Nilson Montoril

Jornal “O Balufa”


Hartiu do ginasiano Carlos Oliveira Nery, a idéia da criação de um jornalzinho independente no Colégio Amapaense. Fui o primeiro a ser informado de tal pretensão, haja vista que integrávamos a 4ª série ginasial B e éramos bons amigos. Isso aconteceu no dia 10 de setembro de 1962, após uma aula de Português, ministrada pelo Professor Raimundo Pantoja Lobo, o popular Aporema. Ao comentar a respeito do primeiro jornal a circular no Brasil, “A Gazeta”, do Rio de Janeiro, no ano de 1808, o ilustre mestre também se lembrou do Jornal “O Castelo”, periódico que circulou sob a coordenação do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa. Entusiasmado com o assunto, o Carlos Nery decidiu concretizar sua idéia. Rapidamente formou um grupo constituído por ele, Nilson Montoril de Araújo, Pantaleão Gonçalves de Oliveira, Aldony da Fonseca Araújo, José Maria “Gato” e Lucas Vale. Em 1962, o Colégio Amapaense era dirigido pelo Engenheiro e Professor de Matemática Manuel Nogueira, que se propões a nos apoiar, desde que, divulgássemos coisas deveras importantes.

A cordialidade do Professor Nogueira nos deu animo redobrado e nos levou à presença do Professor Antônio Munhoz Lopez, Diretor da Divisão de Educação.Na época, a Divisão de Educação funcionava em um anexo do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, atrás da Biblioteca e Arquivo Público. Fomos bem recebidos e aproveitamos para reivindicar a doação de papel, tinta e stêncil para mimeógrafo. Firmamos a importante parceria convidando o Professor Munhoz para nos honrar com artigos sobre literatura e cinema. O Carlos Nery era um craque em pedir. Tinha uma conversa capaz de derrubar avião. Dentre os nossos mais frequentes colaboradores, despontava o Carlos Nilson da Costa, que era aluno do Curso Científico, reconhecidamente “bom de caneta” Em dado momento, lembramos que o jornal ainda não tinha nome. Como o nosso grupo era muito ativo e levava tudo na brincadeira, além de ter a pecha de anarquista, decidimos usar o apelido do Aldony Araújo: Balufa. Ele era bem gordinho e alguém sapecou a adjetivo Balofo, que significa muito volumoso em relação ao peso. Acontece que nosso amigo Aldony não se importava com a alcunha e ela estava correta. Todos o chamavam de Balufa. A brincadeira virou coisa séria e não faltaram colaboradores.

O jornal falava de literatura, cinema, história, educação, esportes, poesia, crônicas, entrevistas, aniversários, humor e algumas fofocas. Em julho de 1963, a equipe do jornal integrou a embaixada do Grêmio/Colégio Amapaense, que realizou uma visita a Serra do Navio a convite da Gerência da Indústria e Comércio de Minérios S.A. O exemplar não era vendido. O jornal nunca criticou gestores públicos e se manteve alheio às questões políticas. Mesmo assim, sua impressão foi interrompida após a intervenção militar de 31 de março de 1964. O mesmo fato ocasionou o fechamento da sede do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, a destituição de sua diretoria e a clandestinidade da associação. Dentre os fundadores do jornal “O Balufa”, apenas o Pantaleão Oliveira e o Nilson Montoril de Araújo vivem em Macapá. Os demais já faleceram. O Carlos Nery mudou-se para Belém, onde cursou medicina. O Lucas Vale foi residir em Brasília, onde forças de repressão o teriam eliminado. O José Maria “Gato” retornou a Manaus. O Aldony Araújo, Balufa para os amigos, que simplificaram sua alcunha para Babá, andou por Belém, mas depois retornou a Macapá. Antes do surgimento do Jornal “O Balufa”, outro periódico denominado “O Castelo”, obteve enorme aceitação nos meios educacionais do Amapá. Circulou pela primeira vez no dia 5 de novembro de 1951, como órgão de publicidade do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, criado por um grupo de alunos do Ginásio Amapaense para progredir nas atividades literárias e jornalísticas.

O Ginásio Amapaense funcionava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. A 1ª edição do jornal “O Castelo” colocava em destaque a memória de Rui Barbosa e continha crônicas, poesias e notícias diversas. O jornal tinha 12 páginas e boa ilustração, principalmente de um castelo, ainda hoje símbolo do “Colosso Cinzento”. Vários alunos que o idealizaram e nele publicaram obras literárias pararam de fazê-lo após a conclusão de curso ginasial. Porém, o jornalismo amapaense ganhou importante participes.