Nilson Montoril

O 1º Natal no Território do Amapá


Criado a 13 de setembro de 1943, o Território Federal do Amapá só foi instalado no dia 25 de janeiro de 1944, tendo a cidade Macapá como capital, muito embora o ato governamental que criou a nova unidade federada determinasse que a sede fosse a cidade de Amapá. A nomeação do primeiro governador, capitão Janary Gentil Nunes Janary Gentil Nunes tinha ocorrido dia 27 de dezembro de 1943, e sua posse no dia 29, no Ministério da Justiça e Negócios Interiores, órgão ao qual os territórios estavam subordinados.

O Natal de 1943, repleto de esperanças por um novo porvir foi comemorado com muita singeleza pelo humilde povo que residia na área desmembrada do Estado do Pará. Nos anos de 1944, 1945 e 1946, o governo territorial adotou algumas programações festivas que contaram com a efetiva participação da população. Algumas lojas já dispunham de artigos natalinos e de presentes, bem diferentes do que habitualmente vinha ocorrendo na pequena “Estância das Bacabas”. Os brinquedos industriais então disponíveis eram caros, fato que contribuía para a encomenda de brinquedos artesanais bem fabricados por alguns marceneiros locais. Em 1947, como parte das festividades do Natal, o governo territorial programou para o dia 24 de dezembro significativos eventos. Um deles foi levado a efeito às 20 horas, no bairro do Hospital, assim chamada a área onde surgiu o Hospital Geral de Macapá e que hoje integra o bairro central. Em um barracão preparado pelos operários do Hospital Geral de Macapá, que se encontrava em construção, a comunidade negra, que havia sido remanejada do Largo de São João (Praça Barão do Rio Branco), para terrenos mais elevados, motivando o uso da palavra Favela, dançou alegremente o Marabaixo tomando a Mucura, a gengibirra e o mungunzá (mingau de milho). O outro festejo se deu na sede social do Trem Esporte Clube Beneficente, agremiação que tinha sido fundada em 1º de janeiro de 1947, e de imediato passou a ser a grande referência da alegria no bairro proletário de Macapá. Sob a coordenação da senhora Doninha Banhos de Araújo ocorreu a apresentação do auto de Natal intitulado “As Pastorinhas”, que fez muito sucesso.

No centro da cidade, na então Passagem Francisco Caldeira Castelo Branco, atual Rua Tiradentes, aconteceu uma concorrida festa dançante na casa do senhor Sebastião Canuto da Costa, cidadão amante dos folguedos e bastante estimado no seio da comunidade macapaense. A parte festiva foi encerrada por volta das 23h30min horas, a fim de que os partícipes dos eventos pudessem assistir a “Missa do Galo”, que foi realizada na Igreja de São José, na época, o único templo católico existente em Macapá. A Paróquia de São José era dirigida pelos padres Felipe Blanck e Antônio Schultz, que integravam a Congregação da Sagrada Família. Em 1948, estando os padres do Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras conduzindo os destinos do catolicismo no Amapá, a programação se estendeu ao município de Oiapoque, com a inauguração das reformas da velha capela local. A solenidade foi conduzida pelo prefeito Amilcar da Silva Pereira e pelos padres Vitório Galliani e Carlos Bassanini. Havia tanta gente, que a missa acabou sendo rezada na praça. Em Macapá, antes da santa missa foram entregues as fitas de aspirantes a treze candidatos à Congregação Mariana e descoberto o 1º presépio aramado na cidade.

O material usado na montagem do presépio veio da Itália e foi montado à direita da entrada do nosso mais antigo prédio, cuja inauguração ocorreu no dia 6 de março de 1761. A Santa Missa do Natal foi celebrada pelo Padre Aristides Piróvano, o Administrador Apostólico do Amapá e concelebrada pelos demais sacerdotes. Um coral bem ensaiado cantou músicas natalinas tradicionais, ao som do “harmonium” (acordeom) do Padre Vitório Galiane. Na manhã do dia 25 de dezembro, as crianças mais abastadas apresentavam seus belos brinquedos, que os pais egressos de Belém tinham comprado na capital paraense. Os menos aquinhoados exibiam carros de madeira feitos por marceneiros e carpinteiros locais e bonecas de pano concebidas por familiares. As crianças pobres inventavam seus próprios brinquedos, como revolveres de madeira e animais representados por mangas verdes de diversos tamanhos.