Pe. Claudio Pighin

A busca de Deus


“Quem não tiver pecado atire a primeira pedra!”, falou Jesus para aqueles que queriam condenar a mulher que pegaram em flagrante pecado de adultério. E diz o evangelista que ninguém teve coragem de fazê-lo. Isto significa que todos tinham pecado. E nós também, depois de mais de 2000 anos daquele evento, reconhecemos que somos pecadores. E é a partir dessa consciência que precisamos do nosso Deus. Precisamos do amor Dele para preencher o vazio que provoca o pecado à nossa humanidade. Por isso, na medida em que reconhecemos a nossa fragilidade, a nossa condição de pecadores, buscaremos cada vez Deus.

De fato, não por acaso os santos se diziam sempre que eram os maiores pecadores, porque ardentemente buscavam, dia e noite Deus. O papa Francisco fala a respeito: “Deus perdoa sempre! Não se cansa de perdoar. (…) ‘Mas, padre, eu não me confesso porque fiz tantas, tantas coisas, que não receberei o perdão…’ Não. Não é verdade. Ele perdoa tudo.” A leitura desse salmo 64, das Sagradas Escrituras, nos ajuda a entender tudo isso.

“A vós, ó Deus, convém o louvor em Sião, é a vós que todos vêm cumprir os seus votos, vós que atendeis as preces. Todo homem acorre a vós, por causa de seus pecados. Oprime-nos o peso de nossas faltas: vós no-las perdoais. Feliz aquele que vós escolheis, e chamais para habitar em vossos átrios. Possamos nós ser saciados dos bens de vossa casa, da santidade de vosso templo. Vós nos atendeis com os estupendos prodígios de vossa justiça, ó Deus, nosso salvador. Vós sois a esperança dos confins da terra, e dos mais longínquos mares. Vós que, com a vossa força, sustentais montanhas, cingido de vosso poder. Vós que aplacais os vagalhões do mar, o bramir de suas vagas e o tumultuar das nações pagãs. À vista de vossos prodígios, temem-vos os habitantes dos confins da terra; saciais de alegria os extremos do oriente e do ocidente. Visitastes a terra e a regastes, cumulando-a de fertilidade. De água encheu-se a divina fonte e fizestes germinar o trigo. Assim, pois, fertilizastes a terra: irrigastes os seus sulcos, nivelastes e as sua glebas; amolecendo-as com as chuvas, abençoastes a sua sementeira. Coroaste o ano com os vossos benefícios; onde passastes ficou a fartura. Umedecidas as pastagens do deserto, revestem-se de alegria as colinas. Os prados são cobertos de rebanhos, e os vales se enchem de trigais. Só há júbilo e cantos de alegria.”

É um hino de louvor pela maravilha da criação. Um canto de festa. Porém, na primeira parte, é um testemunho do perdão dos pecados. E esse perdão é concebido como uma recriação da vida. Vivendo essa realidade renovada pela misericórdia de Deus, permite encarar a realidade de maneira mais viva e colorida. Por que isso? A experiência do perdão e de uma natureza verdejante e cheia de fecundidade permite uma maior proximidade com o Senhor da Vida. O perdão e a viva natureza nos ajudam a viver a beleza da nossa criação. De fato, pela visão bíblica, história humana e natureza são muito unidos, se compenetram.

A versão das Sagradas Escrituras nos mostra que a criação é a moradia do ser humano e o pecado é uma ameaça a essa harmonia do universo, do mundo. Por isso que a conversão e perdão proporcionam integridade e harmonia ao cosmo, à vida. Assim sendo, esse salmo é dividido em duas partes: a parte histórica do ser humano e a parte do universo que está em plena ligação entre eles. Em Sião, Deus é o salvador que tem misericórdia e perdoa. Todo ‘mortal’ invoca o Senhor para libertá-lo do mal. E uma vez que consegue essa remissão do pecado, essa libertação, o ser humano consegue entrar em comunhão com Deus.

Ele participa da intimidade divina. Portanto, à vida espiritual se une aquela da natureza. E com uma imagem bem agrícola apresenta o Senhor que cuida e faz crescer a vida do fiel como o agricultor que semeia nos campos para ter o fruto que alimenta e sustenta a vida. Deus prepara o terreno, molha-o para que possa frutificar. E assim a terra, parecida a uma rainha, celebra o seu rei e Senhor porque está resplandecendo com a sua maravilhosa fertilidade. Uma natureza majestosa e cheia de vida revestindo a humanidade eleva hinos de glória ao seu Senhor. E isto dá alegria a todo o cosmo. Por conseguinte, todas as criaturas humanas, se dirigem ao seu Criador rezando e dançando, louvando e cantando porque a vida reina entre eles. Uma vida coroada por uma perfeita harmonia entre o ser humano e a própria natureza confirma a ação salvadora da presença de Deus.
Claudio Pighin, sacerdote e jornalista.
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