Wellington Silva

(1789) A Inconfidência Mineira


Num País onde o coração do povo anseia esperanças de dias melhores através do surgimento de verdadeiros líderes com sincero espírito cívico e patriótico, e onde os valores se perdem, escancaram atos imorais e grotescos, e tudo pode e faz acontecer para inverter tais valores, a figura histórica de Tiradentes e dos Inconfidentes sempre nos fazem refletir a respeito do necessário espírito de luta, dos ventos da mudança, a causa, o caminho, aquilo que é justo e reto.

Narra a memória oral que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ganhou este nome por ter sido exímio odontólogo em seu tempo. Foi também brilhante engenheiro de obras, apresentando arrojados projetos de engenharia a coroa portuguesa no Brasil, e oficial de cavalaria (alferes, ou atualmente, tenente).  Era figura muito popular e bem quista no seu tempo.

Vivia Tiradentes num mundo em processo de grandes revoluções, de transformações culturais e estruturais. Eram os ventos da mudança, sinais e movimentos da democracia maçônicamente a levantar bandeiras e a soprar forte na Europa e América do Norte sob a tríade LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE. Lutas, enfáticos discursos contra a nobreza e o clero e a defesa dos povos escravizados e colonizados eram a grande pauta dos revolucionários. Este era o ambiente político encontrado pelos jovens brasileiros que estudaram na França e em Coimbra (Portugal) na década de 1.780 e depois se destacariam na Inconfidência Mineira de 1.785 – 1.789. Foram eles, Domingos Vidal de Barbosa Laje, José Joaquim da Maia, José Mariano Leal da Câmara, José Álvares Maciel, e outros.

Num tempo em que as classes sociais eram rigorosamente estratificadas, desde o nascimento, e no qual, sobretudo, era reservado a uma só classe – a nobreza – o exercício dos postos de comando do Estado, LIBERDADE significava abolição absoluta da monarquia, poder de suposta origem divina, incontestável por sua própria natureza. IGUALDADE significava a abolição das diferenças de classe dando-se aos cidadãos a oportunidade de regerem seu próprio destino. FRATERNIDADE era o grande objetivo moral e final de uma Nova Ordem.

As árduas pesquisas feitas pelo historiador Tarquínio Oliveira teorizam que a reunião decisiva da Inconfidência pode ter sido realizada na casa do Tenente Coronel Francisco de Paula Freire de Andrada, em uma madrugada do dia 26 ou 27 de dezembro de 1.788, dia de São João, consagrado desde Cagliostro pela Maçonaria. A história da Inconfidência Mineira toma sempre por base informações dos historiadores/pesquisadores Joaquim Felício dos Santos, Joaquim Norberto de Souza, Tarquínio Oliveira, Gustavo Barroso, Hércules Pinto, Augusto de Lima Júnior, Tenório Cavalcante de Albuquerque, Tito Lívio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira.

Delatados por Joaquim Silvério dos Reis e presos em 10 de maio de 1.789, o movimento revolucionário/libertário dos Inconfidentes logo é abafado. Torturado e em evidente estado de desespero, o Inconfidente Domingos de Abreu Vieira entrega o nome de diversos companheiros. Alvo de peça sucinta e escrita, articulada pela coroa, foi ele que mais entregou militares inconfidentes.

Em seu depoimento, destacamos algumas passagens:

“ E que alguns oficiais estavam convidados também: o Tenente Antônio Agostinho disse que o Tiradentes estava falado e que ele respondera que estava tudo pronto, pois também era mazombo. O cabeça de tudo era o Tiradentes, dizendo que ele e o Alvarenga haviam de ser os heróis da função, pois defendiam sua Pátria; que os mazombos tinham valimento e sabiam governar”.

A notícia da prisão dos Inconfidentes, ocorrida no dia 10 de maio de 1.789, chegou a Vila Rica na noite do dia 17 de maio de 1.789, sendo passada a Cláudio Manoel da Costa, Tomás Gonzaga e Diogo Pereira de Vasconcelos, na mesma noite.

O pesquisador Gustavo Barroso comentou que Martins Francisco Ribeiro de Andrada escrevera um livro afirmando que Tiradentes teria sido substituído no patíbulo por outra pessoa, secretamente, tudo para evidenciar a Dona Maria, a louca, que realmente Tiradentes fora enforcado e depois esquartejado. Não existe nenhuma evidência comprobatória, documentos, etc, de que Tiradentes tenha sido maçom muito embora ele tenha abraçado totalmente a causa e assumido a liderança e depois culpabilidade após a prisão dos Inconfidentes. Sua sentença foi expedida no Rio de Janeiro no dia 18 de abril de 1.792. Morreu a 21 de abril, pela Independência do Brasil. Foi traído, e não traiu jamais, a Inconfidência de Minas Gerais…

O grande escritor Machado de Assis, em uma de suas crônicas, afirmara que Tiradentes vivera até 1.818, sobrevivendo com uma pensão autorizada por Dom João VI. A histórica crônica teria sido publicada no jornal Gazeta de Notícias, jornal da época. Escrevera o poeta que Joaquim José da Silva Xavier morrera no Rio de Janeiro, onde, desde 1.810, tinha uma loja de barbeiro, dentista e sangrador.

Verdade ou não, o boato continua até hoje nos meios maçônicos…