Pe. Claudio Pighin

Meu Deus, liberta-me dos inimigos!


Às vezes, nossa vida parece ficar mergulhada em uma profunda noite. Não se enxerga mais nada. Uma vida de trevas. Por exemplo, é o caso da escola ‘Papa Francisco’, em Belém. Ela é destinada para jovens pobres e, por isso, é totalmente gratuita. Nós acreditamos que essa escola é uma resposta à violência que aumenta cada vez mais na nossa sociedade. Digo sempre que a escola é uma obra de Deus. Mas, infelizmente, as nossas instituições públicas, além de não ajudarem, tornam-se obstáculos para a sua viabilização. Cobram impostos ou taxas como se nós tivéssemos especulações lucrativas e se esquecem de que a escola se sustenta por meio de doações. Temos sorte que existem pessoas que ainda acreditam na caridade. Mas, se fosse pelos órgãos públicos, a escola já teria acabado há muito tempo. Por isso, tem vezes que me sinto, realmente, como se estivesse numa noite profunda, sem saber mais o que fazer. Nesse sentido, me mergulho na Palavra de Deus para tentar entrever um raio de luz. Rezando o salmo 58, das Sagradas Escrituras, eu pude me identificar e ter um ‘sopro de vida’:

“Livrai-me, ó meu Deus, dos meus inimigos, defendei-me dos meus adversários. Livrai-me dos que praticam o mal, salvai-me dos homens sanguinários. Vede: armam ciladas para me tirar a vida, homens poderosos conspiram contra mim. Senhor, não há em mim crime nem pecado. Sem que eu tenha culpa, eles acorrem e atacam. Despertai-vos, vinde para mim e vede, porque vós, Senhor dos exércitos, sois o Deus de Israel. Erguei-vos para castigar esses pagãos, não tenhais misericórdia desses pérfidos. Eles voltam todas as noites, latindo como cães, e percorrem a cidade toda. Eis que se jactam à boca cheia, tendo nos lábios só injúrias, e dizem: Pois quem é que nos ouve? Mas vós, Senhor, vos rides deles, zombais de todos os pagãos. Ó vós que sois a minha força, é para vós que eu me volto. Porque vós, ó Deus, sois a minha defesa. Ó meu Deus, vós sois todo bondade para mim. Venha Deus em meu auxílio, faça-me deleitar pela perda de meus inimigos. Destruí-os, ó meu Deus, para que não percam o meu povo; conturbai-os, abatei-os com vosso poder, ó Deus, nosso escudo. Cada palavra de seus lábios é um pecado. Que eles, surpreendidos em sua arrogância, sejam as vítimas de suas próprias calúnias e maldições. Destruí-os em vossa cólera, destruí-os para que não subsistam, para que se saiba que Deus reina em Jacó e até os confins da terra. Todas as noites eles voltam, latindo como cães, rondando pela cidade toda. Vagueiam em busca de alimento; não se fartando, eles se põem a uivar. Eu, porém, cantarei vosso poder, e desde o amanhecer celebrarei vossa bondade. Porque vós sois o meu amparo, um refúgio no dia da tribulação. Ó vós, que sois a minha força, a vós, meu Deus, cantarei salmos porque sois minha defesa. Ó meu Deus, vós sois todo bondade para mim.”

A atmosfera desse salmo é obscura, noturna. Aqui o autor desse hino compara os seus adversários a uns cães brabos que no silêncio da noite latem e correm pelas ruas desertas em busca de alimento. Esses são os inimigos, os malfeitores, pessoas sanguinárias, poderosos, soberbos, perversos e blasfemadores. A cidade está à mercê destas pessoas perigosas. A vida de hoje parece que não mudou. O fiel identifica a ‘noite’ como o destino de Jerusalém cujos chefes são arrogantes e impuros como ‘cães’, filhos das trevas e da injustiça.

Assim, as pessoas corretas são obrigadas a fugir e se esconder para não serem destruídas. Porém, junto aos ‘cães’ aparece outro protagonista que toma conta da cena: Deus. O autor aqui apresenta Deus que age em relação a essas pessoas perigosas e ameaçadoras, eliminando-as de maneira gradativas e progressivas dando um exemplo de purificação que fica na história. Assim sendo, o povo não esquece e reconhece a presença de quem é o verdadeiro dono da história da humanidade. E perante essa justiça de Deus os justos verão a luz do dia e não serão oprimidos pelas trevas, a noite da humanidade.

Efetivamente, nunca os justos são abandonados, embora parecessem que estavam sós, porque os cães da vida os perseguiam. Na hora que menos pensa entra em ação o verdadeiro defensor que tudo sabe: Deus. Ele é o escudo dos ‘justos’. E o salmo ressalta assim que o sol está para surgir e a noite termina com as suas ciladas e os perseguidores são caçados de vez. Esta verdade leva o salmista a cantar e louvar a fidelidade de Deus com os seus justos filhos. Com esta certeza de fidelidade e de paz termina a noite obscura da vida. O sol venceu a noite. A perseguição e a maldade do poderoso são derrotadas. O fiel pode ficar tranquilo que o mal não pode vencer Deus.