Dom Pedro Conti

Os vasos mais fortes


Um rico senhor foi à oficina de um oleiro famoso para comprar alguns vasos bonitos para a sua mansão. O artesão convidou o homem a admirar os seus produtos expostos no armazém. O oleiro conhecia bem as suas obras e batia levemente nos vasos, mas não experimentava todos. Alguns vasos ele já descartava e deixava de lado. O comprador ficou curioso com essa atitude e perguntou por que não batia em todos os vasos.

– Nesses ali é inútil bater – respondeu o artesão – são vasos trincados. A qualquer pancada, cairiam em pedaços. Eu só experimento os bons, os fortes. Eles, sim, são preciosos e podem ter grande utilidade. Assim é Deus, ensinavam os antigos. Ele não experimenta os maus, deixa-os; toca no justo para que possa resistir e salvar-se.

“Depois da multiplicação dos pães”, com essas palavras inicia-se o evangelho deste domingo. Jesus satisfez à fome do povo. Agora quer ficar a sós com o Pai, em oração. Cada vez mais, a sua missão se torna exigente. O evangelista Mateus nos prepara para a grande revelação de quem é Jesus de verdade e o seu caminho rumo à cruz. Assim, após subir na barca e o vento se acalmar, os discípulos antecipam a profissão de fé de Pedro que encontraremos nos próximos domingos: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”.

Jesus manda os discípulos ir à sua frente na barca, sozinhos. Os abandonou? Não, ele vem atrás caminhando sobre as águas, no meio das ondas e do vento. Eles devem aprender a tomar conta da travessia, a acertar o caminho. Jesus nunca vai abandonar os seus amigos. Esta será a sua promessa ao final do evangelho de Mateus. No entanto, desde já, eles devem confiar, superar o medo, nunca mais duvidar da presença amorosa daquele que, pela sua vida doada, vencerá a morte.

A missão que Jesus entregará aos seus amigos é a mesma missão sua. O combate, do bem contra o mal, será o mesmo até o fim dos tempos. Cruzes, perseguições e tempestades sempre acompanharão a pequena comunidade de Jesus. Ele não é um “fantasma”, uma lembrança do passado, uma ilusão. Ele continua a repetir: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”. Pedro ainda terá que sofrer muito; passará pela vergonha da traição, para aprender a segurar a mão do Crucificado. No fim, porém, a sua fé “fraca”, fortalecida pelo amor ao Mestre, o tornará pastor do rebanho do Senhor.

Esta página do evangelho pode parecer “simbólica” e, em parte, sem dúvida, o é. Contudo, a dinâmica do relacionamento entre os discípulos e Jesus, o desafio de vencer o medo pela coragem e o risco da fé são de uma extrema atualidade. A cada provação, a cada “crise” e cansaço da caminhada da Igreja e da nossa fé pessoal, somos tentados a desanimar, a gritar pelo desespero. Para os cristãos, a serenidade, a esperança viva e a firmeza no testemunho da própria fé, não virão através de novos métodos, meios poderosos de evangelização, novas revelações ou milagres assustadores. Será sempre a perseverança nas provações, nas críticas, misturadas com a indiferença e o desprezo, a confirmar o valor e o sentido da fé verdadeira. Com efeito, todo sofrimento por causa do nome do Senhor Jesus é, sim, uma dificuldade, algo que não devemos pedir ou desejar, mas, se vier a acontecer, não será para castigar ou punir os seus amigos. A “tempestade” será somente para ajudá-los a segurar mais firmemente a mão dele sempre estendida.

A nossa experiência pessoal também nos ajuda a entender. Se queremos ser cristãos sinceros e honestos, qualquer crítica ou acusação nos obriga a fazer um sério exame de consciência e a reconhecer o quanto podíamos ter feito diferente ou melhor. Se depois admitimos que erramos, melhor ainda: vamos mudar. Quem disse que aqueles que apontam os nossos defeitos são forçosamente inimigos? Talvez o sejam, mas podem nos ajudar a sermos melhores. Enfim, somos uma Igreja toda e sempre pecadora, porque feita de pecadores, mas cada vez também mais pura e mais santa, quando os cristãos pecadores se convertem. Com Jesus, buscamos ser “vasos” bons e fortes, para não rachar com a primeira pancada.