Nilson Montoril

Pontes ou escambaus ilustrados


Surgido no platô de terra firme onde está edificada a Fortaleza de São José, o povoado de Macapá enfrentou sérias dificuldades para expandir-se. O espaço era reduzido, delimitado pelas atuais Avenidas Maracá e Coaracy Nunes, Rua São José, Elesbão e Rio Amazonas. Quando a maré enchia tudo ficava cheio d’água impedindo o deslocamento das pessoas por terra. A partir de 1758, quando o povoado foi elevado à categoria de vila, o Senado da Câmara precisou mobilizar um bom contingente de trabalhadores para aterrar uma estradinha, cujo inicio era o final da atuar Avenida Cândido Mendes, que em diagonal demandava no sentido da Rua Vereador Binga Uchoa e seguia até alcançar a margem direita do igarapé do Igapó ou Bacaba. Sobre ele foi construída uma ponte de madeira relativamente robusta. Isso se fez necessário porque a vila de Macapá tinha sido delimitada em área de serrado, com elevação comparável ao nível do platô em relação ao Rio Amazonas. Por volta de 1761, quando a maioria dos prédios erigidos em torno do Largo de São Sebastião já estava com suas obras prontas, apenas os soldados do Forte de Faxina e os agricultores que mantiveram suas plantações na antiga área residencial faziam uso da ponte, transitando em cavalos e carros puxados por bois.

O tempo foi passando, mas a ponte permaneceu sendo utilizada, haja vista que os limites da vila não foram ultrapassados. A planta da Vila de Macapá indicava a existência de duas amplas praças, tituladas como Largo de São Sebastião (Praça Veiga Cabral e Largo de São João (Praça Barão do Rio Branco), Ruas e Travessas. Nos dias atuais, o perímetro compreende as Avenidas Professora Cora Rola de Carvalho/FAB e Ruas Cândido Mendes de Almeida e Tiradentes. A criação do Território Federal do Amapá, no dia 13 de setembro de 1943 e sua implantação a 25 de janeiro de 1944, atraíram um considerável número de trabalhadores e a implantação de novas atividades comerciais. Assim, lojas, botecos, biroscas, vendas, portas e outros pontos empresariais com denominações variadas foram surgindo e motivando a ocupação de espaços à direita e esquerda da Avenida Cândido Mendes na direção da Fortaleza de São José. O panorama era bem interessante.

No centro da área foi montada uma longa passarela. Dela partiam estivas ligando-a as casas comerciais. Mesmo havendo um projeto de aterro elaborado pelo Serviço Especial de Saúde Pública (Fundação SESP), a Prefeitura Municipal de Macapá não exigiu a edificação de imóveis com a altura recomendada. No inverno, notadamente por ocasião das marés laçantes (lançante ou lava-praia), os assoalhos das vendas ficavam debaixo d’água Era um transtorno medonho. Depois que a via publica ganhou aterro e os veículos motorizados puderam transitar no sentido dos emergentes bairros da Fortaleza e Trem, o governo mandou instalar uma ponte de madeira sobre o igarapé do Igapó, que a população chamava igarapé da Fortaleza. Mais tarde, a ponte de madeira cedeu espaço para outra construída em concreto, cuja base serviu para a configuração atual do citado bem sobre o canal da Avenida Joaquim Francisco de Mendonça Júnior. A ponte de concreto foi obra da empresa Platon Engenharia e Comércio, concebida, segundo alguns críticos, com as borda mais elevadas que os pontos de encontro dela com a Cândido Mendes. Meu pai, Francisco Torquato de Araújo, amigo dos Platon, aproveitou uma reunião do Rotary Clube de Macapá, no espaço “Hora do Companheirismo” para fazer uma saudável gozação, dizendo,que a ponte da Cândido Mendes era capaz de dizer o nome de quem a construiu. Quando um carro subia na ponte fazia “pla”. Quando descia gerava um “ton”: PLATON.

Os construtores afirmavam que a culpa do desnível foi de quem asfaltou as cabeceiras. Outras pontes de Macapá são como “escambaus ilustrados”, entre elas a “Sérgio Arruda”, que teria custado cinco milhões de reais e outra, sobre o canal do Jandiá, onde carros baixos ficam entalados no ponto mais alto. Agora, a campeã de esquisitice é a ponte sobre o Rio Matapi. Quem fez aquela barbaridade de lançar uma de suas cabeceiras no rumo de um terreno baldio precisa passar por reciclagem profissional.