Osmar Júnior

O episódio da colher de pau


Somos muitos seres durante a vida.

Somos feto, bebês indefesos e logo somos meninos traquinas, aí vem o adolescente e suas rebeldias, depois a linda juventude e suas querências por amor e liberdade. Então surge a maturidade e suas responsabilidades e finalmente a necessária e experiente velhice antes da partida.

Muitos não viverão todos esses capítulos da vida.

Meu pai dizia que desses estágios o mais iluminado é a juventude, é nela que se define o homem ou a mulher, muitos jovens realizam, outros ficam cobiçando artigos de luxo enquanto o tempo e as oportunidades passam por eles.

Meu pai um dia ao se preocupar com meus excessos falou que eu deveria me divertir com responsabilidade ou seja, não me matar e não matar ninguém, construir meu conforto espiritual e material, e principalmente não seguir os infernos dele, que eu construísse meu próprio paraíso pra que eu não achasse que podia viver no paraíso de alguém, e nunca, nunca tentasse justificar os meus erros com os erros dele, pois alguém assim não tem personalidade e apenas uma banana no cacho.

Lá uma noite eu cheguei bêbado em casa, ele pacientemente pra me ver melhor me ofereceu um bife feito na hora por ele. Aceitei e fiquei ali com aquela cara horrível que todo filho bêbado tem. Foi então que ele me lembrou que eu precisava mais que aquilo pra ser feliz.

Eu respondi, todos podemos pegar um porre algum dia, inclusive o senhor, lembra?… Referindo-me a vez que eu o carreguei do banheiro para o quarto, morto de bêbado. Houve um silêncio e uma colher de pau que ele usava para virar o bife naquele momento comeu em minha cabeça, quase me levando ao desmaio e me causando um galo enorme.

– Tanto que eu te pedi para não me apontares o dedo, porque sou teu pai e não precisas me invejares os erros; tens teu próprio tempo e tua própria estrada.

Ele passou a não fazer mais aquele bife gostoso, quando eu chegava em casa, e silenciou seus conselhos. Aquilo doeu muito.E era a dor do desprezo.

Até que um dia, não aguentando mais tal desprezo, ajoelhei e falei: – Pai, não é a falta da ajuda que me prestas e a falta da tua voz me guiando. Perdoa-me e fala comigo.

Ele me olhou nos olhos, depois de dias, e disse: Tu és um filho que eu gerei; enquanto me tiveres respeito serei teu amigo nos piores momentos, pois sou teu melhor amigo e quero que sejas feliz, portanto conte com meu amor, e não quero caias nas armadilhas que eu caí. Portanto, se fores um filho amigo seguiremos juntos até ao fim, com defeitos e virtudes, mas principalmente com respeito.

Aquela colher de pau não saiu da minha cabeça, ainda dói, e sabe que eu ouço aquela voz me guiando até hoje, e só sinto saudade daqueles olhos preocupados.
– Reata-me, agora, minha mãe, não sei por quanto tempo, mais quero reafirmar que não existe nada como o amor de pai e mãe.

Bom domingo.