Pe. Claudio Pighin

A alma do ser humano


Vamos falar sobre a alma. Meu ponto de partida é a Sagrada Escritura. A língua hebraica do Antigo Testamento exprime que o ser humano não é um composto, mas uma única realidade, isto é, uma unidade indissolúvel. Assim se expressaram os teólogos M. Fuck e Z. Alzeghy: “Uma criatura concreta, uma em si […]. A sua unidade não se afirma em oposição a concepções dicotômicas ou tricotômicas, mas vem da percepção espontânea do homem concreto, anterior a reflexão sobre a tensão que possa existir em sua estrutura metafísica… Na Sagrada Escritura esta unidade concreta é designada com diversas palavras, que nas suas diferenças focalizam vários pontos de vistas do sujeito.”

Com isso, fica bem claro que o ser humano constitui uma unidade. No Antigo Testamento fica bem evidente que não se podem contrapor os conceitos de substância espiritual e material. A alma no Antigo Testamento, portanto, é o ser humano na sua plenitude. E, assim sendo, não pode subsistir uma concepção dualística, conforme a concepção platônica. A alma é a mesma pessoa segundo o pensamento hebraico do antigo testamento. No Novo Testamento, o termo alma ou espírito é usado em diferentes sentidos. No evangelho de Mateus, Jesus fala de maneira bem evidente da possibilidade de “matar a alma” (Mt 10,28). Temos também a passagem em Marcos que diz: “Minha alma está triste até a morte” (Mc 14,34). Aparece também o espírito em Mateus 5,3; At 17,16 e 1 e 2 Coríntios; e na maioria dos casos indica o espírito humano em referência ao Espírito Divino.

Na cruz, na ocasião da morte, Jesus “entrega o seu espírito”. Os termos bíblicos mais importantes a respeito revelam a capacidade de identificar as relações entre o ser humano e Deus. A partir dessas considerações, podemos tentar compreender a alma da sua individualidade e imortalidade. Jesus, através da sua pregação e testemunho, confirma o pensamento do Antigo Testamento em relação à identidade do ser humano, rejeitando uma concepção dualística da filosofia grega. E o evangelista Mateus nos mostra que a vida eterna em Deus certamente é superior a nossa vida terrestre e nos convida a considerar o ser humano na sua totalidade. De fato, ele nos diz: “Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena”. Essa aparente distinção entre corpo e alma, na verdade, é para reforçar mais ainda o valor da vida em toda a sua plenitude, aquilo que demais precioso possuímos.

Por isso, Mateus continua dizendo: “Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e do Evangelho a salvará. Com efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a própria alma? O que pode um homem dar em troca da própria alma?” (Mt 16,25-26). Também os outros evangelistas sinalizam esse fato, naturalmente, com toques diferentes. Cristo quis dizer com a palavra alma a vida transcendente e plena. A suprema desgraça é perder a comunhão vital com Deus. Portanto, a Bíblia releva a importância da alma como essência e totalidade do ser humano, excluindo desse jeito uma concepção dualística, isto é, a separação entre corpo e alma. Ela é pessoal. É a mesma pessoa. Assim sendo, vimos que a Bíblia nos mostra a importância da alma na vida. Ela faz parte da criação e dá sentido à mesma vida. Faz uma só coisa.