Dom Pedro Conti

Boas escolhas, más escolhas


Certo dia, o discípulo cria coragem e resolve tirar a sua grande dúvida com o Mestre.

– Mestre, como faço para me tornar um sábio? – perguntou.

– Boas escolhas. Ele fica pensativo por alguns instantes e depois torna a perguntar:

– Mas como fazer boas escolhas?

– Experiência – diz o mestre.

– E como se adquire experiência, mestre? – Más escolhas…
Estamos de novo no começo do Ano Litúrgico e sempre reiniciamos pelo tempo de Advento. Estas semanas nos prepararão às festas do Natal. Tempo de espera ou de esperança, depende de nós. “Espera” significa simplesmente deixar o tempo passar e ocupá-lo, talvez, com alguma atividade, conforme as nossas possibilidades ou os nossos gostos.

Acordados ou dormindo, inexoravelmente, os dias irão transcorrer. Mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a reconhecer isso. “Esperança” é outra coisa. O tempo não vai parar, nem vai ser mais longo ou mais curto. O segredo está na capacidade de aproveitar dos dias que passam. O fato de “recomeçar” e percorrer novamente um caminho já andado, não significa mera repetição. Podemos tentar responder, mais uma vez, a uma pergunta chave da nossa vida: o que aprendemos até aqui? Para onde nos leva o rumo que damos às nossas vidas? Evidentemente são questões que supõem um interesse sério a não desperdiçar o nosso tempo e a ter, cada vez mais, clareza daquilo que queremos alcançar. O contrário seria a superficialidade ou, talvez, uma vida vazia, dirigida pelos outros, pelas modas, imitando aqueles que parecem brilhar naquele instante. A “esperança” verdadeira nos ajuda a ter objetivos e sonhos. Nos obriga a buscar o que vale, a questionar os caminhos que estamos trilhando. É uma virtude e, ao mesmo tempo, um dom de Deus segundo a profecia de Joel, realizada no dia de Pentecostes: “os vossos jovens terão visões e os vossos anciãos terão sonhos” (Atos 2,17). A esperança anima, não anestesia e nem se conforma com as coisas erradas, é algo que nos inquieta e não deixa entorpecer as nossas consciências. Porém, não basta dizer: vou fazer diferente…Precisa ter claro o que fazer e como fazer. Somos todos eternos aprendizes.

O evangelho deste Primeiro Domingo de Advento é uma exortação de Jesus – ou mesmo uma ordem – para ficar atentos, vigiando. Conscientes ou não, todos estamos esperando algo acontecer, aguardamos um encontro com alguém que nos mude e dê sentido a nossa vida. O Senhor nos lembra que somos “responsáveis” por essa espera. Podemos e devemos tomar decisões, organizar projetos, marcar percursos e metas. Cabe a nós mudar as circunstâncias, transformar as situações. Lembrando a canção: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Para isso, porém, precisa “saber”, é necessária muita “sabedoria” que, por sua vez, aprende-se também errando. Não devemos ter medo dos erros, dos desvios, contanto que nos tornem mais sábios e corajosos para abrirmos novos caminhos. Em certos momentos, temos a impressão de que tenhamos aprendido pouco com os nossos erros pessoais e da própria humanidade. Como se não bastassem as guerras do passado, as vidas perdidas pelos sonhos de poder, pelos ódios, as cercas e as bombas atômicas. Deixamos de sonhar a paz para cultivar o rancor e a vingança, perdemos a chance de partilhar bens e saberes para acumular inveja e indiferença. Tudo isso entre pessoas e famílias, entre países e blocos comerciais. Quem, com os seus erros, encontra o caminho do bem, exerce a humildade, aprende a escutar conselhos, confia na fraternidade e na solidariedade.

O tempo de Advento deve servir para iluminar o que aprendemos até aqui, mas não para ficar parados. O simples e grandioso fato de acreditar num Deus que quis ser humano para caminhar conosco e ser “o caminho” para nós, nos deve animar. Temos motivos para ser tristes: a pandemia, o desemprego, a pobreza, a incerteza do futuro, mas nunca tão perdidos “como aqueles que não têm a esperança”. (1Tes. 4,13). Esta é sabedoria, é fé, é recomeçar com Jesus no Natal.