Dom Pedro Conti

Sinodalidade, o que é?


Vez por outra, aproveito deste espaço ou de alguma circunstância para explicar algo “novo” que está acontecendo ou está a caminho de acontecer. Achei bom falar do tema da “sinodalidade”, justamente, por ocasião da solenidade de São Pedro e São Paulo porque, neste domingo, celebramos mais do que uma festa de santos, é a festa da Igreja toda, alicerçada sobre a vida e o testemunho dos apóstolos. Nós, católicos, acreditamos que a nossa Igreja vem de longe, do próprio Senhor Jesus Cristo. Ele prometeu estar sempre conosco e firmou a sua presença com o dom do Espírito Santo. São três as principais imagens que o Concilio Vaticano II usou para explicar a Igreja: Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo. Dessa maneira toda a Santíssima Trindade está envolvida na realidade humano-divina que somos nós, os batizados, discípulos-missionários do Senhor Jesus. Ao longo dos séculos, a Igreja enfrentou muitas tempestades e sempre aparecerão novos perigos e desafios. Desde o início, ela se entende como “santa e pecadora” ao mesmo tempo. É santa porque tem dons santos para oferecer e é formada por pessoas chamadas à santidade. Mas é também pecadora, porque as “coisas santas” foram entregues aos vasos de barro que somos nós, frágeis, fracos e limitados. A Igreja singra os mares da história, consciente de tudo isso: do seu medo e da sua falta de fé, mas também da sua coragem e da sua responsabilidade de ser “germe e sinal” do Reino de Deus. Por isso, é costume dizer que a Igreja está sempre num caminho de conversão ou de reforma para se tornar melhor (Ecclesia semper reformanda!).

Uma das maiores dificuldades da Igreja é a própria organização ou, se preferem, o seu funcionamento. Por ser real e visível, a Comunidade eclesial partilha das situações pela quais passa a humanidade toda. Ela sabe que não pode se basear em simples critérios humanos, mas, ao mesmo tempo, experimenta, inevitavelmente, a influência das diversas maneiras históricas de pensar e de agir, ou seja, das novas culturas que vão surgindo. De certa maneira, podemos falar também para a Igreja de “evolução” no sentido melhor da palavra. Por exemplo, como combinar, hoje, o fato de ser uma Igreja “hierárquica” – que, afinal, significa ter serviços e responsabilidades diferentes – com o anseio geral de participação nas decisões e de partilha nas diversas tarefas? Não é mais possível imaginar uma Igreja onde muito poucos ensinam e mandam e a grande maioria só aprende e obedece. Isso não significa renunciar a qualquer autoridade, mas a exercê-la de uma forma nova e diferente. O Concílio Vaticano II abriu o caminho para os “Sínodos” de bispos juntos com o papa como uma expressão maior de colaboração. “Sínodo” e “sinodalidade” significam “caminhar juntos”.

Nesses últimos anos, por ocasião dos Sínodos que o Papa Francisco convocou (Família, Juventude, Amazônia) ele pediu algo anterior que podemos chamar de “escuta” do Povo de Deus. Famílias e jovens do mundo inteiro e os povos da Amazônia puderam se manifestar antes dos sínodos. Em outubro de 2023, acontecerá um sínodo, justamente, sobre a “sinodalidade” ou seja: porque e como tornar esta sinodalidade o jeito efetivo e eficiente de participação de todo o Povo de Deus na vida da Igreja. Não estamos acostumados a isso. É tudo novo e muito ainda deve ser experimentado e testado. No entanto já é possível dar os primeiros passos. Um “ensaio” de sinodalidade pode acontecer já, nestes meses, em preparação à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe (novembro 2021). Graças às redes sociais e aos computadores, qualquer pessoa poderá expressar a sua opinião entrando no site preparado para isso. Também grupos podem enviar as suas considerações. No site é possível encontrar algumas sugestões de escolha de temas e desafios, mas tem a possibilidade de dizer algo diferente. E quem não tiver internet ou não sabe usá-la? Peça ajuda aos jovens que, pelo jeito, parecem já nascer com essas novas habilidades. Colaboração entre as gerações é experiência de sinodalidade.

Vamos aprender a “caminhar juntos”. Pedimos que São Pedro e São Paulo nos ajudem nesta nova etapa da Igreja. Naquele tempo, não tinha como mandar cartas pelo e-mail ou no celular, mas hoje sim. Novas tecnologias, nova participação, novo jeito de caminhar juntos. Mas sempre a mesma fé e o mesmo entusiasmo apostólico, porque a missão da Igreja não acabou.