Osmar Júnior

Estrelas caídas


Nas ruas enlameadas caíram estrelas, em mágoas, solidão, perdição, caiu Bethoven, caiu Mozart, como caiu Jesus de joelhos amando a Deus na via suja com aquela cruz pesada, com o peso do mundo em suas costas. Como caiu Hendrix no próprio vômito, ainda caem estrelas do céu. Eu também caí uma vez, como se fosse estrela, e sei que o que eu sentia era um peso enorme, e fui ao chão.

O feito índio Herivelton, gênio das resinas de açaí, pinta em tela o Amapá e cai também. Mas quem não caiu um dia? Caímos em desgraças, caímos em armadilhas e caímos em depressão.

Indiscutível é o talento e o amor que esse pintor tem pela arte. Ele traz as imagens da alma humana em seus grandes quadros com pinceladas requintadas em tons opacos ou de cores fortes da Amazônia; traduz algo que não está lá em sua alma angustiada, está muito longe dali, está lá onde suas asas lhe levam enquanto ele adormece em sono profundo, embriagado. Enquanto o mundo briga, treme, explode, rouba, fuzila, ele sonha cores e universos sóbrios, deitado num banco de praça.

Nesse mundo onde a violência animalesca é diversão na tela da televisão em notícias viciadas, nas crueldades das torcidas de futebol e no pouco valor da vida mediante a mente de um garoto bandido ou um policial assassino.

Se você se deixar pensar na morte vai entrar em desespero, pois ela ronda as ruas e os quartos, e a fina parede da sua casa, que é o que te separa do mundo lá fora, é frágil como papel de seda. O pintor dorme dentro do seu quarto ao ar livre chamado mundo sem medo.

Sento na mesa de jantar com a família e vejo os guarás inacabados que ele pintou na parede de minha casa pra que eu veja onde estou. Eu me pergunto, estou em casa?
Osmar Jr,
bom domingo