Nilson Montoril

A Mística do Amapá


Janary Nunes 

 

“A Mística do Amapá e o ideal de tornar o Território ema das regiões mais ricas e felizes do Brasil. Ela não tem dono, nem autor. Não pertence a um grupo, a uma seita, a um partido. Existe na alma do povo, palpita no coração de todos os que creem na beleza do seu futuro.

Como nasceu a mística. Fruto do amor, através da história, daqueles que se apaixonaram pela terra. Cada sonho, cada esperança, cada luta, vividos para torná-la mais prospera, emprestaram-lhe força e brilho. Ela resume os anseios mais nobres de quantos trabalharam para integrar o Amapá na Pátria Brasileira. Durante séculos, seu templo foi a natureza virgem. Acompanhou os pioneiros que penetraram a gleba a busca de riqueza e os viajores curiosos por devassarem um mundo novo. E realizou o milagre de apagar a ânsia de gozar noutras plagas os frutos conseguidos, fazendo-os edificarem ai seus lares definitivos, impregnando-lhes o intimo de profunda e inextinguível simpatia pelas paisagens e coisas locais.

O Amapá fascina. E por isso possui a sua mística. Não há ninguém que penetrando suas fronteiras, – desde as margens dos rios até as fraldas do maciço das Goianas, desde os lagos onde navegam, ao sabor dos ventos, ilhas flutuantes, até os campos in termináveis, nos quais a vista abarca plenamente a amplidão, desde os que lançam a linha nas águas para apanhar os peixes varados e saborosos, até os garimpeiros que revolvem o solo a cata de minérios, desde os que galopam para reunir o gado, entre revoadas de aves coloridas, até os que suam para semear o chão fecundo e colher as searas, os que calejam as mãos nos remos ara vencer as distancias, os que se esforçam para erguer casas ou construir obras de interesse coletivo, os que gastam o cérebro para solucionar seus problemas – não há ninguém que não sinta essa fascinação que se irradia do ambiente e não termine cativo do seu destino.

A mística do Amapá quer o bem do povo. Não de uma parte do povo, de uma aristocracia, de uma classe, dos que comunguem com o Governo ou dos que dele discordem. Mas almeja o bem estar de todos os indivíduos, de todos os lares. Não colima levar uns para derrubar outros, de ter poderosos e oprimidos, senhores e escravos. O seu objetivo e promover o levantamento do nível de vida comum, dando melhor oportunidade a brancos e pretos, remediados ou pobres, jovens ou velhos, profissionais e aprendizes. A distinção entre os homens não se deve basear na fortuna nem na posição, mas na soma de serviços que prestem a sociedade.

A mística do Amapá tem por fundamento principal a idéia de que o trabalho dignifica a vida é capaz de remover montanhas e vencer o tempo. Para o trabalho inspirado na Fe não há obstáculos intransponíveis. O labor conjugado determinará o aumento da produção. E produzir mais, sempre mais, e a trilha que conduz a fartura.

A mística do Amapá e eterna. Foi acalentada no passado, quando as esperanças pareciam fadadas a morrer, a míngua de recursos. Assim mesmo, nunca sucumbiu, animando nossos antepassados na marcha para a vitória.  Vibra no presente, através da vontade criadora de explorar as matérias-primas e de eliminar duma vez os conceitos de insalubridade e impotência que lhe assacaram injustamente, lançando também os alicerces indestrutíveis do seu progresso. Há de fulgurar ainda mais no porvir, como o brilho do sol, pela atividade viril das gerações novas, que se preparam adequadamente para transformar o meio, garantir a permanência dos esforços atuais e promover a felicidade geral.

Seguindo as palavras de Cristo que nos mandam amar uns aos outros, os amapaenses caminham empolgados pela mística do Amapá, para fazer em breve, do seu Território, um vigoroso Estado da Federação Brasileira.

Avante, pois, amigos! O futuro tem um lugar de destaque a espera do Amapá, terra onde a Pátria começa. E vos o conquistareis”.

Em 1962, Janary Nunes voltou a manifestar a sua crença na grandeza do Amapá, assim se manifestando. “O Amapá não deseja permanecer estagnado, acomodatício, esquecido, irresoluto, negligente e mudo”. “O Amapá quer pesquisa, estudo, trabalho, crédito, planejamento, reivindica a conclusão das obras inacabadas e novos empreendimentos que ofereçam ocupação aos milhares de desempregados que hoje padecem fome e miséria no seu solo fértil”. Em 2021, essas aspirações ainda ecoam.