Osmar Júnior

A fonte da vida


A represa de Guarapiranga, que abastece cerca de 20% da região metropolitana de São Paulo, está quase seca. Isso é uma profecia que há tempos anuncia uma situação caótica no Brasil, porque esse reservatório rega toda a produção agrícola e pecuária do Sudeste, que abastece a maior parte do país, e São Paulo é o coração econômico do Brasil, e cresceu desordenadamente. As chuvas da Amazônia é que molham essas paragens. Por aqui tem água em abundância, e isso é mais um motivo para a cobiça deste chão puro e fecundo, até então nariz do mundo. Tenho cantado nas minhas canções que seremos invadidos por um cavalo de tróia vindo para soterrar nossos rios e nossa cultura. É claro que pertencemos ao Brasil e vamos ter que lhe alimentar de energia e outros recursos. Mas a pergunta é: Estamos preparados politicamente para enfrentar essa invasão que vai passar como rolo compressor por cima de nossa natureza e nossa cultura? Quantos terçados vamos ter que esfregar na cara dos caraíbas? Como fez a índia lá em Belo Monte, sabendo que perderia as terras de seus ancestrais. Se é necessária a energia, é necessário também que os senadores e deputados daqui não nos deixem ao relento, e comecem a pensar em políticas ambientais que nos protejam desse vendaval de tratores, mesmo que tenhamos a glória de ter nossas reservas. Que benefícios teremos dessas hidrelétricas? O preço da tarifa de energia está pelo pescoço, e esses projetos deveriam nos isentar de pagar energia e trazer muitos benefícios sociais. A energia que ficará suprirá nossa necessidade, inclusive de desenvolvimento industrial? E o rio Araguari? Qual o real impacto ambiental?

Temos que buscar novas energias alternativas e muita educação ambiental; temos que aprender a respeitar a natureza. Quando cheguei na vila do Sucuriju, na costa norte do Amapá, deparei com um enorme catavento de energia eólica e também uma supercisterna de água doce construída por um padre para minimizar a carência do povo. Pensei: veja só onde moram as grandes ideias do homem. Mas vi também fazendeiros de famílias daqui, cuja criação de búfalos está destruindo a Reserva do Piratuba.
Lembrem-se de cobrar dos senadores a defesa de nossa costa com petróleo e pescado, que na teoria também é nosso. Temos que receber algum benefício por isso. Cuidado com a nova moda política do Amapá, que é importar tudo de Belém, inclusive mão de obra especializada, como se nossas faculdades não formassem jovens capazes.

Sem representação política, entregaremos o ouro ao Pará.

Nosso rio mar continua servindo de esgoto; precisamos plantar árvores e hortaliças em frente das nossas casas, flores também, para que lembrem de nosso amor por essas cidades.

Não tenha vergonha do Amapá. Faça como eu, que tenho orgulho, pois sei que meu povo é dono de um sorriso gentil e mentalidade política extraordinária. Onde houver luz nós vamos buscá-la.

Esta terra é a terra de meus ancestrais. Aqui plantamos nossas vidas regadas por esses rios, sob o Sol do Equador e o céu bem azul do Amapá.

Um domingo de paz, Osmar Jr.