Entrevista

“Dos alimentos consumidos no Amapá cerca de 85% vem de outros estados”

Um dos mais respeitados técnicos do Amapá foi ao rádio ontem dar mais detalhes a respeito da estratégia do Governo do Amapá para carrear investidores que possam acessar os incentivos fiscais da Zona Franca Verde e outras políticas públicas, para escrever uma nova história de desenvolvimento econômico no estado. Para isso o projeto é arrojado, não só gerando emprego e renda, mas mudando a realidade local até mesmo na capacidade do Amapá produzir seus próprios alimentos. Joselito Abrantes, que construiu também uma carreira acadêmica, atualmente exerce o cargo de vice presidente da Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico. Ele esteve ontem (22) concedendo entrevista ao jornalista Cleber Barbosa, apresentador do programa Conexão Brasília, na rádio Diário FM. A seguir, os principais trechos da esclarecedora sabatina.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – Como estão as coisas lá pela Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico?
Joselito Abrantes – Tudo bem, estamos avançando, apesar das dificuldades, mas com muita determinação e comprometimento nós vamos implementando as políticas públicas em prol do estado do Amapá.

Diário – E nessa agenda da Agência Amapá a gente teve agora o lançamento da Câmara Setorial de Produção de Alimentos, uma outra vertente visando o incremento econômico?
Joselito – Exatamente. Na realidade, nós já vínhamos desenhando essa proposta, juntamente com a Aprosoja, uma metodologia que ela já vinha trabalhando em outros estados como o Mato Grosso e no Paraná. Através da Agência nós aderimos e começamos a formatar essa proposta para implementar no Governo do Estado. Na realidade a Câmara é um grande fórum composto por instituições públicas e privadas, no momento nós temos 15 entidades do poder público estadual e 17 entidades externas, nos setores público e privado e todas estão vinculadas ao setor produtivo e no segmento de produção de alimentos. O Amapá ainda é carente nesse setor, pois dos alimentos consumidos aqui no Amapá cerca de 85% vêm de outros estados da federação e até do exterior. O Amapá só contribui com 15% de produção de alimentos que são comercializados aqui, então nós temos o espaço e temos o dever de incrementar essa produção de alimentos no estado.

Diário – E o momento é propício para isso?
Joselito – Entendemos que sim, em função de alguns marcos que o Governo conseguiu destravar e está começando agora a trabalhar principalmente a questão da Zona Franca Verde, a questão da regularização fundiária e a questão energética também que era outro entrave e que agora já não é mais, pois o Amapá já está hoje até exportando energia. Nós entendemos que temos as condições necessárias para alavancar e valorizar a produção de alimentos no Amapá.

Diário – E isso tem se revertido num verdadeiro “boom” de empreendimentos chegando ao estado, em especial aqueles ligados ao agronegócio, considerado tão dinâmico ao ponto de uma fábrica de rações iniciar sua construção e já ter sua futura produção vendida antecipadamente, não é?
Joselito – Isso, e inclusive o que nós estamos apostando muito fortemente é que a partir dessa dinâmica da produção de grãos, o próprio governador tem falado muito nisso, da soja, milho, sorgo e outros grãos, isso é o que vai criar condições para nós podermos verticalizar nossa produção, pois com os grãos, vem toda uma cadeia produtiva de alimentos, como o de rações animais, que com um preço bem mais baixo do que a ração importada de fora, pode-se deslanchar a piscicultura, a suinocultura, a avicultura, enfim, tudo gerado a partir dessa produção de grãos. A produção de grãos no estado já é uma realidade, é fato, pois temos aí todo um ambiente propício para alavancar essa produção, apesar de alguns gargalos ainda que justamente serão trabalhados dentro dessa Câmara que falamos no começo.

Diário – E quais esses principais gargalos exatamente Joselito?
Joselito – Exatamente a questão fundiária e a questão ambiental, mas isso essa Câmara vai ter esse propósito de destravar, inclusive quero anunciar que a primeira reunião técnica da câmara, presidida pelo governador do estado, vai ocorrer agora no dia 31 de julho. E a primeira discussão será com a Aprosoja, que vai apresentar um plano de ação para os próximos cinco anos no Amapá, apontando as suas metas tanto de expansão das áreas plantadas, como também de produção, de aumento de produção. Só que ao mesmo tempo a Aprosoja vai apresentar as condicionantes para isso, ou seja, o que o governo, o que as entidades dos setores público e privado precisam trabalhar, precisam focar para que essa produção, essa meta, de fato se concretizem.

Diário – E o que já se tem em termos de área cultivada ou por se cultivar?
Joselito – Ah, sabemos que o estado está por atingir hoje 20 mil hectares praticamente de área plantada, com uma produção em torno de 50 mil toneladas, o que já estabeleceu um recorde esse ano de 13%, mas daqui a cinco anos podemos estar atingindo 100 mil hectares com uma produção de talvez 300 mil toneladas ou até mais. Para isso basta que nós consigamos destravar alguns obstáculos que estão hoje de certa forma emperrando o avanço dessa produção.

Diário – Mas a pauta dessa Câmara Setorial não se restringe apenas aos grãos, não é mesmo presidente?
Joselito – Claro, ela congrega 32 instituições, tanto do setor público como do setor privado, como eu disse, do setor econômico e todas as instituições que estão congregadas, que tem suas competências voltadas para o setor produtivo e com essa vertente da produção de alimentos hoje compõem essa Câmara. E a proposta é que ela também possa se subdividir em grupos temáticos, pois não vamos só discutir a produção de grãos. Falei dessa reunião com a Aprosoja, mas a partir dela as outras reuniões que vão se suceder irão discutir a cadeia da pesca, tanto a artesanal quanto a industrial, vamos discutir a aquicultura e toda essa cadeia, assim como o segmento de polpas de frutas, enfim, com a integração dessas entidades tenho certeza que todos vão estar focando seu planejamento com esse propósito, sem vaidades, deixando as questões políticas de lado, mas focar num projeto de estado e não de governo e com isso gerar emprego e renda pensando nas gerações atuais e futuras, pois é isso que o Amapá está precisando, ou seja, sair da economia do contracheque público e criar as condições necessárias para que a iniciativa privada de fato alavancar a economia do estado.

Diário – Sobre esse dinamismo do chamado agronegócio a gente vê como ocorrem os desdobramentos, em cadeia, pois com a soja vem a ração; com ela frango, suíno e peixe; enfim, agora duas empresas fortes anunciam a chegada ao Amapá, a Matsuda e a São Francisco Agronegócio, ligadas à insumos tecnológicos da pecuária e da lavoura.
Joselito – Exatamente, essas empresas são da área de equipamentos, de serviços, tudo relacionado a esses outros elos da cadeia produtiva, que perceberam a dinâmica do agronegócio e começaram a se instalar aqui. E tudo cria um ambiente ainda mais propício para a própria verticalização dessa produção aqui no Amapá, daí a importância da entrada dessas outras empresas tanto da área do comércio como de serviços ligados ao agronegócio. O próprio sistema capitalista preconiza isso, ou seja, criando as condições para o fortalecimento do mercado outros campos se complementam e a rede toda se retroalimenta.

Diário – E nessa questão de destravar, acabar com os gargalos, existem outras iniciativa do ponto de vista de legislações mais arrojadas?
Joselito – Também, essas questões dos marcos regulatórios estão sendo trabalhados pelos órgãos do governo como uma lei nova que vai entrar no final do mês na Assembleia [legislativa] e que está sendo discutida com o Ministério Público Estadual, que é uma lei da Regulamentação Fundiária, que na retomada dos trabalhos no Parlamento deveremos iniciar um processo de audiências públicas e discussão com a sociedade. Sei que será uma lei moderna e já vem alinhada com uma legislação recente sancionada pela Presidência da República sobre regulamentação fundiária na Amazônia.

Perfil…

Entrevistado. O economista Joselito dos Santos Abrantes é amapaense, natural de Serra do Navio; entre seus títulos acadêmicos é doutor em Desenvolvimento Socioambiental pela UFPA; Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela UnB; Especialista em Teoria Econômica e Sustentabilidade pelo CEAP. Especialista em Agenciamento da Inovação e Difusão Tecnológica pela UNIFAP e Especialista em Gestão de Projetos de Arranjos Produtivos Locais pelo ILPES/CEPAL. Analista II do Quadro de Técnicos do SEBRAE/AP e Professor Titular do Centro de Ensino Superior do Amapá (CEAP). Atualmente exerce o cargo de vice-presidente da Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico (Agência Amapá/GEA).


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