Dom Pedro Conti

‘Mamãe te amo!’


Uma criança, de mais ou menos dez anos, ia todos os dias à praia e escrevia na areia: “Mamãe te amo!”. Depois olhava as ondas do mar apagar as palavras e corria embora, sorrindo. Um velho, meio triste, passeava também, todos os dias, naquele lugar; via o menino fazer aquilo e pensava: “Que bobagem!” Mas um dia, resolveu aproximar-se dele e lhe disse:

– Não tem sentido você escrever “Mamãe te amo!” na areia, porque depois as ondas apagam tudo cada vez! Por que não diz logo isso para ela? – A criança levantou e respondeu:

– Eu não tenho mais a minha mãe. Deus a levou consigo, como as ondas fazem com as minhas palavras. No entanto, eu volto aqui todos os dias para lembrar a ela e a Deus que não se pode apagar o amor de um filho por a sua mãe. O velho se ajoelhou e, com os olhos molhados de lágrimas, escreveu na areia: “Conceição te amo!”. Era o nome da esposa, falecida havia pouco tempo. Depois, pegou na mão da criança e juntos viram aquelas palavras desaparecer.

Neste Quarto Domingo de Páscoa, temos muitos assuntos para refletir: é o Dia das Mães, mas também o Dia Mundial de Oração pela Vocações e o Domingo do evangelho do Bom Pastor. O evangelista João faz dizer a Jesus que as suas ovelhas o conhecem pela voz. Ele também as conhece todas, e elas o seguem. Poucas coisas revelam a familiaridade entre as pessoas. Uma delas é a voz. Hoje a tecnologia nos permite ver, pelo celular, com quem estamos falando. Ficou ainda melhor. Além da ouvir a voz de quem está do outro lado, podemos ver a expressão do seu rosto. Se não somos atores consumados ou mentirosos profissionais, tudo contribui para nos ajudar na nossa comunicação. Podemos partilhar alegrias e tristezas, lágrimas e consolações, medo e coragem, afagos e… insultos, infelizmente. Parece que estamos perto, também se enormes distâ ncias nos separam. Sempre, porém, tem um segredo, chama-se sinceridade. Por educação, falamos e respondemos a qualquer um, mas a poucos abrimos o nosso coração e com poucos brincamos. Nisso sempre estará a diferença entre aqueles e aquelas que se reconhecem pela voz e os demais. Assim, nesta maneira simples, todos nós sabemos em quem podemos confiar e, também, de quem é melhor… desconfiar.

Se acreditamos nele, a “voz” de Jesus nos chega através das palavras daqueles que nos amam, os nossos pais e amigos; através dos pastores e educadores chamados a acompanhar e guiar o rebanho. A “voz” de Jesus nos chega pelos apelos dos pobres e excluídos. Às vezes são gritos por socorro. São fortes e somos tentados a tampar os ouvidos. Outras vezes, são vozes tão fracas que, se não pararmos para prestar atenção, passam totalmente despercebidas. Por fim, a “voz” de Jesus deveria ecoar em nossas vidas pelas suas Palavras guardadas e transmitidas pela comunidade dos seus amigos e seguidores. É através de todas essas “vozes” que o Senhor continua a nos chamar pelo nome, continua a nos convidar a segui-lo e nos pede uma resposta pessoal, livre, alegre e responsável. Ele não quer um bando de fanáticos que batam palmas a q ualquer suspiro do seu ídolo. Não quer “escravos”, mas amigos, porque não é um patrão cobrador. O Bom Pastor quer pessoas conscientes e felizes de acompanhá-lo até no caminho da cruz, porque sabem o que ele faz e por que (Jo 15,15). Rezemos pelas vocações todas. Precisamos de “bons pastores”, padres, religiosos, religiosas, missionários e missionárias, mas também de bons pais e mães, de profissionais honestos e competentes. Precisamos de políticos e governantes com coração de pastores, comprometidos com o bem comum, com o povo mais humilde, sempre escutando a voz dos pequenos e esquecidos. Nesta altura, penso nas vozes das nossas mães, nos seus conselhos e nas suas orações. Penso nas palavras de bênção delas para os filhos, obedientes e desobedientes, os de perto ou os de longe. Mas penso també m nas suas lágrimas pelos filhos surdos aos apelos delas, às súplicas para que deixem os caminhos errados. O tempo pode apagar as palavras, mas não o amor. Igualmente, sempre seremos ovelhas amadas pelo Bom Pastor.