Dom Pedro Conti

Tu és Jesus?


Três jovens empresários tinham participado de um congresso e estavam voltando para casa, correndo, para não perder o voo. Na proximidade do aeroporto, alguns ambulantes tinham colocado malas, disfarçando assim os seus produtos que ofereciam aos passantes. Café, docinhos, frutas. Na confusão do vai e vem, arrastando as suas bagagens, eles acabaram batendo numa mala sobre a qual a vendedora, uma criança, oferecia algumas maçãs. Todas rolaram pelo chão. Logo perceberam o que tinha acontecido, mas somente um deles parou para ajudar a criança a juntar, novamente, as frutas. Os outros continuaram apressados para não perder o avião. O homem reparou que a criança procurava as maçãs apalpando o chão com as mãos, mas não acertava nenhuma. Era cega. Quando ele acabou de recolher as maçãs, viu que a maioria delas estava suja e batida. Seria difícil vendê-las. Assim, tirou do bolso uma nota de cinquenta reais e a colocou nas mãos da criança, pedindo-lhe desculpa por aquilo que tinha acontecido. Quando estava saindo, já pensando no voo que talvez tivesse perdido, a criança disse: “Senhor, tu és Jesus?”. Com esta pergunta na mente e no coração, o homem esperou o próximo voo.

Parece uma frase de efeito, mas depois da Ascensão somos todos Jesus. Somos chamados a continuar a missão que o Pai lhe entregou, como ouviremos no próximo domingo de Pentecostes e a fazer “coisas ainda maiores”, como escutamos no evangelho do quinto domingo de Páscoa. A Solenidade da Ascensão de Jesus ao céu não é uma festa de despedida, mas um envio, um grande compromisso até a volta do Senhor. O Espírito Santo vai nos ajudar nesta “missão”, também se, muitas vezes, a esquecemos ou a achemos impossível.

Em primeiro lugar, devemos acreditar que com a Morte e Ressurreição de Jesus tudo mudou. O mal está vencido uma vez por todas. A morte não é mais a última palavra da nossa existência. Deus Pai, que ressuscitou Jesus, é o Senhor da Vida. Vida plena, vida de amor, e é rumo a esta Vida que o Filho quer nos conduzir. É tudo ainda muito novo, parece tão longe. No entanto, com o olhar da fé e do amor, podemos acreditar nas mudanças, pequenas e grandes, pessoais e da sociedade. O “chefe deste mundo” (Jo 14,30) nos promete felicidades egoístas. Ele se serve do nosso medo de perder juventude, saúde, dinheiro e bens materiais, do nosso pavor da morte, para nos manter presos nas coisas que passam. Brigamos dema is por elas. Assim, deixamos de sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus e dos irmãos, fechamos olhos e ouvidos, endurecemos o coração, desistimos de procurar os tesouros da bondade e da paz. Trocamos o caminho da Vida, pelos caminhos da morte. Mas a vitória do Bem sobre o Mal é definitiva, não vai ter virada. Nós, cristãos, somos chamados a participar e a provar com as nossas vidas esta vitória.

Tudo começa no dia do nosso Batismo. Nos tornamos “homens novos” refeitos pelo amor de Jesus, amigos novamente de Deus, irmãos de todos sem ódios e divisões. O mundo precisa de sinais vivos de esperança. Somos enviados a testemunhar que algo diferente da lógica do lucro, da violência e da indiferença já está acontecendo. A coragem de colocar generosidade, compaixão e solidariedade nos nossos encontros todos os dias, toda hora, sempre, deve ser real, concreta, visível. É a “autoridade” do amor; não da força ou da imposição. A mesma autoridade que foi dada a Jesus, “no céu e sobre a terra”, porque o bem não precisa de propaganda, é luminoso por si mesmo, contagiante, atraente. O Amor tem força própria, vai se espalhar “até os confins da terra”. A missão de todo batizado é ser sinal do Reino de Deus que Jesus já começou; onde e no momento que está vivendo; com consciência e responsabilidade, com tremor e entusiasmo, na comunhão e na humildade, dando o melhor de si, porque todos devemos ser como Jesus, ser Jesus hoje. Também se para isso perdemos o voo. Vale a pena.