Dom Pedro Conti

O valor do cavalo


Havia uma discussão entre amigos, porque certos assuntos dão sempre espaço à troca de opiniões. A questão era se as pessoas inteligentes têm maior ou menor dificuldade para retomar o caminho certo, depois de terem se desviado dele? O sábio Beraq convidou os presentes a responder primeiro à outra questão:

– Por que um cavalo ligeiro vale dez vezes mais do que um cavalo vagaroso?

– Obviamente porque corre dez vezes mais rápido – alguns logo responderam.

– Certo, mas – disse Beraq – se o cavalo se extraviar, também se perderá dez vezes mais de pressa.

– Quer dizer, amigo – continuou um colega – que este seria um grave defeito!

– Mas também, não se esqueça, meu caro, que o cavalo mais veloz, reencontrando o caminho certo, recuperará dez vezes mais de pressa o tempo perdido.
O sábio Beraq concluiu:

– Quando um homem inteligente se arrepende do mal que fez, volta para a situação anterior dez vezes mais de pressa do que o preguiçoso. O inteligente se reabilita dos seus erros mais rapidamente que o acanhado e o curto de imaginação.

Uma historinha contada não para exaltar os inteligentes, tampouco para rebaixar os menos sabidos. O que interessa é a capacidade de corrigir o, mais rápido possível, os nossos próprios desvios. Permanecer no erro, sabendo que estamos errados, é sinal de burrice. No evangelho deste domingo, Jesus louva ao Pai, porque ele revela as coisas do Reino aos simples e pequenos e as esconde aos inteligentes e estudados. Nada contra os estudiosos, como também nenhum convite à ignorância ou ao comodismo intelectual. Jesus está falando de ou tra “compreensão”: a inteligência das coisas de Deus. O saber sobre elas não depende dos estudos e do nível de inteligência, depende somente da bondade do próprio Deus, que se revela a quem está disposto a acolhê-lo e a deixar-se transformar por Ele. Esta última é, evidentemente, a parte que nos cabe. Com efeito, para nada adiantaria a bondade e a generosidade de Deus em se fazer conhecer e encontrar, se nós não estivermos dispostos a nos deixar envolver pelas suas maravilhas. Aqui está, também, a diferença entre aqueles que Jesus chama de “sábios e entendidos” e aqueles que ele define como “pequeninos”. Fique bem claro que estamos falando de “coisas espirituais”, os “mistérios” de Deus, e não de ciências humanas ou de ganhadores de Prêmio Nobel.

No tempo de Jesus, os “doutores” eram aqueles que estavam por dentro das Sagradas Escrituras, que acreditavam ter entendido tudo da Lei e dos Profetas. É com eles que Jesus polemiza. A certa altura, ele os manda estudar melhor, porque não o escutam e não querem acreditar nele (Jo 5,39-40). A princípio, todo conhecimento, como qualquer coisa humana, não é nem bom e nem mal. Depende de como o usamos e as suas consequências em nossas vidas. Por exemplo, o conhecimento científico e tecnológico pode ser usado para explorar e ame açar os menos desenvolvidos, supervalorizando os próprios avanços, ou pode ser colocado a serviço do bem-estar de todos. Todo saber pode abrir horizontes para a felicidade e a vida como, infelizmente, para a tristeza e a morte. Quando o ser humano se enche de orgulho pela sua inteligência e as suas conquistas, acaba se fechando no próprio encantamento. Na sua cabeça e no seu coração não tem mais lugar nem para Deus e nem para os irmãos. O saber das “coisas de Deus” precisa da humildade, da consciência que sempre seremos muito pequenos, apesar de tantos progressos e conquistas. Deus não quer nos humilhar por causa de nossas limitações, porque não está disputando poder com ninguém. Não precisa. Está pronto a doar-se a quem lhe abre o coração, a quem sente que lhe falta ainda muito, a quem já entendeu que nenh um bem material pode preencher de alegria plena a sua vida. Mais “inteligente” para Jesus não é, portanto, aquele que tem um conhecimento enciclopédico, mas quem coloca o seu saber a serviço da vida e se dispõe sempre a aprender algo novo, a se maravilhar das surpresas da misericórdia infinita de Deus. É esperto aquele que, se estiver ainda longe disso, corre rápido para não perder mais nada da abundância do Amor que o Pai oferece aos pequenos.