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Enfim, uma boa notícia

Entre as estratégias bem sucedidas apontadas pelo estudo em todo o mundo estão: aumento da tributação, proibição de fumar em locais públicos, restrições à comercialização, promoção e propaganda de cigarros e comunicação eficiente.


Bob Vieira da Costa – Escritor
Colaborador

Em pelo menos uma lista o Brasil figura ao lado de nações como Austrália, China, Dinamarca, Islândia, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça e Estados Unidos. São países que registraram taxa de declínio significativa do consumo de tabaco nas últimas duas décadas. E mais. Entre os dez países com maior número de fumantes, o Brasil registrou a maior redução de tabagismo diário tanto em homens (29% para 12%), quanto em mulheres (19% para 8%). A mais abrangente pesquisa já feita sobre tabagismo no mundo, que acaba de ser publicada pela revista científica ‘The Lancet’, analisou 195 países no período de 1990 a 2015 e foi financiada por Bill & Melinda Gates Foundation and Bloomberg Philanthropies.

Entre as estratégias bem sucedidas apontadas pelo estudo em todo o mundo estão: aumento da tributação, proibição de fumar em locais públicos, restrições à comercialização, promoção e propaganda de cigarros e comunicação eficiente. Aqui vale uma viagem ao tempo para lembrar do Brasil antes da década de 90 onde o cigarro era associado ao sucesso em propagandas televisivas, onde podia-se fumar em restaurantes, repartições públicas e até mesmo em aviões. Foi uma árdua batalha enfrentar a poderosa indústria do cigarro e impor limites e novas regras.

Somente no final dos anos 90, quando José Serra foi ministro da Saúde, o antitabagismo tornou-se uma bandeira de saúde pública do governo federal. Fumar foi proibido em todos os recintos coletivos, privados ou públicos. A propaganda em rádio, televisão e outras mídias foi banida. Eventos culturais e esportivos foram proibidos de receber patrocínio da indústria do tabaco. Os maços de cigarro passaram a obrigatoriamente conter advertências e imagens de impacto sobre as consequências trágicas do tabagismo como câncer, impotência, diabetes entre outras doenças. Além de intervenções fiscais que incluíram aumento de impostos e estabelecimento de preços mínimos para os produtos do tabaco.

Os resultados dessa acertada política que incluiu uma forte comunicação de interesse público são motivo de orgulho para o Brasil, mas a luta contra o cigarro está longe do fim. Só em 2015, 11,5% das mortes no mundo foram atribuídas ao tabagismo. Ele também foi responsável pelo segundo maior fator de risco de morte precoce e incapacidade. A cada ano são cinco milhões de mortos no mundo todo e bilhões de dólares gastos em saúde pública.

Na busca de consumidores, a indústria do tabaco vem perseguindo novos mercados e países como o Congo, Azerbaijão, Kuwait e Timor-Leste registraram aumento de fumantes. O mesmo aconteceu na população feminina da Rússia. Embora o mundo tenha assistido a uma queda proporcional do número de fumantes entre homens e mulheres nas últimas duas décadas, um dado chama atenção da pesquisa: a queda foi mais acentuada entre 1990 e 2005 do que entre 2005 e 2015. O estudo não deixa dúvidas de que o controle do tabagismo é possível, mas exige compromisso político global e de cada país além do que já foi feito nesses 25 anos.


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