Wellington Silva

Ruy Guarany


Sucinto, preciso, claro, objetivo e sem ‘floreados’ no caminho para não tropeçar no embaralhado de frases desnecessárias. Assim era o texto de Ruy Guarany Neves.A qualidade de seus artigos são retratos escritos da História do Amapá. Sonhos de um Amapá melhor para todos. Ele era um garimpeiro das frases simples e curtas. Poucas palavras diziam muito. Resumia a complexidade de uma situação histórica com a verdade imperativa do contexto histórico, e apontava soluções.

Foram várias as situações vivenciadas em nossa terra e em nosso Brasil varonil que não passavam despercebidas do olhar clínico do Ruy. Quantos artigos de sua autoria já não foram lidos discorrendo sobre a velha situação da BR 156, a estrada mais longeva a construir na História do Brasil, com primeiro termo aditivo datado de 1976.

E a Base Aérea do Amapá?
Falar nela, certo dia encontrei com o Ruy, no canto da lotérica localizada na rua Jovino Dinoá, próximo ao Complexo Administrativo do Governo do Amapá, para tocarmos nas mesmas teclas. E assim, em rápido raciocínio, como um político sem mandato, do alto de sua experiência, ele falou:

– Rapaz, é simples! Tem que ir alguém conversar com a Força Aérea Brasileira e com a Força Aérea Americana, via Itamaraty, para construir o Museu da Base Aérea do Amapá. Aquilo lá tá se acabando. É uma memória viva da 2ª Guerra Mundial que o tempo está destruindo. Se não cuidarmos, vai se acabar tudo!

Nossas preocupações com o Amapá sempre eram compartilhadas. E não era só a questão da Base Aérea do Amapá e da BR 156 a grande pauta de nossos papos, eu quase sempre como provocador e ouvinte do Ruy. O velho isolamento territorial de nossa região, por via terrestre, vem desde 1943, assunto que também abordou com muita propriedade e por um bom tempo nas páginas do Jornal do Dia e por mais de 20 anos no Diário do Amapá.

A velha política do contracheque, a lentidão da obra do Aeroporto de Macapá, o sítio arqueológico de Calçoene e várias outras questões de fundamental importância para nossa região foram objetos de observação analítica deste grande amapaense oriundo de Clevelândia do Norte, Oiapoque, Amapá, nascido em 1930.

Ficamos velhos, de cabeças brancas, de tanto falar e de tanto escrever sobre esses assuntos…

Não mais veremos nas páginas do Diário do Amapá as claras argumentações do articulista, de uma amapalidade e de uma brasilidade ímpar e rara nestes tempos bicudos de denúncias, apurações de ilícitos administrativos e vergonha nacional e internacional.

Ficará perene na nossa memória o seu exemplo de decência, civismo, simplicidade, bom caráter e capacidade de servir sempre.

O premiado jornalista Douglas Lima, do Diário do Amapá, assim o descreveu, num bate papo descontraído no saguão do Jornal: – O texto do Ruy é um texto leve, sucinto, objetivo e agradável de ler…