Pe. Claudio Pighin

A nossa salvação é deus


A grande verdade que precisamos sempre lembrar é que somos peregrinos nessa terra. Não somos eternos aqui, nesse pequeno planeta! Justamente pelo fato de nós sermos peregrinos somos limitados e marcados muitas vezes pela dor, incompreensões, solidão, tristeza, depressão, dúvidas… O ser humano chega em certos momentos, inclusive, a viver as trevas da vida, que lhe tiram toda esperança e expectativa de futuro. Sente-se injustiçado, abandonado. Há pessoas que nem mais lágrimas descem pelo seu rosto por ter tanto chorado. Nesses momentos humanos cruéis não se tem nem mais forças para quem apelar, se desconfia de tudo e de todos. Pra quem apelar, então? Será que tem alguém ainda? O salmo 42 das Sagradas Escrituras nos dá um testemunho bem forte. Lembra-nos que Deus é Aquele que nunca nos abandona. Ele está sempre de prontidão para nos socorrer. O nosso Deus não dorme e nem descansa para nos atender. É um salmo bem impregnado de saudade; leia atentamente:

“Fazei-me justiça, ó Deus, e defendei minha causa contra uma nação ímpia. Livrai-me do homem doloso e perverso, pois vós, ó meu Deus, sois a minha fortaleza; por que me repelis? Por que devo andar triste sob a opressão do inimigo?

Lançai sobre mim a vossa luz e fidelidade; que elas me guiem, e me conduzam ao vosso monte santo, aos vossos tabernáculos.

E me aproximarei do altar de Deus, do Deus de minha alegria e exultação. E vos louvarei com a cítara, ó Senhor, meu Deus!

Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo: ele é minha salvação e meu Deus.”

Quem reza aqui o salmo 42, parece ser um homem incriminado por pessoas iníquas, que pede a Deus justiça, defesa pela sua incriminação. Ele, um judeu inocente, sente-se injustiçado. Tudo isso lhe provoca grande dor, abandono. Imagino quanta gente ainda hoje passa por esses momentos tão tenebrosos e humilhantes. Esse sofredor, filho de Deus, longe da sua terra, entre pessoas que não conhece, apela ao seu Deus. Confia que o seu Deus, perante tanta dor, não pode estar mudo, calado. Geralmente, quem é injustiçado vive também a solidão. Sente-se como uma pessoa em exilio, longe de todos, um desconhecido. Que dor! Eis aqui o grande ensino desse salmo, do testemunho desse fiel, a confiança em Deus!

Esse fiel levita tem a certeza que Deus vai intervir. O Senhor se torna para ele a ‘verdade’ e a ‘luz’ que o conduzirão à liberdade. A prova da vida é somente um tempo passageiro, um tempo relativo, porque invocando ‘luz e verdade’ para uma verdadeira peregrinação de libertação o fiel do salmo diz: ‘me conduzam ao vosso monte santo, aos vossos tabernáculos.’ Para nós cristãos o ‘monte santo e tabernáculos’ são as igrejas onde se celebra a santa Eucaristia. Chegando ao ‘altar de Deus’ diz o orante: ‘vos louvarei com a cítara, ó Senhor, meu Deus!’ Com essa alegria que o invade pode se tornar firme e não se deixar levar pelo desanimo e tristeza, porque o seu Deus virá ao seu encontro. A sua salvação, então, se tornará uma verdadeira realidade. Ainda hoje quantas pessoas por causa de tanto sofrimento e abandono perdem a própria identidade, parecem estar em perene exílio. Porém, a vontade de sorrir aparece quando descobrem Deus. Uma alegria que vem do Senhor se torna a força de erguer a cabeça e ir em frente. E aqui se resgata a identidade. É nessa identidade que se recompõe a vida da pessoa. O sofrimento, a dor, o abandono perdem o próprio poder na identidade do ser humano com Deus. Veja o que nos diz papa Francisco a respeito: “Se nós – um exemplo – estamos cheios de comida, não temos fome. Se estamos confortáveis, tranquilos onde estamos, nós não precisamos ir para outro lugar. E eu me pergunto, e seria bom que todos nós nos perguntássemos hoje: “Eu estou tranquilo, feliz, e não preciso de nada – espiritualmente falando – no meu coração? A minha saudade se apagou? Um coração que não tem saudade, não conhece a alegria. E a alegria, precisamente, é a nossa força: a alegria de Deus. Um coração que não sabe o que é a saudade, não pode fazer festa..”

Encontrado Deus a pessoa se transforma, se alegra. E daí o papa Francisco continua questionando: “Vamos nos perguntar como é a nossa saudade de Deus: estamos contentes, estamos felizes assim, ou todos os dias temos esse desejo de seguir em frente? Que o Senhor nos conceda esta graça: que nunca, nunca, nunca se apague em nosso coração a saudade de Deus”.

Essa saudade pode nos conduzir à verdadeira justiça que tanto almejamos e que os seres humanos não sabem dar.