Pe. Claudio Pighin

Entrar no santuário do senhor


Uma questão que ouço constantemente na vida das pessoas é esse tipo de queixa: “Deus, por que permite essa violência, essas atrocidades no meio de nós? Morte de crianças, sequestros, homicídios, imoralidades, deturpação da realidade, corrupção…” As pessoas querem entender a difícil convivência da humanidade. Mas parece que não conseguem dar uma razão. Lendo o salmo 72, das Sagradas Escrituras, pode-se tentar dar uma resposta.

“Oh, como Deus é bom para os corações retos, e o Senhor para com aqueles que têm o coração puro! Contudo, meus pés iam resvalar, por pouco não escorreguei, porque me indignava contra os ímpios, vendo o bem-estar dos maus: não existe sofrimento para eles, seus corpos são robustos e sadios. Dos sofrimentos dos mortais não participam, não são atormentados como os outros homens. Eles se adornam com um colar de orgulho, e se cobrem com um manto de arrogância. Da gordura que os incha sai a iniquidade, e transborda a temeridade. Zombam e falam com malícia, discursam, altivamente, em tom ameaçador. Com seus propósitos afrontam o céu e suas línguas ferem toda a terra. Por isso se volta para eles o meu povo, e bebe com avidez das suas águas. E dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto? Assim são os pecadores que, tranquilamente, aumentam suas riquezas. Então foi em vão que conservei o coração puro e na inocência lavei as minhas mãos? Pois tenho sofrido muito e sido castigado cada dia. Se eu pensasse: Também vou falar como eles, seria infiel à raça de vossos filhos. Reflito para compreender este problema, mui penosa me pareceu esta tarefa, até o momento em que entrei no vosso santuário e em que me dei conta da sorte que os espera. Sim, vós os colocais num terreno escorregadio, à ruína vós os conduzis. Eis que subitamente se arruinaram, sumiram, destruídos por catástrofe medonha. Como de um sonho ao se despertar, Senhor, levantando-vos, desprezais a sombra deles. Quando eu me exasperava e se me atormentava o coração, eu ignorava, não entendia, como um animal qualquer. Mas estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão, e, por fim, na glória me acolhereis. Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra. Meu coração e minha carne podem já desfalecer, a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus. Sim, perecem aqueles que de vós se apartam, destruís os que procuram satisfação fora de vós. Mas, para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é pôr minha confiança no Senhor Deus, a fim de narrar as vossas maravilhas diante das portas da filha de Sião.”

Esse hino inicia louvando o Senhor porque Ele é bom com aqueles que são transparentes na vida. Não são duplos, isto é, que se comportam dizendo uma coisa e fazendo outra. Porém, o fiel fica irritado e amargurado vendo esses ímpios malvados tendo uma existência esbanjando riqueza e felicidade e, no entanto, ele lutando para sobreviver. Ele rezando manifesta toda essa preocupação, porque o ímpio se enche de orgulho, estufa o peito e pratica a violência.

O coração do malvado é um vaso cheio de loucuras e a sua boca desafia céu e terra: “dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto?” No entanto, o justo é colocado à prova e sofre todos os dias a diferença do sucesso do malvado. A segunda parte dos versículos 17 a 20 marca a mudança do salmo. O fiel desse salmo muda de opinião: aquela posição fatalista do infiel que é mais feliz do justo se inverte. Por que? É entrando no santuário que lhe permite de fazer uma experiência mística em que descobre o destino último dos ímpios e dos justos.
Nessa experiência de oração, consegue discernir a verdadeira realidade da humanidade: o malvado não tem futuro e será destruído. Aquela felicidade inicial foi só uma ilusão, um sonho que termina o quanto antes. O justo, no entanto, vive a grande esperança da imortalidade pela comunhão com Deus, Senhor de tudo e de todos. Portanto, é a proximidade com Deus que ajuda compreender a preciosidade da vida dos justos.

E o papa Francisco nos convida a entrar nessa lógica da contemplação no templo com a oração persistente: “Jesus exorta a rezar sem jamais se cansar. Todos experimentamos momentos de cansaço e desânimo, principalmente quando nossa oração parece ineficaz. Mas Jesus nos garante que Deus ouve prontamente seus filhos, mesmo que isso não signifique que o faça nos tempos e nas maneiras que nós queremos. A oração não é uma varinha mágica! Ela ajuda a conservar a fé em Deus e a confiar n’Ele mesmo quando não compreendemos a Sua vontade.”