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A História que precisa ser contada (III)

Em seu discurso de posse, deixou claro que iria governar com austeridade e isento de quaisquer interferências políticas.


Ruy Guarany – Jornalista
Articulista

Em março de 1967, assume o governo do território, o general Ivanhoé Gonçalves Martins. Oficial da arma de artilharia, que a exemplo de Luiz Mendes da Silva participou da campanha da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, antes de assinar o livro de posse, exigiu que o seu antecessor fizesse uma prestação de contas pública. Após a longa leitura dos números e apresentação de documentos, cuidadosamente acompanhados por Ivanhoé Martins, veio a recusa de receber as contas, sob a alegação de que havia uma diferença de 35 centavos, exigindo uma declaração justificando a falha. Em sua trajetória na vida pública, havia o registro de adido militar, no exterior, Comando da Escola Superior de Guerra, Academia das Agulhas Negras, secretário de segurança no estado de São Paulo, comprovante de vários cursos feitos por antecipação, quando na ativa, além do domínio de cinco idiomas estrangeiros.

Em seu discurso de posse, deixou claro que iria governar com austeridade e isento de quaisquer interferências políticas. Em dado momento, lançou uma indireta ao seu colega ao declarar “deixem a banda passar”, merecendo aplausos. Coube ao coronel de engenharia Gerson de Araujo Goes assumir a Secretaria Geral do Território. Além do secretário geral, trouxe ao território o chefe de gabinete, Dr. Orlando; o diretor da divisão de segurança, comandante Vale; o prefeito de Macapá, Cleiton Figueiredo; e o diretor de finanças, coronel intendente Adálvaro Alves Cavalcante. Aos poucos foram deixando o Amapá e retornando para as suas origens. Também o secretário geral retornou para o Rio de Janeiro, por ter sido exonerado do cargo em decorrência de um atrito com o governador. Dois anos antes de deixar o governo, os cargos de primeiro escalão já estavam ocupados por ‘prata da casa’, como costumava dizer. No tocante aos quatro municípios do interior, Leonel Nascimento, nomeado prefeito de Amapá, pelo governo anterior, foi mantido no cargo. Para Mazagão e Calçoene foram nomeados os amapaenses Rocque Pennafort e João Aurino. Quanto ao município de Oiapoque, foi nomeado o tenente Guilherme Pimenta, do Pará.

Durante os cinco anos em que esteve à frente do governo do território, Ivanhoé Martins implantou um canteiro de obras, abrangendo toda a jurisdição do Amapá. Educação, saúde, energia, transportes, telecomunicação, formação de recursos humanos, construção da estação de tratamento d’água, asfaltamento na capital e na rodovia Duque de Caxias, hoje Duca Serra, construção do Hospital de Pediatria, central de telecomunicações oficiais, instalação de sistema de telefonia em banda lateral, abrangendo 40 localidades do interior, construção do quartel da Polícia Militar e o Palácio do Governo na avenida FAB, além de colégios em Macapá, Santana e interior. Todo fim de ano destacava recursos às repartições destinados ao Natal dos servidores e suas famílias. Ao deixar o governo, recebeu muitas homenagens. Foi muito criticado por alguns jornalistas e pelo deputado Antônio Cordeiro Pontes (MDB-AP), que em nenhum momento duvidaram da sua retidão no trato da coisa pública, apenas não concordavam com o autoritarismo no governo. E dizia sempre que às críticas se responde com um bom trabalho.

Patriota ao extremo, o general Ivanhoé Martins sempre foi duro contra a exploração das nossas riquezas por empresas estrangeiras. Posicionou-se contrário à permanência da empresa Jari, no território, obrigando o milionário norte-americano Ludwig a se transferir para o Pará. Duro também em relação à Icomi. Por ocasião da inauguração da estrada Macapá/Santana, asfaltada pelo seu governo, ao discursar durante a recepção no CCH, em Santana, não poupou críticas à Icomi, e chegou a indagar, “cadê o Irda, cadê a usina de açúcar? As críticas continuaram durante a inauguração da fábrica de compensados da Brumasa.

Durante o governo Ivanhoé Martins, as datas cívicas eram comemoradas com grande participação, sendo que o 13 de Setembro alcançava o maior brilho com a presença maciça dos estudantes.


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