Nota 10

No dia da pessoa com deficiência visual, ex-radialista dá depoimento emocionante no rádio

Graduado em História e pós-graduado em Educação Inclusiva, Antônio Carlos relembra imagens que conseguiu ver na infância, fala sobre as conquistas pessoais e reconhece avanços nas políticas públicas voltadas para os portadores de deficiências.


No dia consagrado ao deficiente visual (13 de dezembro) o ex-radialista Antônio Carlos deu um depoimento emocionado no programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90,9). Instado a falar sobre a data, Antônio Carlos, que é graduado em história e pós-graduado em educação inclusiva, Antônio Carlos relembra imagens que conseguiu ver na infância, fala sobre as conquistas pessoais e reconhece avanços nas políticas públicas voltadas para os portadores de deficiências, mas reclamou da falta de preocupação com a mobilidade urbana e do preconceito.

“Hoje é considerado o dia da pessoa portadora de deficiência visual, mas pela questão da religião é o dia de Santa Luzia, a protetora da visão. O que tenho a dizer é que hoje as pessoas têm outro olhar com relação à pessoa com qualquer deficiência, até porque não se diz mais ‘fulano é deficiente’, mas sim se refere à ‘pessoa com deficiência’. No meu tempo de criança a gente via muitas pessoas, principalmente cegas, que para sobreviverem tinham que pedir esmola, tocar uma violinha, declamar uma poesia nas portas de igrejas, confeitarias, nas praças batendo nas portas, e pessoas de bom coração iam colocando moedinhas no chapéu ou na cuia… Hoje é diferente, porque as pessoas com deficiência estão trabalhando, estudando, fazem faculdade, concurso público, trabalham, enfim, contribuem, estão participando de tudo, não são mais um peso morto na sociedade. Eu não sou uma pessoa especial, sou um cidadão igual a todos com direitos e deveres, não uma pessoa especial. Precisamos acabar com essa besteira”.

Antônio Carlos disse que já nasceu com deficiência visual, mas lembra de várias passagens em sua vida: “Eu já nasci com esse problema, passei por cirurgias quando eu tinha dois anos de idade, tanto que eu enxerguei algum tempo, não totalmente. Lembro perfeitamente que as coisas mais lindas que eu cheguei a ver foi bandeira nacional, a lua cheia, o arco-íris e o por do sol… Foram as coisas mais lindas que eu tive oportunidade de ver. Quando eu ia à Avenida FAB, nos desfiles de 7 de Setembro, com meus pais, irmãos, amigos… Passavam os pelotões de estudantes em bicicletas com as rodas enfeitadas com papel crepon nas cores da bandeira nacional, com várias bicicletas desfilando… Era uma coisa muito linda, eu ficava muito maravilhado. Guardo imagens das pessoas, principalmente da minha mãe, com quem eu tinha mais contato, a saudosa professora Letícia… Lembro o seu semblante, o porte físico… Aquela pessoa branca, pele rosada, olhos e cabelos castanhos… Foi com ela que aprendi a ler e também devo a ela a minha formação moral, cristã e de caráter”.

Perguntado se sofreu discriminação, ele admitiu que sim: “Com certeza, porque toda pessoa com deficiência é vitima dessa desconfiança, indagam se a pessoa sabe mesmo, se pode fazer determinada atividade. Às vezes pessoa a pessoa com deficiência faz concurso público, é aprovado, classificado, mas na hora de assinar o contrato começam as dificuldades, alegam que a sociedade não está preparada, etc. Hoje já há muitas leis, mas para funcionar é preciso a gente estar ‘forçando a barra’, ‘entortando o cano’ para que essas leis sejam cumpridas. A gente encontra esse tipo de dificuldade, isto é, na hora de você mostrar que quer, que pode e que sabe trabalhar sempre tem alguém olhando atravessado, colocar areia na paçoca.

As pessoas portadoras de deficiências, na opinião de Antônio Carlos, sofrem muito por causa da mobilidade urbana: “Eu confesso que não consigo andar não, porque falta mobilidade. Muita coisa precisa ser feita, mas graças à misericórdia de Deus, do esforço pessoal e do e apoio da família eu tenho graduação em historia pela Unifap (Universidade Federal do Amapá), sou pós-graduado em Educação Inclusiva e tenho quatro cursos de massagem, conheço alguma coisinha de música e de vez em quando me atrevo a arranhar uma acordeon… São vitórias que a gente vem conquistando na vida, mostrando para a sociedade que a pessoa com deficiência tem valor e esse valor deve ser conhecido, explorado, colocado a serviço da sociedade. Por isso eu sou uma pessoa feliz hoje, graças a Deus”.


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