Nilson Montoril

Macapá, hostilidade e revanchismo


O s registros históricos relativos à instalação da povoação de São José de Macapá, evidenciam o primeiro caso de hostilidade e revanchismo ocorrido na Província dos Tucujú, a partir de do final de 1751, tendo como autor do feito o sargento-mor Manuel Pereira de Abreu, militar ao qual o Governador do Grão Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado delegou competência para iniciar o povoamento da região também conhecida como Costa do Macapá. O alvo dos destemperos de Manuel Pereira de Abreu foi o Padre Miguel Ângelo de Morais, franciscano da Ordem de Santo Antônio, que frequentemente repreendia o ajudante de ordem pelos maus tratos com os colonos açorianos, negros e índios. Ao receber das mãos do governador as instruções para conduzir a contento sua missão, Pereira de Abreu tomou ciência de que o termo correspondente à distribuição de mantimentos e munições aos colonos deveria ser assinado por ele e pelo sacerdote.

Na prática, o cumprimento das instruções não aconteceu. Manuel Pereira de Abreu não destinou ao religioso os alimentos que lhe eram devidos, deixando-o desamparado e precisando ser socorrido pelos açorianos. As instruções tinham sido baixadas no dia 31 de outubro de 1751, sendo evidenciado que em breve ocorreria a partida do capitão João Batista de Oliveira para a nova povoação, com o propósito de garantir a ordem e o sossego de todos. Mesmo sabendo que procedia erradamente, Manuel Pereira de Abreu ignorou a presença do padre, alegando que não lhe fornecia víveres porque nas instruções nada estava escrito neste sentido. Realmente, nenhum item das instruções dizia que o padre entraria na partilha. Tanto quanto o próprio sargento-mor. Aproveitando a passagens de viajantes por Macapá, o padre escreveu ao governador narrando sua desdita.

No dia 18 de dezembro de 1751, o capitão Batista de Oliveira embarcou para o povoado de Macapá para substituir Pereira de Abreu e assegurar o povoamento efetivo da área. Daí em diante, o sacerdote não precisou mais da caridade dos colonos. A instalação do povoado em meados do mês de novembro de 1751, ocorreu num ambiente hostil, principalmente para os colonos vindos do arquipélago dos Açores. Decidido a fazer vingar seu projeto de colonização da margem oriental do rio Amazonas, Mendonça Furtado devotou especial atenção aos povoadores para poder vencer os percalços. Decorridos quase sete meses, ainda que algumas dificuldades permanecessem, Mendonça Furtado veio a Macapá para assistir a elevação do povoado à categoria de vila, fato ocorrido dia 4 de fevereiro de 1758. Mais de 400 açorianos trabalhavam em Macapá, mas poucos tinham tirocínio para ocupar o cargo de vogal do Senado da Câmara. Como eles eram provenientes de diversas regiões dos Açores, questões de ordem cultural e política causavam animosidades entre eles.

Entretanto, o primeiro Senado da Câmara de Macapá foi composto por elementos que possuíam boa qualificação e identidade de propósitos. Por volta do ano de 1761, a população já havia sido transferida do platô onde se encontra a Fortaleza para o Largo de São Sebastião (Praça Veiga Cabral).

Quando as obras da Fortaleza foram iniciadas, em 29 de junho de 1764, o local do primeiro núcleo colonial já estava desocupado e livre para a ereção da obra. A partir desse momento o contingente populacional cresceu bastante, motivando hostilidades e revanchismos. Vale realçar uma trama engendrada por alguns aquartelados de Macapá chefiados pelo cadete Martins de Moura contra o major Francisco de Siqueira Monterroso, oficial que durante o movimento cabano comandava a guarnição da Fortaleza e impediu que os revoltosos se instalassem na vila e nos seus arredores.

Martins de Moura cumpria pena disciplinar em Macapá em decorrência de insubordinação. O motim foi dominado pelo major Fernando Maria Cabral de Teive e a verdade não demorou a vir à tona. Também merece destaque a reação de populares e dos soldados da Guarda Nacional contra a pretensão do Capitão Aprígio Peres Nunes de destituir o Intendente Manuel Theodoro Mendes.
Liderou a reação popular o negro Pedro Cecílio, vulgarmente conhecido como Pedro Lazarino. Os militares seguiram o comando do Alferes Aureliano de Moura. Tudo porque Theodoro Mendes não havia apoiado Augusto Montenegro nas eleições paraenses de 1901.