados à Brasília, e o Diário Oficial da União publicou a demissão dos funcionários supostamente envolvidos em atos ilícitos.

Durante o carnaval de 1965, Luiz Mendes da Silva foi informado de que um bloco denominado de Banda, formado por simpatizantes do deputado Janary Gentil Nunes, percorreria as ruas da capital, ostentando faixas e cartazes com críticas ao regime militar. Pediu então, ao capitão Moacyr Fontenelli, para que impedisse o desfile do bloco. Na condição de fã de Chico Buarque de Holanda, o secretário geral Roberto Rocha Souza ponderou e conseguiu que a ordem fosse relaxada. A Banda passou pela primeira vez, porém seguida por forte aparato policial, inclusive uma metralhadora tripé conduzida em uma pick up. O desfile terminou sem que houvesse qualquer incidente. No carnaval de 1966, Luiz Mendes da Silva compareceu ao palanque montado na avenida FAB, para assistir ao desfile das escolas de samba. E só arredou os pés após a passagem da Banda. Não gostou e considerou uma avacalhação o fato de alguns integrantes da escola de samba Cidade de Macapá haverem desfilado com jaca na cabeça, em sinal de protesto contra a decisão dos julgadores do desfile.

Com a permanência de apenas três anos no cargo, Luiz Mendes da Silva concluiu obras inacabadas, reativou a construção da hidroelétrica do Paredão, construiu o abrigo dos velhinhos, melhorou as instalações da Caesa e da CEA, construiu pistas de pouso em várias localidades do interior, melhorou o atendimento às prefeituras da capital e interior, reativou os trabalhos da BR156, deu especial atenção à saúde e educação, construiu a vila de casas para servidores, que foi inaugurada no fim de seu governo, denominada de Vila Montese, para lembrar o feito dos pracinhas da FEB na campanha da Itália.

Durante a campanha eleitoral de 1966, disputavam a única vaga de deputado federal, Alfredo Oliveira, pela legenda, e Janary Gentil Nunes, pela sublegenda da Arena. Aí, aconteceu um desentendimento entre Luiz Mendes e Roberto Rocha. Informado de que o secretário geral armava um esquema para eleger Alfredo Oliveira, o governador entrou em ação, contrário a qualquer tentativa de fraude. Chegou a levar a culpa pela derrota do candidato oficial. Ao justificar, disse que apenas cumprira as determinações do presidente Castelo Branco, de garantir eleições livres. Passado aquele momento de início do governo, quando ocorreram pressões e prisões, o que se viu foi trabalho e dinamismo administrativo.


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