Dom Pedro Conti

Deus e os ídolos


Certa vez, em Roma, alguns idólatras astuciosos questionaram o velho Rabi Simeão, que tinha o apelido de “Muito Sábio”. Disseram-lhe:

– Se o vosso Deus não gosta que as pessoas adorem os ídolos, porque ele, o Todo-poderoso, não destrói esses ídolos todos de uma vez?

Respondeu com presteza o sábio Rabi: – Se os homens adorassem coisas inúteis que o mundo não precisa, de certo, Deus os arrasaria. No entanto, eles adoram o sol, a luz, os astros e os planetas. Deveria o Senhor destruir a sua criação por causa dos estultos?

Um dos romanos, querendo pegar o sábio em alguma contradição, indagou:

– Nesse caso, poderia pelo menos acabar com as coisas de que o mundo não precisa, e deixar as outras!

– Seria fortalecer a idolatria – retrucou Simeão – os idólatras diriam: “Vede: eis os verdadeiros deuses, porque os falsos foram destruídos”.

Neste domingo, a liturgia nos convida a celebrar a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Rezaremos, de maneira especial, pelo Papa Francisco e, sem dúvida alguma, pela nossa Igreja Católica. Não fazemos isso por “culto à personalidade” (no caso do papa) e nem por mero “sectarismo” (no caso a Igreja Católica). Ao contrário, queremos lembrar a missão corajosa dos apóstolos, justamente para não nos fechar numa inútil e errada autocontemplaçã o. Ter consciência e estar felizes, porque amamos a nossa Igreja, não significa esquecer o resto do mundo e dos seus problemas. Papa Francisco sempre nos lembra que a Igreja não existe para si mesma e não acaba dentro dos seus templos e estruturas. A Igreja é enviada ao mundo, à humanidade inteira, porque está dentro da única história humana. O desejo de nos fecharmos num grupo de eleitos, de privilegiados, de pessoas que pensam estar já no limiar do céu, é uma grande tentação. As consequências disso sempre foram desastrosas. A Igreja corre o risco de tomar a atitude de quem julga e condena. No entanto, lemos no evangelho de João: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que seja salvo por ele” (3,17).

Isso não significa que o Papa Francisco e a Igreja Católica com ele, não tenham posições claras e firmes sobre certos assuntos. O que a Igreja não faz mais é ameaçar do inferno os que pensam e agem diferente. Ser tolerantes e acolhedores significa dialogar e não excluir, mas também não desistir das próprias convicções. Quem não tem ideias, princípios, valores e exemplos para dar, é sempre tentado a impor o próprio pensamento com a fo rça, com as artimanhas da retórica, com o abuso da mídia e da propaganda. Quem procura viver e praticar a sua fé não precisa de muitos outros recursos. Confia mais na força do Espírito Santo, que se antecipa nos corações das pessoas, do que nas próprias capacidades e conquistas. Trabalha com humildade e, sobretudo, alegremente, porque está feliz de ter encontrado, conhecido e amado o Senhor Jesus. Esse é o verdadeiro tesouro que encontrou na vida e faz de tudo para não perdê-lo.

Veneramos São Pedro e São Paulo, assim como tantos outros mártires e testemunhas que deram as suas vidas por causa do Evangelho de Jesus. Com eles, queremos aprender a ser mais corajosos sem pretender impor as nossas ideias, mas com a paciência do semeador que acredita na bondade da semente e na fecundidade do coração humano, quando se abre confiante ao mistério do amor divino. Por isso, neste domingo agradecemos a Deus, também, pelo pontificado do Papa Francisco, uma voz surpreendente e pacificadora no meio de tantas disputas, contradições e conflitos sociais. Rogamos a Deus que faça dele um homem “Muito Sábio” não somente para encontrar respostas a tantas dúvidas e perplexidades, mas para poder ser uma voz crível para todos os homens e mulheres de boa vontade e de paz. Sejamos, também nós católicos capazes de ecoar as mensagens do Papa Francisco, com a mesma franqueza, simplicidade e cordialidade. Acompanhar o papa é sinal de comunhão e de fé. Um bom sinal.