Pe. Claudio Pighin

Só em Deus repousa minha alma!


“Padre, estou cansado. Não tenho mais vontade de nada. Não sei o que fazer, não dá mais certo nada. Tenho todos contra mim. O que fazer? Sinto-me esgotado! Perdi o prazer da vida.” O desabafo é de um cidadão que no seu maior desespero me confiou a sua situação. Igual a ele, há muitos outros irmãos que passam pela mesma condição. Essa nossa realidade é feita de tantas alegrais, também de tantas tristezas. Isto significa que, por quanto nos esforçamos viver bem, nem sempre conseguimos esse objetivo. Parece que a vida foge do nosso controle. Aqui que está uma resposta de vida para essas frustrações dela: é em Deus que supero tudo isso! O que quer dizer? Posso enfrentar muitas dificuldades e desespero, mas com Deus se enfrentam diferentemente. Por isso, convido você a ler esse salmo 61 das Sagradas Escrituras para poder entender melhor isso.

“Só em Deus repousa minha alma, só dele me vem a salvação. Só ele é meu rochedo, minha salvação; minha fortaleza: jamais vacilarei. Até quando, juntos, atacareis o próximo para derribá-lo como a uma parede já inclinada, como a um muro que se fendeu? Sim, de meu excelso lugar pretendem derrubar-me; eles se comprazem na mentira. Enquanto me bendizem com os lábios, amaldiçoam-me no coração. Só em Deus repousa a minha alma, é dele que me vem o que eu espero. Só ele é meu rochedo e minha salvação; minha fortaleza: jamais vacilarei. Só em Deus encontrarei glória e salvação. Ele é meu rochedo protetor, meu refúgio está nele. Ó povo, confia nele de uma vez por todas; expandi, em sua presença, os vossos corações. Nosso refúgio está em Deus. Os homens não passam de um sopro, e de uma mentira os filhos dos homens. Eles sobem na concha da balança, pois todos juntos são mais leves que o vento. Não confieis na violência, nem espereis vãmente no roubo; crescendo vossas riquezas, não prendais nelas os vossos corações. Numa só palavra de Deus, compreendi duas coisas: a Deus pertence o poder, ao Senhor pertence a bondade. Pois vós dais a cada um segundo suas obras.”

O hino contrapõe dois modelos de confiança. De um lado a confiança na riqueza e na violência e de outro lado a confiança em Deus. A idolatria da violência e da riqueza rende o seu fiel vazio e sem futuro. Naturalmente, esse fiel pratica a mentira, aliás, ele se compraz com isso. Isto faz parte da estratégia para derrubar o justo. Uma pessoa assim, segundo as Sagradas escrituras, é já morta. Porém, em oposição a esse tipo de confiança se coloca a confiança em Deus, mostrada com uma rica simbologia militar, que é a fortaleza e o rochedo que garantem o repouso da alma.

Portanto, a centralidade do salmo roda ao redor dessa opção entre as duas confianças, duais morais completamente diferentes. Veja como o autor desse hino descreve essa opção: a confiança em Deus é revelada com imagens de solidez e segurança, quais ‘refúgio e defesa’. No entanto, a confiança à riqueza é expressa com os seguintes termos: ‘violência’, isto é, estratégias venenosas para desfrutar e depauperar o próximo. Além do mais, o ‘roubo’ e a ‘extorsão’ o autor desse salmo os classificas como ‘ilusão’ e ‘loucura’, porque leva a excessos sem limites.

Assim sendo, a riqueza que o ser humano busca se torna uma cilada que o leva cumprir atrocidades, coisas não boas. Essa confiança exclusiva na materialidade cega o ser humano e não lhe permite ter uma visão real da realidade. Esquece-se de ser um mortal e que essa idolatria à materialidade é igual a um sopro. A idolatria aos bens da terra são bens que passam e não garantem nada para o futuro. É verdade que essa materialidade faz parte da humanidade, mas precisa saber discerni-la para não se deixar mandar por ela. Essa materialidade por quanto possa ser importante, seu peso é quase nada sobre a balança do ser.

Assim sendo, é realmente absurdo ver que uma humanidade possa apostar sobre isso, que representa uma escada de valores ilusórios, falsos e frágeis. Portanto, fixar a concentração exclusiva da nossa vida sobre a riqueza, o poder e o bem-estar nos leva a uma vida inconsistente. Nesse sentido, que o autor do salmo insiste a importância da opção por Deus, que é eterno e sem fim. Somente Ele que pode ajudar o fiel a evitar a morte, o ‘nada’ da vida.

Sempre o papa Francisco nos fala a respeito, através do encontro com os jovens católicos que ocorreu em sua visita à Coreia do Sul: “Que vocês, jovens, possam combater o fascínio de um materialismo que sufoca os valores culturais e espirituais autênticos e se afastem do espírito de competição desenfreada que gera egoísmo e conflito”. Continuou Francisco no sermão: “Que vocês também rejeitem os modelos econômicos desumanos que criam novas formas de pobreza e marginaliza os trabalhadores.”