Nilson Montoril

Onde terminam as Macabas


Embora se diga que o vocábulo Maca-paba signifique “estância das bacabas”, a análise dos termos que lhe dão origem indica um outro sentido: “onde terminam as macabas”. Maca tem todos os indícios de ser um vocábulo de origem caribe e quer dizer sebo, gordura, exatamente o mesmo significado de cabá. Embora não sendo muito comum, alguns estudiosos do tupi, guarany e caribe preferem usar o vocábulo Mbaé-cabá, isto é, a “cousa gorda”. Cuidado para não escrever caba, designativo de marimbondo. A palavra paba em tupi quer dizer morrer, findar, acabar. Como exemplo podemos citar Ibiapaba, importante serra que divide os Estados do Piauí e Ceará. Ibi ou ybi é solo, terra, chão. Paba, como já explicamos, corresponde a morrer, findar, acabar. Logo, Ibiapaba significa onde o chão termina. Quem já viajou por terra, de Belém para Fortaleza, sabe que o desnível entre a serra e planície cearense é da ordem de 300 metros. O Vocabulário Tupi-guarani/português, elaborado pelo Professor Francisco de Oliveira Bueno evidencia o vocábulo ybá-cabá para designar a fruta oleosa, gorda das palmeiras Oenocarpus distchus e circumtextus, onde ybá é fruta e cabá está por gorda. De um modo geral, ybá significa fruto, sendo comum também identificar árvore. A regra é utilizar o vocábulo ybirá.

No Nordeste do Brasil a palmeira que produz a macaba é conhecida como macayba ou macauba O lugar aonde existem muitas macabas é chamado macatuba. Em português, os dois vocábulos correspondem, respectivamente, a bacabeira e bacabal. A bacabeira é uma palmeira solitária. As palmeiras de grande porte são chamadas de bacabuçu, de cujos frutos os índios faziam o iuquicé, ou seja, o vinho, também chamado bacabada. Os que apreciam o vinho da bacaba preferem o extraído da espécie bacabai ou bacabinha. Quando o vinho sai escuro, o caboclo o denomina de macabú ou macabaú, isto é escura. A bacabeira viceja em vários Estados do Brasil, até mesmo no Rio de Janeiro, onde há uma cidade denominada Macaé, derivativo de maca-ê, a macaba doce. No Nordeste prevalece a espécie que dá um vinho mais claro, entre o rosa e o amarelo, identificada como macajuba. A bacabeira Oenocarpus circumtextus tem folhas brancas tirante a ocre e drupas (frutos) roxas. As flores da espécie Oenocarpus multicaulis são branco-amareladas e as drupas avermelhado-escuro. Esta palmeira tem um palmito saboroso, e do lenho se fazem lanças e bengalas. É mais conhecida como bacabaí ou bacabinha. A palmeira ornamental Oenocarpus distichus tem drupas violáceas e sementes oleaginosas, e de cujos frutos se faz doce e vinho, além de se extrair óleo ou azeite. Há quem afirme que o vinho mais gostoso é extraído da palmeira Oenocarpus bacaba. O óleo extraído de suas sementes é semelhante ao da oliveira, e o espique é usado para esteios, lanças, ripas, etc.

A bacabeira viceja mais na terra firme e, diferentemente do açaizeiro, não forma touceira. São encontradas relativamente esparsas nas matas. É a árvore símbolo do Município de Macapá, embora sua presença já não seja tão marcante na cidade, mesmo nos bairros periféricos. Aliás, é muito difícil se encontrada no campo. Como o vinho é muito gorduroso, não tem a mesma aceitação do açaí. Para melhor compreensão dos leitores, vale o registro da diferença entre pa e paba. Pa significa lugar. Paba que dizer morrer, findar, acabar. O vocábulo Amapá é originário da língua tupi, sendo composto por ama (chuva) e pá (lugar). Macapá decorre de maca (bacaba) e paba (findar), ou seja, onde a macaba finda. ■