Dom Pedro Conti

Alimentos desperdiçados


Notícias da internet: “O Brasil ocupa a 10ª posição no ranking que acompanha os países que mais desperdiçam comida em todo o mundo. A posição mais do que negativa contrasta com os aproximadamente 14,7 milhões de brasileiros (7% da população) que passaram fome em 2020, segundo o Banco Mundial. Ainda segundo a última atualização global da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e da Agricultura (FAO), de 2013, são 26,3 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados por ano. Um outro número surpreendente surge: os milhões de alimentos jogados fora representam 10% de todo o alimento disponível no país. Segundo a EMBRAPA (2018), cada família média brasileira desperdiça cerca de 130 Kg de comida por ano, o que equivale a 41,6 Kg por pessoa.”

No 18º Domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do cap. 6 do evangelho de João. Deixamos Jesus se retirando sozinho após o “sinal” dos pães e dos peixes oferecidos à multidão. Ele se esconde porque não lhe interessa ser proclamado rei. Ele quer ajudar o povo a procurar algo mais do “alimento que se perde”, ele convida a encontrar o “alimento que permanece até a vida eterna” (Jo 6,27). Entendemos que Jesus, aos poucos, quer conduzir aquele povo – e nós juntos – a reconhecer nele mesmo o “novo alimento”, bem diferente do maná do deserto e de qualquer outro alimento perecível. Será o Filho do Homem a dar este alimento e será ele mesmo como diz claramente: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,35). Quem alimentar a sua vida com Jesus “não terá mais fome” e quem crer nele “não terá mais sede”. Temos a impressão de que o povo fique entusiasmado com isso ao ponto de exclamar: “Senhor, dá-nos sempre deste pão”, mas, como veremos, logo começam as discussões e a incredulidade.

Óbvio, não é nada fácil passar de um alimento concreto e visível como o maná e o pão, para um “alimento” que tem, sim, algo concreto e visível, o pão-Eucaristia, mas que, ao mesmo tempo, é o próprio Jesus que sempre nos oferece o seu amor doando-nos a sua própria vida. Para entender, um pouco mais, do “mistério” da Eucaristia, devemos entrar na dinâmica dos sinais e, sobretudo, do “memorial”. Nós, cristãos, acreditamos que a Páscoa de Jesus foi algo que aconteceu historicamente uma vez por todas, mas os frutos daquele evento permanecem para sempre e têm valor para a humanidade e a criação toda. Todos que acreditam e decidem seguir a Jesus podem participar de uma maneira especial daquele evento através do “memorial” que é lembrança daquele momento, mas também é um conjunto de gestos e orações, que chamamos de “liturgia”. Para simplificar, podemos dizer que a narração da vida doada de Jesus, todos os dias e até o fim na cruz, explica o que estamos celebrando. Os gestos, no caso o comer do pão e o beber do vinho que envolvem toda a nossa pessoa, fazem-nos reconhecer a sua presença viva e real (Lc 24,35) e, ao mesmo tempo, nos fortalecem para continuar a mesma missão dele. Entre tantas coisas que Jesus fez e das quais nos deu o exemplo está o fato de ter saciado a fome daquela multidão.

Ainda hoje, são milhões de seres humanos que passam fome, para alguns tão grande que os levam à morte ou a alguma enfermidade, consequência da sua desnutrição endêmica. A nossa civilização tão desenvolvida e orgulhosa de si mesma, ainda não resolveu o escândalo da fome no mundo. É vergonhoso e desumano que nós desperdicemos alimentos quando tantos outros sobreviveriam com o nosso “lixo”. Enchemos as nossas barrigas de indiferença e egoísmo. Faltam-nos, evidentemente, alguns “alimentos” diferentes que se chamam solidariedade, fraternidade e partilha. O “alimento” que nos carece, afinal, é o amor ao próximo. Por isso Jesus – e sua vida doada – se propõe a nós como “alimento” para que, ao conhecê-lo e ao amá-lo, encontremos o sentido pleno da nossa vida fazendo o bem, amando e servindo aos irmãos. Mais um desafio para nós cristãos que participamos de tantas missas e recebemos tantas comunhões.