Pe. Claudio Pighin

A nova cultura, uma nova religião?


O uso do computador não é um simples instrumento em nossas mãos para efetivar, eficientemente, as nossas mensagens ou trabalhos. O uso desse prodigioso meio leva também a uma nova maneira de pensar e agir. E se formos analisar um programa de computador, concluiremos que não é mais nada que um cálculo algorítmico. E a partir dessa constatação, podemos dizer que a nossa cultura atual é um processo de dados finitos, isto é, algorítmicos. Quais as consequências dessa nova cultura? Parece-me que as pessoas e a mesma sociedade em geral apelam ao computador como a solução pra tudo.

Nota-se uma afinidade e identificação das pessoas com esse procedimento algorítmico. Diria que se tornou quase como se fosse uma súplica do ser humano ao computador, parecida a uma súplica religiosa. Esse uso da tecnologia leva o ser humano a expressar total confiança para alcançar os seus objetivos e interesses cotidianos. Sente-se poderoso na posse desse instrumento matemático. Portanto, não é somente um simples uso eficiente, mas uma fé que permite ter as respostas exaustivas da vida. Esse fideísmo tecnológico, isto é, sem nenhuma racionalização, mas crendo cegamente, torna-se como se fosse uma religião que conduz a escolha ideológicas, fortalecendo a materialidade.

Assim sendo, o racionalismo tecnológico se torna protagonista da vida das pessoas e dos jovens. Porém, esse racionalismo algorítmico tem uns limites que vão da vida religiosa à vida política, da cultura à vida cotidiana. Por que isso? Porque os compromissos e as analogias das aproximações algorítmicas levam geralmente a suprimir tudo aquilo que não se compreende. A partir disso, se compreende como politicamente tudo se torna muito limitado porque se torna razoável somente aquilo que se entende. A nossa sociedade hoje é envolvida nisso e então a verdade é geralmente e exclusivamente pessoal.
Assim é difícil dialogar. Uma politica sem diálogo leva a exasperações e fracassos da sociedade. A mesma coisa na religião, se não se consegue compreender ou se tem a percepção de não ser bem atendido se migra com tanta facilidade para outra religião. Tudo se generaliza e se formaliza, dizendo que mais ou menos tudo é igual. A verdade se torna subjetiva e não objetiva e o pensamento mágico é um claro processo algorítmico. Além do mais, ‘o perigo é raciocinar que o pensamento humano e os processos da computação são como idênticos. Nós confundimos o conhecimento e o significado, o processo e o propósito. O problema, portanto, torna então não a perspectiva de um computador que simule o pensamento humano, mas o impacto desgastante do pensamento computacional sobre o ser humano.’
Efetivamente, se o nosso raciocino é cada vez mais dependente dos sistemas de computação tanto mais deveremos enfrentar processos racionais que estão fora do nosso controle, e mais dependentes da técnica informática. Por isso, com toda sinceridade, confiamos e delegamos a esse processo algorítmico o nosso pensar e agir. De tal modo, a verdadeira ameaça cultural ainda somos nós, porque fomos nós a dar todo esse poder ao processo algorítmico computacional.