Osmar Júnior

A mesa


Há de chegar agora o tempo em que a espiritualidade e a ciência estabelecerão uma nova ordem, quase sem perceber, pois o mundo desbotou de tanto charlatanismo e capitalismo selvagem, sacrificou, corrompeu, amedrontou, ignorou. Esta nova luz descerá sobre a terra independentemente de qualquer vontade ou religião. Isso acontece na história terrena depois de grandes depressões – é o que chamo de luz verde.

Carrascos, reis, papas, colocaram heresias no fogo do passado, na forca, e ainda ardem as feiticeiras, os alquimistas, e até os templários, os infortúnios da cruz Deus sabe, nós os criamos, e ele nos criou a fé e medo, a ferro e fogo, à sua imagem e semelhança, a sabedoria era heresia, e ainda é.

Agora queremos um Deus que não nos exploda, não nos abata a tiros, não nos mande matar nossos filhos, nem atravessar desertos e oceanos embaixo de um sol abrasador, que não nos afogue, pois quem anda pela terra nesses tempos cruéis, sabemos quem é, e não direi seu nome, terá que ser derrotado pelo amor. Vem aí a nanotecnologia e tudo será possível; os antibióticos já eram, só um corpo mais robótico suportará a nova vida e as viagens galácticas. Sinto que preciso morrer, para renascer piloto de espaçonave; desejo viajar pelas estrelas em algo tão seguro quanto meu pensamento. Difícil, né?

Amor, mande-me uma carta quando eu não estiver mais aqui; diz que tem um cheiro que tu lembra de mim, e que ficou forte a paixão da poesia que eu te fiz querendo parar o mundo só pra te pedir perdão, perdão por ser poeta e viajar para o Cosmos só no pensamento, passar dias longe viajando sem sair do lugar. Sim, eu fui aos museus e às obras de arte, fui ver outros países, como Munhoz, assim o foi, fui ver a arquitetura das cidades, mais fui em pensamento, como uma paina de samaumeira ao vento, sobrevoando o mundo.

Fui porque tenho amor, o amor de Laurindo quando corria pela vida feito gazela com sua linda corrida, e ainda tenho tempo para escutar durante dias os ensinamentos do viajante mestre Raul Tabajara, generoso e cheio de sim, e decorei o decoro de Paulo César nesta sabedoria em mente suave que voa do norte. Mas quer saber? Em dias de ânsia bebo um tipo de cachaça e choro, lembro de amigos que foram antes da nanotecnogia chegar, foram alcançar a infinita esperança de rever o mundo; acho que estamos ficando velhos, Douglas Lima, pois me preocupo com você em noites de lua, quando uivamos em sincronia pros rumos da saudade de tantas coisas que nem sabemos o que é, e sabemos que escrever é cachaça, mas é cachaça boa de beber, é água que passarinho bebe, sim, porque bebo e canto meu amigo, canto em homenagem a um planeta que você sem perceber me ensina a escrever todas as manhãs nesta mesa de domingo na Rádio do Melo, que viaja para todo o Brasil; aqui eu desabafo junto com vocês as dores e os prazeres do mundo pra quem quiser ouvir.

Por mais que não sigamos ao pé nossas palavras, eu me sinto seguro e redimido todas as manhãs de domingo em que sua voz em religare entra em contato com quem nos ouve, pois é lá onde pulsam os corações que mora o Deus do amor que sabemos ser o caminho, a verdade e a vida, a Luz do Mundo.

Obrigado, amigos, nem só de pão viverá o homem, mas também de toda palavra divina. Feliz Natal!