Entrevista

“Os prédios históricos não demora muito sofrerão mudanças ou destruições”

E ntre tantas profissões que são abraçadas a partir de muita divulgação e exploração midiática, certamente a de cientista é uma das mais duras e exigentes. O Amapá está conseguindo formar quadros valorosos em sua Universidade Federal, como o professor Edinaldo Chaves Filho, que se especializou em Arqueologia e prepara para a próxima terça-feira a entrega do novo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas. Como ele construiu essa carreira e os pormenores da profissão ele relatou em uma entrevista ontem ao programa Conexão Brasília, da rádio Diário FM, apresentado pelo jornalista Cleber Barbosa. O Diário do Amapá publica a seguir os principais trechos dessa esclarecedora e instigante conversa com um pesquisador que já é tido como um dos principais forjado no Estado do Amapá.


Cientista. Oriundo de escolas públicas, o professor Edinaldo Filho falou da carreira e fez alertas importantes

CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – Na próxima terça-feira acontece a inauguração do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá, mas na verdade esse projeto já vinha sendo tocado pelo senhor, não é? Do que se trata exatamente?
Edinaldo Filho – Positivo, nós fazemos parte de um grupo do CNPQ, que é o Grupo de Estudos, Pesquisas e Preservação da Cultura Imaterial do Amapá. O nosso centro é uma concepção que teve início em 2004, um reconhecimento pelo Consul, mas naquele momento nós não tínhamos ainda um espaço físico então para nós a construção desse prédio vai efetivar o nosso anseio em poder desenvolver nossas pesquisas da melhor maneira possível e dar um conforto aos nossos pesquisadores e aos nossos colaboradores.

Diário – Mas fale das atividades a serem desenvolvidas lá, professor.
Edinaldo – Ele é um centro que é da coordenação do curso de História, da qual eu faço parte. Mas como eu também atuo em outros cursos de especialização e mestrado, ele já está servindo para esse fim, ou seja, vai servir para o ensino, pesquisa e extensão, uma coisa que a gente já vem desenvolvendo há muito tempo, desde o fim do século 20 como pesquisador.

Diário – A gente fica imaginando quanto tempo leva para se formar um cientista. O senhor é amapaense?
Edinaldo – Sim, sou amapaense.

Diário – É que existem tantas carreiras glamourosas, com muito apelo midiático, que fica a dúvida sobre como despertar um jovem para abraçar a carreira de cientista. Como aconteceu com o senhor?
Edinaldo – Comigo aconteceu naturalmente, foi toda uma formação. Eu estudei sempre em instituições públicas, desde o ensino fundamental, na Escola Araci Nascimento, da Prefeitura. Na época do Território na Escola Polivalente Tiradentes, o ensino médio no antigo CCA, que depois passou a Gabriel de Almeida Café; fiz a UFPA aqui, na época que era o Núcleo de Educação. Fiz o meu Mestrado na Universidade Federal de Pernambuco e o meu Doutorado fiz na Universidade Federal do Pará.

Diário – O senhor também teve uma passagem pelo Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva, não é mesmo?
Edinaldo – Justamente, meu início na arqueologia foi lá, desde 1991, logo depois que eu terminei minha graduação comecei a trabalhar, fazendo cursos e participando das pesquisas. Eu coordenava a área da pesquisa arqueológica, participei de algumas expedições, fiz parte de alguns projetos pelo Museu Ghoeldi, fiz cursos lá em Belém por ele [o museu] então devo muito também ao Estado, na época com a Fundação de Cultura, que me oportunizou muito na minha área.

Diário – Os achados arqueológicos muita gente diz não encontrar em exposição nos museus, por que professor?
Edinaldo – Quando são coletados esses materiais nas pesquisas, esses artefatos, falo das pesquisas arqueológicas ou históricas, eles passam por todo um processo, higienização, identificação, registro, análise, restauração, para depois ser montada pelo museólogo uma exposição, mas nem todo material vai ser exposto. Minha experiência no Museu Joaquim Caetano foi assim, as pessoas podiam até reclamar uma maior oferta de materiais, mas existe um local que a gente denomina reserva técnica, onde é guardado esse material.

Diário – E sobre o sítio arqueológico de Calçoene, que seria o “Stonehenge” do Amapá, o que o senhor pode falar a repeito dessa descoberta?
Edinaldo – Olha, eu estive pesquisando a região num projeto que eu coordenei dentro do Parque Nacional do Cabo Orange, que era um plano de manejo, entre 2005 e 2008. Inclusive participei de uma expedição para o Cunani a convite dos jipeiros, pois fiz a identificação de vários sítios da área do Parque do Cabo Orange. Mas esse sítio que a gente chama de Aurora é um sítio cerimonial, que não está dentro do Parque que eu pesquisei, fica a uma distância aproximada de 40 quilômetros onde fica a Vila do Cunani, então eu não tenho muito conhecimento sobre ele porque não participei dessa pesquisa.

Diário – Essa pesquisa a que o senhor se refere não foi da Universidade, foi do Estado, é isso?
Edinaldo – Exatamente, foi tocada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas do Amapá, o Iepa. Mas ela ainda está em andamento, é uma pesquisa que ainda não foi concluída. Nas ciências demora muito para você produzir resultado e na área de arqueologia nem se fala. Um exemplo é o próprio Stonehenge, que de fato eles já conheciam há séculos, mas daí a dizer quem habitou, qual era a utilização é uma coisa recente.

Diário – E sobre os questionamentos a respeito da verdadeira identidade da Macapá de outrora, que muita gente reclama estar se perdendo, o que o senhor acha?
Edinaldo – O Amapá tem três períodos distintos em termos de arquitetura. As autoridades em nível estadual e principalmente municipal não tiveram essa preocupação, pois em termos de tombamento de prédios históricos, só temos um prédio com esse reconhecimento em Macapá, que é a Fortaleza de São José. Os três períodos históricos foram o Pombalino [Marquês de Pombal], de 1750 até a transformação em Território, quando esses prédios eram utilizados para abrigar repartições públicas e moradias; o segundo período, o Janary, retrata uma coisa que ainda pode ser recuperada, pois do período Pombalino quase tudo se perdeu, com exceção da igreja de São José que também foi descaracterizada. O terceiro e último é da era Barcellos, quando da criação do Estado, cujo governador deu uma contribuição significativa em termos de prédios, que também não demora muito vão sofrer mudanças e até destruições, então a gente tem que pensar nisso aí.

 

Perfil…

O entrevistado. O professor Edinaldo Pinheiro Nunes Filho é amapaense, estudou em instituições de ensino públicas desde os tempos de Território Federal do Amapá até a fase de criação do Estado do Amapá, como a Escola Araci Nascimento, a Escola Polivalente Tiradentes e o antigo CCA, hoje Gabriel de Almeida Café. Cursou História no antigo Núcleo de Educação, um campus avançado da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Macapá. Especializou-se em Metodologia do Ensino pela Universidade Federal de Pernambuco e também fez Mestrado e Doutorado em Pré-História, portanto é um Arqueologista. Teve passagens pelo Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva, Mudeu Emílio Ghoeldi e mais recentemente na Universidade Federal do Amapá (Unifap), onde dirige o Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá.


Deixe seu comentário


Publicidade