Nilson Montoril

Cacau, o manjar dos deuses


O cacaueiro é nativo de regiões de florestas pluviais da América Tropical, cultivado desde o Peru ao México. Os botânicos acreditam que o cacau é originário das cabeceiras do Rio Amazonas e compreende dois grupos: Criollo e Forasteiro. O Criollo tomou a direção norte, atingindo a região do Rio Orenoco, a América Central e o México. O Forasteiro se espalhou pela bacia Amazônica abaixo e Guianas. Este grupo é considerado o verdadeiro cacau brasileiro. Quando os colonizadores espanhóis chegaram ao México notaram que os Astecas cultivavam o cacau e usavam as sementes como moeda, um procedimento que também foi usado no Pará muito tempo depois. Na América Central, os Maias agiam da mesma forma.

O cacaueiro era chamado “cacahualt” e tido como sagrado, pois os Astecas acreditavam ser de procedência divina. A classificação cientifica do cacau foi realizada pelo botânico sueco Carolus Linneus, que o descreveu como “Theobrona Cacau”, o manjar dos deuses. Registros históricos relativos à viagem de Cristovão Colombo, que redundou na descoberta da América, dão conta, de que o grande navegador levou de Honduras para a Europa, as primeiras sementes de cacau. Anos depois, durante a conquista do México, o Imperador Montezuma mandou servir a Fernando Cortez a espessa bebida feita com as bagas do cacahualt, a qual os índios adicionavam baunilha e outros produtos da terra. Os espanhóis juntaram-lhe açúcar a fim de dar-lhe melhor sabor. No meado do século XVI, o cacahualt era conhecido em toda a Europa e passou a ser pronunciado chocolate. No inicio dos anos setecentos, os ingleses misturaram o leite ao chocolate, cabendo aos holandeses, na segunda década do século passado, o solidificarem. Aos suíços, depois de 1850, coube o mérito de inventar o milk chocolate.

O cacau forasteiro era cultivado na região Amazônica, por diversas tribos indígenas havendo registros sobre a atuação dos índios Turás, estabelecidos no Rio Madeira. Em outubro de 1637, o desbravador Pedro Teixeira, que empreendia uma viagem no sentido das nascentes do Rio Amazonas recebeu a visita dos gentios catequizados, que iam colher o cacau nativo, bem abundante nas margens do citado caudal. O cultivo oficial do cacau, no Brasil começou em 1679, graças à autorização contida em uma Carta Régia. Tentativas de plantação de cacau, em larga escala, no Pará, não apresentou resultados animadores. As pragas, as inundações e a carência de mão-de-obra, despontaram como entraves. Em 1874, Frederico Steiger introduziu o cacau em Ilhéus, na Bahia e obteve meios propícios. O Estado da Bahia produz 95% do cacau brasileiro e exporta 90%. Em segundo lugar, com 3,5% desponta o Espírito Santo. A Amazônia contribui com apenas 1,5% da produção nacional. Na produção mundial, a Costa do Ouro ocupa o primeiro lugar. Depois vem o Brasil, a Nigéria e a Costa do Marfim. Os Estados Unidos da América do Norte são os maiores consumidores de cacau, absorvendo quase quarenta por cento da produção mundial. Em segundo plano, alinhadas aparecem Inglaterra e França. O fruto do cacaueiro tem a forma de um pepino mais ou menos alongado e sulcado, no sentido do cumprimento e contem de 15 a 56 sementes envolvidas numa polpa branca. A polpa é doce, acidulada e comestível. Dela se faz geléia, vinho, vinagre e àlcool.

A planta tem ciclo perene. A colheita ocorre em abril/maio e novembro a janeiro. A preparação do cacau em bolas e bastões é bem artesanal. Uma vez colhidas, as sementes são posta para secar. Depois de torradas são maceradas no pilão. Algumas pessoas adicionam ovos de galinha para dar mais liga. As sementes liberam bastante gordura, da qual é feio o chocolate e a manteiga-de-cacau. Na hora de preparar a bebida, rala-se a bola ou o bastão sobre água quente. O chocolate preparado dessa forma pode ser consumido com açúcar. Em Mazagão-Velho, por ocasião da festa do Divino Espírito Santo, o chocolate é servido aos devotos, misturado a ovos batidos. Na Amazônia, esse costume ainda é bem preservado. No presente momento, o Estado do Pará é o segundo produtor de cacau no Brasil. Novas plantações deverão elevar a produção além dos atuais 6% .