Entrevista

PT defende que Lula é a única alternativa para resolver os problemas do Brasil

Membro da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-deputado federal por São Paulo Renato Simões foi entrevistado nesta terça-feira (07) pelo jornalista e radialista Luiz Melo. Ele veio ao Amapá para lançar a plataforma virtual denominada ‘O Brasil Que o Povo Quer’, evento que aconteceu à noite na sede do Sindicato dos Urbanitários, em Macapá. Renato Simões não fugiu das perguntas, reconheceu erros cometidos nas gestões petistas, em especial nas de Dilma Roussef, ponderou que os acertos superam o que chamou de “falhas” e afirmou que a volta à Presidência da República é a melhor alternativa para o Brasil retomar o desenvolvimento.


Luiz Melo: O que é essa plataforma virtual que o PT está lançando nos estados, inclusive no Amapá?
Renato Simões: O povo quer sair dessa situação que está sendo protagonizada pelo atual governo, porque a pior coisa é ser vitima das ações de um governo ilegítimo que nãos nasceu da vontade população. A plataforma ‘O Brasil Que o Povo Quer’ oferece a oportunidade da população dialogar sobre alternativas para o país, os estados, a Amazônia em um ambiente virtual de debates, complementando outras formas tradicionais do PT, através das suas câmaras setoriais, núcleos, diretórios, das relações com os movimentos sociais e da academia.

Luiz Melo: O senhor acho que apesar de tudo que tem acontecido, tantas denúncias de roubalheiras, inclusive com perspectiva do Lula ir para a cadeia, ele consegue se por de pé e conseguir se eleger novamente presidente da República?
Renato Simões: Nesse momento nós precisamos oferecer alternativas ao povo brasileiro, alternativas para as pessoas que tiveram suas vidas transformadas durante 14 anos de poder. A alternativa, eu não tenho nenhuma dúvida, é o presidente Lula. É essa alternativa que o PT está oferecendo.

Luiz Melo: O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, disse que é bobagem lançar Lula como candidato se ele já condenado em uma ação da Lava Jato e está na iminência de outras condenações, inclusive sob o risco de até ir pra cadeia…
Renato Simões: Isso foi muito contestado em todos os meios jurídicos porque essa coisa do juiz virar comentarista político não pode. Ele (o ministro) na verdade não decide sobre o assunto, é apenas um dos que decidirão. O presidente Lula estáa se defendendo, ele não tem culpa formada. Não há efeito jurídico nenhum uma condenação em 1ª instância. O Lula será candidato a presidente e nós vamos construir um programa de governo nesse cenário de destruição política, porque ele permanece como principal alternativa do povo brasileiro.

Luiz Melo: O Lula reconhece que cometeu erros graves? O PSDB fez ‘mea culpa’. Por que Ele e o PT também não fazem isso publicamente?
Renato Simões: O PT fez sim, o Lula também fez. Ao mesmo tempo em que ele reconhece o legado também reconhece as falhas, principalmente a de conviver com um sistema político corrompido que poderia ser ter sido fruto de uma reforma política, mas que se manteve por decisão corporativa do Congresso Nacional. O cenário interessante é que a criminalização política tem levado a anulação política para muitas pessoas como campo válido, sem levar em conta que se não está bom temos que trabalhar para que esteja.

Luiz Melo: Dilma foi grande desgraça do PT?
Renato Simões: Ela teve enormes virtudes e erros importantes. A grande virutude dela não foi só ter dado continuidade a um projeto exitoso, como também ter enfrentado a mais grave crise internacional do capital, que se prolongou tantos anos. O ajuste fiscal que o então ministro Levy começou a praticar levou a uma recessão muito forte que agravou a situação do país. E nós erros pagamos muito caro por isso. Mas não podemos permitir que uma presidente honesta e legitimamente eleita tenha sido substituída por uma camarilha que compactuou com crimes que só vêm se agravando. Não há duvida que o Brasil perdeu bastante com a queda da presidente Dilma. Se nós estamos discutimos que queremos consertar erros e estamos colocando consertos dos erros em cima dos autores dos erros do passado… Quem são os ministros de Dilma envolvidos em erros? Os mesmos que estão com temer; olha o Gedel, o Henrique Alves, o Eduardo cunha… Todos eles são membros dos esquemas de corrupção que vinham de antes do governo do PT, atravessaram o governo do PT e continua agora.

Luiz Melo: Mas o senhor há de concordar que a equipe econômica do atual governo vem trabalhando de forma competente…
Renato Simões: Na verdade a equipe econômica do atual governo tem uma blindagem importante. Tivemos nessa semana notícia do envolvimento de toda a alta cúpula da Fazenda envolvida em denúncias de offshores em paraísos fiscais. Esse processo doloroso de separação da política do que é bem publico, que é o objetivo comum de todos, separar das atividades privadas que visam lucros da atividade política está por ser feito. Uma grande medida nesse sentido foi adotada pelo SFT (Supremo Tribunal Federal) de que a atividade política é publica, e por isso deve ter financiamento público, não de empresas que depois buscam contrapartida com benesses que levam à corrupção. Felizmente esse cenário desastroso começa a ser desmontado.

Luiz Melo: A mídia tem falado muito na necessidade do novo na política, não propriamente na idade, mas em idéias inovadoras que venham revolucionar o cenário atual do país, inclusive já colocando nomes como Luciano Hulk, por exemplo. Na sua opinião esses nomes terão como se firmar como candidatos em potencial?
Renato Simões: Acredito que não. Nessa ausência de lideranças políticas importantes surgem balões de ensaio. O povo quer algo novo, que aponte para esperança. Quando decidimos lançar esse programa ‘O Brasil Que o Povo Quer’ foi justamente para criar uma ferramenta de escuta do povo. A busca de diálogo por meio digital, de evento e debates com academia, compondo o diagnóstico da situação do Brasil na busca de soluções inovadoras. A ideia de lançar mão de tecnologias da informação permitindo a pessoas que não participam efetivamente da política, fazerem queixas. Um potencial muito positivo do povo brasileiro é a participação, a busca de opinar, debater os problemas dos quais o povo está sendo vítima, buscar medidas para mudar o que não é favorável… Isso vai trazer simbiose entre os esforços de elaboração do partido, dos movimentos sociais e da academia, surgindo algo novo na candidatura do PT, do presidente Lula.

Luiz Melo: O PT tem ouvido muito as ruas? O que tem ouvido?
Renato Simões: Não há duvida que as ruas estão divididas e essa divisão seu deu na criação de um amplo movimento do pensamento da direita, o que foi a grande novidade política partir de 2010 e teve o ponto alto com as manifestações por ocasião do impeachment da presidente Dilma, quando pela primeira vez as ruas foram ocupadas desde os anos 60 por um pensamento conservador. Essa divisão das ruas se expressa numa grande incredulidade que existe hoje e deu tudo isso. Temos pessoas que votaram contra o impeachment da Dilma que hoje estão votando envergonhadamente para o Temer continuar; não vê mais aquele senso de indignação contra o PT nas ruas porque há um sentimento de desesperanças. E nós vamos reocupar as ruas, inclusive agora no dia 10, que será um dia de grandes manifestações dos movimentos sociais e das centrais sindicais, na véspera do inicio em vigor da reforma trabalhista, que vai tirar direitos importantes da classe trabalhadora, direitos esses acumulados desde os anos 1930, 1940. Isso significa que o povo volta a reivindicar para a buscar uma alternativa democrática.

Luiz Melo: O vazio na política pode viabilizar candidaturas extremistas e populistas, como a de Jair Bolsonaro, por exemplo, que está no calcanhar de Lula nas pesquisas, porque ele fala o povo quer ouvir…
Renato Simões: Isso é um perigo, mas não acredito que esse será o cenário de 2018 porque não há ainda candidaturas postas de forma bastante nítida e os sujeitos políticos são fundamentais.

Luiz Melo: Sabe-se que esse ‘vazio ético’ ao qual o senhor se refere não foi resultado desse governo que está aí. O senhor acha que o PT vai poder revirar isso tudo?
Renato Simões: Acredito que sim, porque se há força política no país capaz de vertebrar um projeto de nação é o PT. Temos hoje um processo de recuperação importante das imagens dos partidos e a pesquisa tem mostrado que voltamos aos patamares de 2014, porque o PT é o partido que tem três vezes mais credibilidade que PMDB, que é o 2º partido, seguido do PSDB. Nós não podemos fazer democracia sem partido e o PT fez um processo interno de renovação, trocamos nossa direção nacional recentemente e a presidente Gleisi Hoffmann assumiu agora em outubro. Nós não vamos dizer o que o povo quer, mas sim ouvir o que o povo quer, para podermos sintonizar e fazer as mudanças necessárias.

Luiz Melo: A democracia no Brasil tem balançado muito com tantos descréditos que passam as instituições, inclusive o Judiciário…
Renato Simões: Há crises institucionais fortes e isso vai ter que ser resolvido de forma democrática. As eleições de 2018 terão que ser livres, as forças políticas vão ter que disputar e o Congresso Nacional vai ter grande responsabilidade de repactuar o país. Nós vamos precisar encontrar uma forma de discutir os erros e os acertos das instituições, porque o que não temos hoje é uma instituição que não tenha se colocado de forma contrária aos interesses populares, por isso descrédito geral.

Luiz Melo: Qual a instituição com maior índice de credibilidade no seu ponto de vista?
Renato Simões: Todas elas estão em xeque, o Ministério Público, o Judiciário, as Forças Armadas, a Polícia Federal… São instituições que estão colocadas com credibilidade, mas não fazem a democracia funcionar. Temos duas grandes questões. A primeira é que em 2018 tem que ter eleição, as forças políticas têm que se colocar e o povo escolher; segundo é que o Congresso Nacional eleito terá a responsabilidade de se colocar longe de interesses privados que sempre financiaram. Nós não vamos ter financiamento privado e as bancadas terão que se posicionar; são segmentos que se organizam, financiam e montam bancadas parlamentares para defender seus interesses. Com essa desprivatização das campanhas há que se pensar muito bem em quem votar para deputado federal, senador, enfim, em todos os cargos eletivos, em especial no presidente da República e no Congresso Nacional, porque terão papel fundamental para unir o pais com credibilidade e no processo democrático, sob pena de continuarem cada vez mais desacreditados.

Luiz Melo: No último final de semana várias postagens nas redes sociais deram conta de uma reunião do PT e PSB visando reaproximação, que teria também a ver com interesses Amapá. O senhor confirma?
Renato Simões: Nós temos participado de várias reuniões com os campos de esquerda depois que PSB se afastou mais dos setores golpistas. Há setores importantes do PSB que têm expressão política nacional e o partido está passando por uma grande transformação com a saída de conservadores. O PT tem diálogo no campo da esquerda com vários partidos, entre eles PDT, PSB, PCdoB, setores da REDE e com o próprio PSOL. E através dessa plataforma o PT se posicionar; vamos buscar apoio para o presidente Lula e também discutir no âmbito dos estados, porque é importante para nós recuperarmos partidos que estiveram historicamente comprometidos com a possibilidade de mudança social do Brasil.

Luiz Melo: O senhor citou a REDE, cuja maior liderança no Amapá é o senador Randolfe Rodrigues…
Renato Simões: O senador Randolfe veio do PT, tem uma trajetória e não entendemos essa relação dele com o DEM no Amapá. Não nos parece coerente com sua trajetória. Mas o PT neste momento tem um grande ativo nacional que é o presidente Lula, que está agregando forças políticas e nesse sentido nós estamos dialogando com todas as forças de esquerda.


Deixe seu comentário


Publicidade