Osmar Júnior

A conspiração dos girassóis


Na poesia ou composição existe o termo, possesso, que quer dizer que o texto foi feito em estado de possessão, ou seja, algo profético ou em estado de graça ao ponto de você não reconhecer aquele texto como seu. Não se preocupem, nada diabólico.

Procurando meus alfarrábios no baú me assustei com um velho texto intitulado “A CONSPIRAÇÃO DOS GIRASSÓIS’’ que parece se encaixar no agora.

De repente pela manhã uma mulher com os olhos verdes vendados anda pela cidade que está quase em coma de tanto silêncio.

Uma pedra cai vinda de um céu distante e fica no caminho, prenunciando a tempestade. Somente uma águia risca o céu santificado pelo próprio nome. Ouvem-se vozes desde a noite passada;
– queremos, precisamos, compramos, fazemos qualquer negócio para destruir o céu. É um grupo de peixes de estranha cor escarlate que conversa dentro de águas escuras, e eles têm sua própria luz.

Um deles grita, chamem os girassóis. Os girassóis atendem, amarelados de sol, nessa manhã não se deixam rezar a reza harmoniosa de Deus. E assim, conspiram em velhas, muito velhas páginas de medo, proclamando o silêncio de velhos tempos, nenhum piu, nenhum pássaro, nada. E assim a poesia no tempo se explica.

E o girassol chamado joão diz ao sol

– agora que vença o melhor.
(Poesia escrita em 1999)