Pe. Claudio Pighin

A midia deve favorecer a fraternidade


Um jovem me falou: “Padre, lá em casa ninguém me entende e eu assim fico sempre com o meu computador navegando na internet.”
A comunicação, o grande desafio do nosso tempo, é o fundamento existencial da relação humana, que tem o poder de fazer passar tal relação da essencial à existência, do intemporal (sem tempo) ao histórico. O destinatário assim procede em direção à meta de se tornar, não somente o que recebe comunicação, mas também que comunica. É um sujeito que procura e cria, determinado aprender a ser. É um laboratório de cor, sentimento, fantasia, razão, que o faz sujeito receptor e transmissor no mesmo tempo.

Como destinatário da comunicação audiovisual e digital, vive hoje imergido numa realidade flutuante, composta e heterogenia, experimentado o assim chamado conhecimento empírico. No entanto, não pode se tornar um recipiente, mas um filtro. Este é o desafio que se apresenta hoje. Porém, não podemos negar a grande importância que têm os instrumentos da comunicação social em promover a unidade e o progresso da família humana.
A Igreja é consciente de tudo isso, como confirma o decreto conciliar Vaticano II, Inter Mirífica (Entre as maravilhas), e o constante magistério pontifício. Da mensagem de S. João Paulo II para a 25ª jornada mundial para as comunicações (A proclamação da mensagem de Cristo nos meios de comunicação), extrai-se a seguinte consideração: “Desde muito tempo, a Igreja considera que a mídia seja vista como dom de Deus. O fim desses dons é a aproximação uns dos outros, mais intimamente na fraternidade e na busca do nosso destino humano. O uso dos meios de comunicação, hoje, a total disposição dos seres humanos, requer um alto sentido de responsabilidade com o qual se faz o seu uso. Neste quadro, cada membro da família humana, desde o mais simples consumidor ao maior produtor, tem sempre uma responsabilidade individual”.

Não obstante, o progresso da tecnologia precisa reconhecer que o nosso tempo, e também a mídia, é marcado por um difuso sentido de insegurança. É a insegurança que gera os seus medos. Em cada época, o ser humano teve os seus medos. Por exemplo, a época da civilização agrícola. Neste sentido, foi justamente relevado que o medo foi induzido pelo mundo externo: medo do cosmo com a sua imprevisibilidade gera insegurança. Isso levava a uma tensão fortemente mirada na busca das leis da natureza para dominar. Nesta perspectiva, a abertura ao religioso era reconhecida e gerava na boa e na má sorte aquela solidariedade que, infelizmente, hoje falta na era midiática.

Passando do medo cosmológico àquele que hoje podemos chamar de medo antropológico, o beneficiado pelas comunicações sociais se acha angustiado por um sentido de desorientação. O tempo da telemática é, portanto, contraposto por um sentido geral de mal estar existencial, que constitui aquilo que chamamos de medo do ser humano contemporâneo. Ocorre, portanto, sermos preparados mentalmente para enfrentar esta situação de poder que seduz e, ao mesmo tempo, faz medo.