Pe. Claudio Pighin

Ó meu deus, vós sois o meu auxilio pra toda hora


“Doutor, a minha vida acabou!” Era de manhã cedo quando um senhor procurou a residência de seu médico, todo desesperado. Estava sujo e mal vestido. Chorando, fala para o medico, entregando-lhe uma carta do laboratório: eis aqui a minha condenação! O doutor abre o envelope e vai folheando o resultado das análises do laboratório. Conclusão: detectado um câncer. Então, o paciente, com voz aflita e desesperada, quis entregar mais uma carta das suas últimas vontades. Porém, o sábio médico começou a lhe dizer que tudo isso não era o fim, mas sim que se podia combater com os recursos que a medicina sabia lhe propor. Tentou acalma-lo e devagar conseguiu lhe fazer entender que hoje em dia é possível vencer tudo isso. Imagino quantas pessoas se encontram nessas situações de vida e entram no desespero total. O que fazer perante uma situação como essa? A Palavra de Deus nos ajuda a respeito. O salmo 70 das Sagradas Escrituras nos diz:

“É em vós, Senhor, que procuro meu refúgio; que minha esperança não seja para sempre confundida. Por vossa justiça, livrai-me, libertai-me; inclinai para mim vossos ouvidos e salvai-me. Sede-me uma rocha protetora, uma cidadela forte para me abrigar: e vós me salvareis, porque sois meu rochedo e minha fortaleza. Meu Deus, livrai-me das mãos do iníquo, das garras do inimigo e do opressor, porque vós sois, ó meu Deus, minha esperança. Senhor, desde a juventude vós sois minha confiança. Em vós eu me apoiei desde que nasci, desde o seio materno sois meu protetor; em vós eu sempre esperei. Tornei-me para a turba um objeto de admiração, mas vós tendes sido meu poderoso apoio. Minha boca andava cheia de vossos louvores, cantando continuamente vossa glória. Na minha velhice não me rejeiteis, ao declinar de minhas forças não me abandoneis. Porque falam de mim meus inimigos e os que me observam conspiram contra mim, dizendo: Deus o abandonou; persegui-o e prendei-o, porque não há ninguém para o livrá-lo. Ó Deus, não vos afasteis de mim. Meu Deus, apressai-vos em me socorrer. Sejam confundidos e pereçam os que atentam contra minha vida, sejam cobertos de vergonha e confusão os que procuram minha desgraça. Eu, porém, hei de esperar sempre, e, dia após dia, vos louvarei mais. Minha boca proclamará vossa justiça e vossos auxílios de todos os dias, sem poder enumerá-los todos. Os portentos de Deus eu narrarei, só a vossa justiça hei de proclamar, Senhor. Vós me tendes instruído, ó Deus, desde minha juventude, e até hoje publico as vossas maravilhas. Na velhice e até os cabelos brancos, ó Deus, não me abandoneis, a fim de que eu anuncie à geração presente a força de vosso braço, e vosso poder à geração vindoura, e vossa justiça, ó Deus, que se eleva à altura dos céus, pela qual vós fizestes coisas grandiosas. Senhor, quem vos é comparável? Vós me fizestes passar por numerosas e amargas tribulações para, de novo, me fazer viver e dos abismos da terra novamente me tirar. Aumentai minha grandeza, e de novo consolai-me. Celebrarei então vossa fidelidade nas cordas da lira, eu vos cantarei na harpa, ó Santo de Israel. Meus lábios e minha alma que resgatastes exultarão de alegria quando eu cantar a vossa glória. E, dia após dia, também minha língua exaltará vossa justiça, porque ficaram cobertos de vergonha e confusão aqueles que buscavam minha perdição.”

O fiel que aqui faz a sua oração manifesta toda a sua tristeza e amargura das provas da vida presente e revela, ao mesmo tempo, sua saudade ao passado de paz e tranquilidade. A situação que ele está passando parece uma catástrofe total, mas tem um único fio de esperança que lhe resta: a confiança em Deus. Por isso, não se cansará nunca de louva-Lo. Esse poder ninguém pode lhe tirar. Nenhum opressor ou perseguidor da sua vida. Portanto, a confiança em Deus é o seu refúgio que lhe resta, para sempre. O fiel aqui nos dá um testemunho da espiritualidade da velhice, uma velhice, porém, não tanto cronológica, mas quanto uma fase existencial.

O que é importante em tudo isso é a descoberta de valores que marcam a vida pessoal. E quais são os valores a serem perseguidos? Como nos testemunha esse hino, o primeiro valor é a confiança em Deus, nosso verdadeiro refúgio. Tudo dependemos Dele. O segundo valor é ter essa capacidade de mantermos fiéis a Ele não obstante as provas da vida, por quanto duras sejam. O terceiro valor é a esperança em que se deposita toda a certeza que Deus não abandona as suas criaturas. E por último tem o valor da música, do louvor, da beleza que resplandece a vida. E a velhice nos ensina muita coisa a respeito, pela sua experiência de vida. E o papa Francisco nos garante que “A velhice é a sede do conhecimento.”