Nilson Montoril

Matemático tucujú


Em 9/5/1795, o macapaense Mateus Valente do Couto bacharelava–se em Matemática na Universidade de Coimbra. Fora a Portugal, escolhido pelo governo Luso, para iniciar o curso de Medicina, embora demonstrasse fortes inclinações pela ciência das grandezas e formas. Iniciou o curso primário em Macapá, completando – o em Belém, onde fez o curso secundário com louvor, conquistando o apreço de seus mestres e gestores públicos. Não se podia admitir que um jovem inteligente e promissor, de apenas 19 anos de idade permanecesse na Amazônia, desperdiçando tanta potencialidade. Instigado pelo mestre Diogo Inácio de Pina de Manique, Intendente de Policia do Reino a cursar Matemática, Mateus Valente do Couto aceitou o financiamento do referido curso, mas não largou a medicina.

Ao bacharelar-se em Matemática, o ilustre macapaense recebeu como prêmio à sua competência, em 1800, a nomeação para integrar o corpo de magistério das Academias Reais de Marinha e Guardas-Marinha de Portugal, sendo promovido ao posto 1º tenente. Antes da nomeação, atuou como ajudante e partidor do Real Observatório Naval, instituição onde freqüentou o curso de Arquitetura Naval e Desenho e que dirigiu anos mais tarde. Na época, um seleto grupo de brasileiros participava e mesmo orientava a obra de reforma espiritual vigente em Portugal. Em 1806 foi nomeado 2º Tenente da Marinha de Guerra de Portugal. Quando em 1807 as tropas Imperador Napoleão Bonaparte invadiram Portugal, Mateus Valente do Couto tinha o posto de capitão, sendo um dos suportes para resistir ás ações dos franceses. Desde 1803 era integrante do Corpo de Engenheiros Militares, catedrático na Academia da Marinha, Diretor Interino e Titular do Real Observatório Naval e regente da cadeira de Astronomia Teórica de Navegação.

Em 1820, assistiu o retorno da família real a Portugal. Foi Deputado, Conselheiro de Estado, Sargento-mor do Corpo de Engenheiros e depois Coronel, posto no qual foi aposentado. Permaneceu como Diretor do Real Observatório Naval até morrer, a 3/12/1848, aos 78 anos de idade.Também era membro de diversas sociedades cientificas portuguesa e estrangeiras.Publicou várias obras, entre elas mencionamos: Instruções e Regras Práticas Derivadas da Teoria da Construção, Arqueamento, Carregação e Manobras do Navio; Tratado de Trigonometria; Princípios de Óptica, Astronomia Esférica e Náutica; Breve Exposição do Sistema Métrico e Decimal e Matemática Superior.Nosso ilustre conterrâneo descendia, pelo lado materno, dos bravos lusitanos que viviam na fortaleza de Mazagão, no Marrocos.

A carreira profissional de Mateus Valente do Couto foi esplendorosa em terras lusitanas. Com irrefutável mérito foi eleito para a Real Academia de Ciências e nomeado Conselheiro de Estado, atingindo o posto de Sargento–mor do corpo de Engenheiros do Reino e condecorado com o hábito militar. Em 1820, foi eleito para, na condição de deputado da Amazônia, reapresenta-la, entre outros nascidos na região, no Segundo Parlamento que se reunia em Lisboa. Os estudos de matemática que ele desenvolveu, foram publicados em vários ensaios e obras de maior tomo sobre Matemática Superior, que renovaram o estudo desta ciência em Portugal. Quando o Brasil tornou-se independente, os gestores públicos do Pará freqüentemente recorriam aos préstimos de Valente do Couto, que era considerado como legitimo representante amazônida nas terras de além mar.Mateus Valente do Couto nasceu em Macapá, no dia 19/12/1770, filho de Antônio Diniz do Couto Valente e de Margarida Josefa da Fonseca. Seu pai, capitão de artilharia e Inspetor da construção da Fortaleza de São José, faleceu quando o garoto tinha quatro anos de idade. O tio, Luiz da Fonseca Zuzarte, amparou a família e cuidou da educação do sobrinho. A ida de Mateus para Portugal decorreu de uma escolha empreendida pelo Capitão-de–Fragata, Francisco de Souza Coutinho, realizada entre estudantes mais aplicados.

A seleção dos dois eficientes alunos concluintes do curso secundário fora determinada pelo governo português, como forma de preparo médicos para a Amazônia. No momento em que a cidade de Macapá completa mais um ano de sua elevação à categoria de vila, lembramos a epopéia deste ilustre macapaense, que a despeito de inúmeros contratempos, não se deixou abater pelas vicissitudes da vida, tornando-se um exemplo para a posteridade.