Nilson Montoril

A pracinha Cypriano Santos


No espaço delimitado pelas ruas São José e Tiradentes e pelas Avenidas Presidente Vargas e Coriolano Jucá, cortado pela Passagem dos Inocentes, existiu um singelo logradouro público identificado como Pracinha Cypriano Santos. Essa pracinha não tinha nenhuma estrutura que a credenciasse a possuir tão pomposo rótulo. Entretanto, devido a sua localização, os moradores que tinham o fundo dos seus quintais contornando-a, se davam ao luxo de ter portões nas cercas dos fundos. À tardinha, notadamente no período de estiagem, várias pessoas convergiam para a pracinha, onde permaneciam até a escuridão dominar a pequena cidade de Macapá. A área da Pracinha Cypriano Santos era similar a do Largo dos Inocentes, sendo um pouco menor.

Os dois espaços eram cortados pela Passagem Coronel José Serafim Gomes Coelho, nome de um dos mais proeminentes Intendentes do Município de Macapá. O batismo da pracinha ocorreu no tempo em que a área do atual Estado do Amapá pertencia ao Estado do Pará, equivalendo a uma homenagem ao médico e político Cypriano José dos Santos. Esse ilustre cidadão nasceu em Belém, no dia onze de dezembro de 1859, sendo filho do paraense Cypriano José dos Santos e da maranhense Antônia Maria da Conceição Santos. Depois de cursado o primário e secundário, em Belém, seguiu para a cidade de Salvador, na Bahia. Entre os anos de 1880 e 1885, frequentou a Faculdade de Medicina da Bahia, obtendo o grau de médico, defendendo a tese sobre “medidas profiláticas contra a invasão das moléstias infectocontagiosas”. Ao retornar a Belém, em 1886, montou uma clínica médica e filiou-se ao Partido Conservador, cujo líder era o Cônego Manoel José de Siqueira Mendes, que, na época do Império foi três vezes presidente da Província do Pará. Após a proclamação da República, Cypriano Santos aderiu o Partido Radical.

A 29 de outubro de 1887, casou com Luciana Nicolau dos Santos, filha do comerciante Conrado Nicolau, que exercia a função de vice-cônsul de Portugal, em Bragança. Em 1891, Cypriano Santos ingressou no Partido Republicano, juntamente com Justo Leite Chermont, Lauro Nina Sodré, Paes de Carvalho e Antônio José Lemos, o dono do jornal “A Província do Pará”. Esse jornal reinou absoluto em Belém até 1896, dando a seu dono um imenso poder. Na época, Cypriano Santos integrava o grupo político dominante no Pará, com alguns de seus membros ocupando cargos eletivos na Assembléia Legislativa. A força desse grupo ficou patente no dia 22 de junho de 1891, quando Lauro Nina Sodré foi eleito governador. Em primeiro de janeiro de 1896, surgia na capital paraense a “Folha do Norte”, fundada pelo então deputado federal Enéas Martins. Não tardou para que Cypriano Santos e outros importantes políticos se tornassem sócios do novo jornal. Em 1898, Lauro Sodré instalou, em Belém, o Partido Republicano Federal, contando com a solidariedade de Cypriano Santos, da Folha do Norte e de outros elementos. O Partido Republicano do Pará ficou sob a liderança de Paes de Carvalho e de Antônio Lemos. O novo partido fez surgir a “corrente laurista”, tendo como condutor político e chefe o estrategista Siqueira Campos.

A animosidade entre lauristas e lemistas intensificou-se e perdurou por 12 anos, causando dolorosos dissabores aos integrantes da “Folha do Norte”, que frequentemente, a mando dos lemistas, eram presos e espancados. Auxiliares, colaboradores e amigos também sofriam perseguições. As edições mais picantes eram apreendidas. Tudo isso acontecia devido à coragem de Cypriano Santos e de seus funcionários em denunciar os desmandos de Antônio Lemos. Quanto mais os lemistas perseguiam Cypriano Santos e seu jornal, mais o povo e o comércio de Belém devotavam admiração à Folha do Norte, ajudando na manutenção do referido jornal. Exerceu vários cargos eletivos, entre os quais o de deputado constituinte do Congresso do Estado do Pará e presidente da Câmara, em legislaturas sucessivas. Em 1901, por ocasião da eleição para governador do Pará, Cypriano Santos apoiou Lauro Sodré, tornando-se ferrenho adversário de Augusto Montenegro e José Lemos. O vencedor foi Augusto Montenegro. Como o Intendente de Macapá, Theodoro Mendes, não apoiou seu candidato, Cypriano Santos resolveu hostilizá-lo e tramar seu assassinato. Isso só não aconteceu, porque a trama foi descoberta e a guarnição da Fortaleza de Macapá botou pra correr seus capangas.