Pe. Claudio Pighin

Com o auxílio de Deus, faremos proezas


Nossa história é sempre questionadora. Por isso, tem uma infinita gama de respostas. E uma dessas grandes questões é, com certeza, Deus. Nesses dias, um senhor de idade já avançada me disse que com o nome do Senhor se argumenta tudo e se pretende tudo. Prontamente, eu lhe respondi: como posso não falar e acreditar em Deus para quem eu dediquei toda a minha vida? É evidente que não se pode nem pensar em manipular Deus, porque, além do mais, Ele é muito poderoso e não o permite. Se poderá falar Dele, podemos encher a boca do nome Dele, mas isto não quer dizer nada. Deus está acima das nossas maquinações e manipulações. Porque Ele ama infinitamente. Ele é, sim, presente, mas não do nosso jeito. Quem nos ajuda a compreender melhor isso é o salmo 59 do Antigo Testamento da Bíblia.

“A lei é como o lírio. Poema didático de Davi, quando guerreou contra os sírios da Mesopotâmia e os sírios de Soba, e quando Joab, voltando, derrotou doze mil edomitas no vale do Sal. Ó Deus, vós nos rejeitastes, rompestes nossas fileiras, estais irado; restabelecei-nos. Fizestes nossa terra tremer e a fendestes; reparai suas brechas, pois ela vacila. Impusestes duras provas ao vosso povo, fizestes-nos sorver um vinho atordoante. Mas aos que vos temem destes um estandarte, a fim de que das flechas escapassem. Para que vossos amigos fiquem livres, ajudai-nos com vossa destra, ouvi-nos. Deus falou no seu santuário: Triunfarei, repartindo Siquém; medirei com o cordel o vale de Sucot. Minha é a terra de Galaad, minha a de Manassés; Efraim é o elmo de minha cabeça; Judá, o meu cetro; Moab é a bacia em que me lavo. Sobre Edom atirarei minhas sandálias, cantarei vitória sobre a Filistéia. Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me levará até Edom? Quem, senão vós, ó Deus, que nos repelistes e já não saís à frente de nossas forças? Dai-nos auxílio contra o inimigo, porque é vão qualquer socorro humano. Com o auxílio de Deus, faremos proezas. Ele abaterá nossos inimigos.”

Este hino é uma lamentação nacional de Israel num contexto de emergência. E essa lamentação se desdobra em dois momentos significativos. A primeira parte aparece Deus como se fosse um inimigo do seu povo: “Ó Deus, vós nos rejeitastes”. A desintegração do país, da nação, é porque Deus está irado, segundo o autor do salmo. Deus assim se tornou um terrível inimigo que desenfreia toda a sua força que abala tudo. Parece que Deus combate o seu próprio povo, e lhe faça pagar tudo sem piedade alguma. Porém, o autor depois de ter iniciado de maneira bem catastrófica e furiosa torna-se bem esperançoso, marcando assim uma presença amorosa de Deus: “Deus falou no seu santuário”.

Assim, se em um primeiro momento parecia que Deus tinha-se tornado inimigo, agora revela como Deus auxilia o seu povo. Essa esperança em Deus demonstra como Deus é o único e último juiz da história. Tudo isso é bem marcado através do controle de Deus sobre toda a Palestina e suas etnias. Revigorando-as. Desse jeito, o autor insiste que Deus é o verdadeiro Senhor da história e Israel pode confiar Nele, embora que às vezes não consiga entender. Na segunda parte de lamentação, porém, cheia de esperança, alimenta a possibilidade da salvação através do exercito de Israel que conquiste Edom.

Assim sendo, pela intercessão, Deus torna-se de novo o escudo do seu povo, ajudando-o a fazer grandes prodígios: “Com o auxílio de Deus, faremos proezas. Ele abaterá nossos inimigos.” A encarnação da Palavra de Deus compreende também essas formas de rezar, embora que seja grosseira e nacionalista. Todo o salmo mostra também como uma celebração do Deus da história, a quem se confia nos momentos tristes e trágicos, não seja indiferente às situações humanas. Pelo contrário, Ele leva em frente o seu projeto de salvação.

Veja o que nos diz o papa Francisco: “Caros irmãos e irmãs, nunca coloquemos condições a Deus, mas, ao contrário, deixemos que a esperança vença os nossos receios. Confiar em Deus quer dizer entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusive que a sua salvação e o seu auxílio cheguem a nós de modo diverso das nossas expectativas. Pedimos ao Senhor vida, saúde, afetos, felicidade; e é justo fazê-lo, mas com a consciência de que até da morte Deus sabe haurir vida, que é possível experimentar a paz inclusive na doença e que até na solidão pode haver serenidade, e bem-aventurança no pranto. Não somos nós que podemos ensinar a Deus o que Ele deve fazer, aquilo de que temos necessidade. Ele sabe-o melhor do que nós e devemos ter confiança porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos (Audiência Geral de 25/01/2017).