Osmar Júnior

É possível viver de música no Amapá?


É possível viver de música no Amapá? Não. Pelo menos foi o que eu ouvi da boca de vários artistas, nessa semana. O que me assustou foi o que ouvi daquele que seria o maior fomentador de projetos musicais do Amapá, meu parceiro e compadre Zé Miguel, músico sobrevivente de um movimento chamado Costa Norte.

Pois é, o Costa Norte sonhava galgar andares políticos suficientemente fortes para criar uma nova ideia musical que pudesse tornar realidade a cultura local. Acho que até conseguimos realizar muita coisa, misturando o marabaixo e o batuque com a música popular, tentando fazer de um político marqueteiro, um herói, tocando nossa música incessantemente autoral, no meio de uma carga de lixo musical despejada sobre nossas cabeças todos os dias através das rádios e de todos os veículos possíveis de divulgação de porcarias, inclusive a maior rede de televisão brasileira.

O Rambôlde Campos, também meu parceiro em obras musicais inesquecíveis, como “Os passa vida”, também confirmou em sua incessante busca por grandes empreendimentos que a música é uma grande ilusão. Confesso que ouvir isso de tais músicos me causou alguma depressão.

Pedi para uma amiga em Brasília que me falasse alguma coisa sobre os recursos existentes para essa música que eu faço, que seria a tal música de âmbito regional, ou seja, música popular brasileira com todas as suas influências. Ela me falou que eu sou apenas um de milhares dos milhares de cantores que vivem dessa música que significa algo em torno de 90% no Brasil.

Existem recursos que começam por lei nos estados e municípios, depois se expandem para o Ministério da Cultura que investe todos os anos muitos bilhões de reais nessa categoria, além de empresas como a Vale do Rio Doce, Petrobras, Banco do Brasil, Banco da Amazônia, etc., e ainda podemos contar com a sensibilidade de alguns políticos que podem fazer emendas para projetos musicais.

O mundo sempre caminha para essa música porque ela é o novo. Então fiquei observando ontem à noite um operário trabalhando até tarde. Como pode aquele homem sustentar quatro filhos e uma esposa com um salário mínimo? Decido então continuar vivendo das minhas ilusões.
Osmar Junior. Bom domingo.